sexta-feira, 8 de março de 2024

O Pão da Vida Eterna


    Existe um sagrado alimento que nos põe em Comunhão com Deus. Todo verdadeiro cristão, pois, deve desejar sentar-se à mesa com Seu Filho e Nosso Irmão Jesus Cristo, e servir-se deste Alimento. Contrapondo ao maná comido pelos judeus no deserto, Jesus ensinou: "... Meu Pai é Quem vos dá o verdadeiro Pão do Céu..." Jo 6,32
    E o Pão que Deus nos oferece é o próprio Jesus, o Verbo Encarnado, o Pão da Vida Eterna, pois nossa Salvação vem por Sua Carne e por Seu Sangue. Ele disse: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
    De fato, como a Encarnação de Deus na Pessoa de Jesus foi um fenômeno sobrenatural, assim também se dá com Sua presença na Hóstia Consagrada, que recebemos na Santa Missa. Ambas manifestações de Deus são obras do Espírito Santo: a primeira deu-se através de Nossa Mãe Maria Santíssima, e a segunda dá-se através da Santa Eucaristia.
    Logo, para vivermos a Vida Plena que Deus nos oferece, precisamos estar em Comunhão com a Santíssima Trindade, precisamos do Espírito de Deus agindo em nós, como São Paulo diz: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    Porque não há Vida Plena se não nos alimentarmos do Corpo de Cristo. Falando em terceira Pessoa, são palavras de Nosso Salvador: "... se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53
    Para tanto, Ele mesmo instituiu a Eucaristia na Santa Ceia: "Em seguida, tomou o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.'" Lc 22,19
    Isso se deu pouco antes de Jesus ser glorificado, e foram decisivos instantes de Sua Missão e para a Redenção da humanidade: "Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer.'" Lc 22,14-15
    E no Domingo da Ressurreição, antes de aparecer ao Colégio dos Apóstolos, Ele só Se revelou aos dois discípulos que tomaram o caminho de Emaús quando partiu o Pão: "Aconteceu que, estando sentado juntos à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-lhO. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram... mas Ele desapareceu." Lc 24,30-31
    Essa memória, portanto, como sinal de perfeito acolhimento do testemunho dos Apóstolos, foi muito bem preservada por discípulos e seguidores desde o início, como se vê logo após o Pentecostes: "Eles perseveravam na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do Pão e nas orações." At 2,42
    E eles celebravam-na aos 'domingos', que significa Dia do Senhor, nome que deram ao Dia da Ressurreição: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se no meio deles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!' Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor." Jo 20,19-20
    É o que se constata da prática de evangelização de São Paulo e São Lucas: "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o Pão..." At 20,7
    São João Evangelista, com efeito, vai usar exatamente esse termo para designar o dia em que foi agraciado com celestiais visões. Pudera, era o dia da maior e mais patente manifestação de Deus à humanidade, da Ressurreição de Deus feito homem: "No Dia do Senhor, fui arrebatado em êxtase e ouvi, por trás de mim, uma forte voz como de trombeta..." Ap 1,10
    Ora, o próprio Jesus aparecia aos Colégio dos Apóstolos no primeiro dia da semana, como foi a segunda aparição: "Oito dias depois, outra vez estavam Seus discípulos no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,26
    Eram, de fato, aparições em carne e ossos, como Ele demonstrou: "'Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho.' E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas, ainda vacilando eles e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Então Lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,39-43
    E São Paulo, com propriedade, afirma que a Comunhão Eucarística é o principal instrumento da Unidade da Igreja: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17
    Afirma que tal celebração se dá quando revivemos e atualizamos o Sacrifício de Cristo: "Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice, lembrais a morte do Senhor, até que Ele volte." 1 Cor 11,26
    Pois Ele é Nossa Páscoa, nossa passagem para a Terra Santa, para a Vida Eterna: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, pois, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os Pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
    E o Último Apóstolo assim tratava de ensinar por onde passava, como explicou aos coríntios, garantindo-lhes a fidelidade à Sagrada Tradição: "Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-O e disse: 'Isto é Meu Corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo, depois de haver ceado, também tomou o cálice, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue. Todas vezes que O beberdes, fazei-o em memória de Mim.'" 1 Cor 11,23-25
    Mas ele também adverte que não confundamos a Santa Eucaristia com qualquer outro rito: "Não podeis beber ao mesmo tempo o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,21-22


