domingo, 28 de maio de 2023

O Pentecostes


    O Pentecostes, na tradição judaica, é a festa que comemora o dia em que Moisés recebeu de Deus as Tábuas da Lei, no Monte Sinai. Também é chamada de Festa das Semanas, porque acontece sete semanas após a data da saída do Egito, e é comemorada no primeiro dia da oitava. São, pois, cinquenta dias, daí o nome grego "Pentecostes", que significa quinquagésimo. E por causa da estação do ano, ainda é chamada pelos judeus de Festa da Colheita, da Sega ou da Primícia dos Frutos.
    Assim como as Tábuas da Lei, portanto, Deus prometeu uma nova e ainda maior Revelação, e que didaticamente se cumpriria também num dia de Pentecostes: a Nova Aliança, anunciada por Jesus e consumada pela Vinda do Espírito Santo. Está no livro do Profeta Jeremias: "'Dias hão de vir,' Oráculo do Senhor, 'em que firmarei Nova Aliança com as casas de Israel e de Judá. Será diferente da que concluí com seus pais, no dia em que pela mão os tomei para tirá-los do Egito, Aliança que violaram embora Eu fosse o Esposo deles. Eis a Aliança, então, que farei com a casa de Israel.' Oráculo do Senhor: 'Incutir-lhe-ei Minha Lei; gravá-la-ei em seu coração. Serei Seu Deus e Israel será Meu povo.'" Jr 31,31-33
    Se, por mais falar-se, mais conhecemos a Deus Pai e a Deus Filho, também devemos uma especial atenção ao Divino Espírito, Cuja Vinda deu novo significado ao Pentecostes. 'Surpresa' guardada por Deus, assim como o próprio Jesus, para a plenitude dos tempos, Ele já aparecia, sempre sutilmente, desde as primeiras linhas das Escrituras: "... o Espírito de Deus pairava sobre as águas." Gn 1,2
    Mas a humanidade caiu em pecado, como sabemos, e assim levou Deus a essa decisão, tomada ainda antes do dilúvio: "Meu Espírito não permanecerá para sempre no ser humano, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será de cento e vinte anos." Gn 6,3
    Entretanto, mesmo que de episódico modo, o Divino Paráclito notoriamente continuava agindo sobre aqueles que eram fiéis aos planos de Deus: "Moisés saiu e referiu ao povo as palavras do Senhor. Reuniu setenta homens dos anciãos do povo e colocou-os em volta da Tenda. O Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Tomou uma parte do Espírito que o animava e pô-la sobre os setenta anciãos. Apenas repousara o Espírito sobre eles, começaram a profetizar, mas não continuaram." Nm 11,24-25
    Assim também se deu com o rei Saul, enquanto era preparado pelo Profeta Samuel: "À entrada da cidade encontrarás um grupo de Profetas descendo do alto lugar, precedidos de saltérios, de tímpanos, de flautas e de cítaras, profetizando. O Espírito do Senhor também virá sobre ti, profetizarás com eles e tornar-te-ás um outro homem." 1 Sm 10,5b-6
    E falando sobre a teimosia do povo de Israel, Neemias assentiu perante Deus: "Vossa paciência para com eles durou muitos anos. Vós fazíeis-lhes admoestações pela inspiração de Vosso Espírito, que animava Vossos Profetas." Ne 9,30a
    Mesmo estrangeiros percebiam Sua ação, como foi o caso do faraó e da nobreza do Egito, referindo-se a São José do Egito, filho de Jacó: "'Poderíamos', disse-lhes ele, 'encontrar um homem que tenha, tanto quanto este, o Espírito de Deus?'" Gn 41,38
    E no livro da Sabedoria, o sagrado autor bem demonstra saber como e a Quem recorrer: "Que homem, pois, pode conhecer os desígnios de Deus, e penetrar nas determinações do Senhor? E quem conhece Vossas intenções, se Vós não lhe dais a Sabedoria, e se do mais alto dos Céus Vós não lhe enviais Vosso Espírito Santo?" Sb 9,13.17
    Até já descrevia Seu agir: "A Sabedoria não entrará na perversa alma, nem habitará no corpo sujeito ao pecado. O Espírito Santo Educador das almas fugirá da perfídia, afastar-Se-á de insensatos pensamentos, e a iniquidade que está por vir O repelirá." Sb 1,4-5
    Passados alguns séculos, contudo, Deus, através do Profeta Ezequiel, prometeu reunir Seu povo. Era a Unidade da Igreja, que o Espírito Santo iria realizar através da Comunhão: "... Eu dá-lhes-ei um só coração e animá-los-ei com um Novo Espírito. De seu corpo extrairei o coração de pedra para substituí-lo por um coração de carne, a fim de que observem Minhas Leis, guardem e pratiquem Meus Mandamentos, sejam Meu povo e Eu, Seu Deus." Ez 11,19-20
    Assim prometia que, em mais notória revelação, daria Nova Vida aos Seus fieis: "... quando Eu derramar em vós Meu Espírito para fazer-vos voltar à Vida, e quando hei de restabelecer-vos em vossa terra, então sabereis que Eu sou o Senhor..." Ez 36,14
    E que, pela Nova Aliança firmada por Jesus, o Divino Paráclito definitivamente permaneceria entre nós. Deus disse através do Profeta Isaías: "'Mas virá como Redentor a Sião e aos arrependidos filhos de Jacó,' Oráculo do Senhor. 'Eis Minha Aliança com eles', diz o Senhor: 'Meu Espírito, que sobre ti repousa, e Minhas Palavras, que coloquei em tua boca, não deixarão teus lábios nem os de teus filhos, nem os de seus descendentes', diz o Senhor, 'desde agora e para sempre.'" Is 59,20-21
    Com efeito, Jesus vai garantir aos Apóstolos, e assim a Igreja: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    Mas, como visto, já era por inspiração do Espírito de Deus que Profetas e homens Santos escreviam o Antigo Testamento. São Pedro afirma: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram Oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo, e as Glórias que deviam segui-los." 1 Pd 1,10-11
    Também assim foi durante a própria passagem de Jesus entre os Apóstolos, como São Lucas registrou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, Suas instruções aos Apóstolos que escolhera." At 1,1a-2
    E desta forma tem sido desde então. São Paulo escreve aos efésios: "Lendo-me, podereis entender a noção que me foi concedida do Mistério de Cristo, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus Santos Apóstolos e profetas." Ef 3,4-5
    Alegando o Sacramento da Crisma, portanto, São João Evangelista garante: "Vós, porém, tendes a Unção do Santo e sabeis todas coisas. Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se em vós permanecer o que ouvistes desde o princípio, vós também permanecereis no Filho e no Pai. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine. Mas, como Sua Unção vos ensina todas coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei n'Ele, como ela vos ensinou." 1 Jo 2,20.24.27b