"FELIZES OS CONVIDADOS"

    Ele fala da necessária penitência para que se esteja em dia com os Mandamentos de Deus, e assim possamos participar da Comunhão Eucarística: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    Pois a verdadeira fé se vive perante os olhos de Deus, como São Paulo pedia a todos: "... que guardem o mistério da fé numa pura consciência." 1 Tm 3,9
    Ele mesmo dava exemplo, como alegou em sua defesa perante Felix e os principais dos judeus, quando foi julgado em Cesareia: "Por isso, sempre procuro ter sem mácula minha consciência diante de Deus e dos homens." At 24,16
    Porque nosso Batismo, antes de tudo, é um pedido a Deus em virtude da Ressurreição de Cristo, como São Pedro argumenta: "Esta Água prefigurava o Batismo de agora, que também salva a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma boa consciência, pela Ressurreição de Jesus Cristo." 1 Pd 3,21
    E nós nada podemos sem a Graça, pela qual São Paulo exulta: "A razão da nossa Glória é esta: o testemunho de nossa consciência de que, no mundo e particularmente entre vós, temos agido com santidade e sinceridade diante de Deus, não conforme o espírito de sabedoria do mundo, mas com o socorro da Graça de Deus." 2 Cor 1,12
    Eis, pois, que os seguidores de sua tradição exaltam a inestimável dádiva que é o Sacrifício Pascal, que nos redime de todos pecados: "... quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Eterno Espírito Se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus Vivo?" Hb 9,14b
    Porque quem bem se examina, deve confessar e pedir absolvição aos Sacerdotes da Igreja, conforme o Sacramento que Jesus também instituiu pelo Espírito Santo: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Ora, os judeus também tinham restrições sobre quem poderia comer das coisas sagradas, como Deus disse a Abraão: "Também te dou as primícias que os israelitas oferecerem ao Senhor: o melhor de seu óleo, de seu vinho e de seu trigo. Serão para ti as primícias dos produtos da terra que trouxerem ao Senhor. Todo membro de tua família, que estiver puro, delas poderá comer." Nm 18,12-13
    Quanto aos castigos a quem desrespeita a Comunhão, havia paralelo na história do povo de Deu, como São Paulo aponta: "Não quero que ignoreis, irmãos, que todos nossos pais estiveram debaixo da nuvem e que todos atravessaram o mar. Todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, todos comeram do mesmo alimento espiritual, todos beberam da mesma bebida espiritual, pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia, e essa pedra era Cristo. Não obstante, a maioria deles desgostou a Deus, pois seus cadáveres cobriram o deserto. Estas coisas aconteceram para servir-nos de exemplo, a fim de não cobiçarmos más coisas, como eles as cobiçaram." 1 Cor 10,1-6
    E assim, por não acolherem Jesus como o Cristo, os judeus terminaram afastados da Santa Eucaristia. Invocando o Antigo Testamento como um convite, Nosso Salvador afirmou na parábola da grande ceia: "Pois digo-vos: nenhum daqueles homens que foram convidados provará Minha Ceia." Lc 14,24
    No episódio em que multiplicou os 5 pães e os 2 peixes para a multidão, de fato, Ele apontou a mundana ânsia da mera e física saciação: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: buscais-Me não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos Pães e ficastes fartos." Jo 6,26
    Instou-nos, portanto, a buscar o Sagrado Alimento: "Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal." Jo 6,27
    E como para São Pedro, Seu Sumo Pontífice, foi claramente dito, os Sacerdotes da Igreja não podem descuidar dessa vital obrigação: "Disse-Lhe Pedro: 'Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?' O Senhor replicou: 'Qual é o sábio e fiel administrador que o Senhor estabelecerá sobre Seus operários para a seu tempo dar-lhes sua medida de trigo? Feliz daquele servo que o Senhor assim achar procedendo, quando vier! Em Verdade, digo-vos: confiá-lhe-á todos Seus bens.'" Lc 12,41-44
    Não por acaso, no Pai Nosso, ainda que também Se referindo ao diário alimento, Ele ensinou-nos a pedir: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11
    Pois sobre o alimento propriamente dito, Ele já havia citado o Deuteronômio, quando por Satanás foi tentado no deserto: "Está escrito: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra de Deus (Dt 8,3).'" Lc 4,4
    E criticando aqueles que em demasia se preocupam com as vísceras, Ele foi contundente: "Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, Vosso Pai Celeste sabe que necessitais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo." Mt 6,25.31-33
    Alertando para nossas obrigações de cristãos, disse mais: "Tenho um alimento para comer que vós não conheceis. Meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e cumprir Sua obra." Jo 4,32.34
    Porque a obra do Pai é espiritual: "Perguntaram-Lhe: 'Que faremos para praticar as obras de Deus?' Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,28-29
    É conceder-nos a Vida Eterna, como Jesus descreveu o Evangelho: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E Eu sei que Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,49-50a
    E isso Ele realiza através do Santíssimo Sacramento, que ofereceu na Santa Ceia: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir Minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, Eu com ele e ele Comigo." Ap 3,20
    Uma vez nos Céus, porém, o alimento será outro, da própria árvore da Vida de que fala o livro do Gênesis. Jesus prometeu ao Amado Discípulo no livro do Apocalipse: "'Ao vencedor darei de comer do fruto da árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus.' O anjo então mostrou-me um rio de Água Viva, resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da Vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas da árvore para curar as nações." Ap 2,7;22,1-2
    Pois ela é a árvore da própria Vida Eterna, como se lê logo após a sedução de Eva pela Serpente: "E o Senhor Deus disse: 'Eis que o homem se tornou como um de Nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda sua mão e também tome do fruto da árvore da Vida, e coma-o e viva eternamente.'" Gn 3,22
    O Arcanjo São Rafael, aliás, deu este singular detalhe sobre a alimentação dos anjos, falando a Tobit e seu filho, Tobias: "Parecia-vos que convosco eu comia e bebia, mas meu alimento é um invisível manjar, e minha bebida não pode ser vista pelos homens." Tb 12,19
    E a entrada dos eleitos na Vida Eterna terá a festividade de um indizível banquete, como o Cordeiro de Deus ordenou a São João Evangelista: "Escreve: 'Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro.'" Ap 19,9
    Mas enquanto aqui na terra, e sobre a necessária 'digestão' da Palavra de Deus, São Paulo vai dizer aos inconstantes: "Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais." 1 Cor 3,2
    Os seguidores de sua tradição também reclamavam: "Muita coisa teríamos a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus, e tornaste-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-14
    São Pedro, no mesmo sentido, vai falar de outro leite: "Deponde, pois, toda malícia, toda astúcia, fingimentos, invejas e toda espécie de maledicência. Como recém-nascidas crianças, com ardor desejai o leite espiritual, que vos fará crescer para a Salvação..." 1 Pd 2,1-2
    Com efeito, os últimos 20 anos da vida de São Nicolau de Flüe, nos quais apenas se alimentou da Hóstia Consagrada, demonstram que só o Pão do Céu é realmente essencial. Assim também foram as experiências da estigmata alemã Teresa Neumann e da Beata Alexandrina Maria da Costa, que viveram no século passado.
    Se realmente quisermos viver, portanto, temos o Sacrifício Pascal oferecido por Jesus: "Eu sou o Pão da Vida..." Jo 6,35
    A multidão, que havia comido dos pães e dos peixes multiplicados, bem entendeu Sua mensagem: "Senhor, dá-nos sempre deste Pão!" Jo 6,34

    "Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"