O SALVADOR ANUNCIA O ESPÍRITO DA PROMESSA

    Cumpriram-se, então, os tempos, e veio São João Batista para preparar o povo para a Vinda do Salvador. O Arcanjo São Gabriel, ao anunciar seu nascimento a Zacarias, seu pai, deixou informado Quem moveria este arauto: "... e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo..." Lc 1,15
    Tal unção deu-se através de Nossa Mãe Celeste, a Esposa do Divino Paráclito: "Naqueles dias, Maria levantou-se e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas ouviu Isabel a saudação de Maria, a criança estremeceu em seu seio, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo." Lc 1,39-41
    Pois ao receber a Anunciação, Nossa Senhora ouviu de São Gabriel como se daria a Encarnação do Salvador: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolver-te-á com Sua sombra. Por isso, o Santo Ente que de ti nascer será chamado Filho de Deus." Lc 1,35
    E quando São João Batista batizou Jesus, lá estava o Santo Paráclito completando a primeira manifestação pública da Santíssima Trindade: o Pai falando do Céu, o Filho Encarnado e o Espírito como uma pomba: "Depois que Jesus foi batizado, logo saiu da água. Eis que os Céus se abriram e viu-se descer sobre Ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do Céu ouviu-se uma voz: 'Eis Meu Amado Filho, em Quem ponho Minha afeição.'" Mt 3,16-17
    Ao iniciar Sua vida pública, pois, na sinagoga Jesus leu uma profecia do livro do Profeta Isaías, que na verdade era o discurso inaugural de Sua Missão, antecipado pelas Escrituras ao povo de Deus havia sete séculos: "O Espírito do Senhor repousa sobre Mim, porque o Senhor Me consagrou pela Unção. Enviou-Me a levar a Boa Nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar o Ano da Graça do Senhor, e um dia de vingança de Nosso Deus; para consolar todos aflitos..." Is 61,1-2
    Porém, pouco antes de Sua Paixão, avisou que nem todas revelações seriam feitas por Ele mesmo, mas que o Divino Paráclito as arremataria: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
    Com razão, eram pouco mais de três anos que Jesus estava na companhia dos Apóstolos, e eles já tinham esquecido algumas coisas e ainda precisavam entender outras. Mas Ele garantia que tudo seria recordado e todos esclarecimentos seriam feitos pelo Espírito de Deus: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26
    Até ajudaria os Apóstolos a testemunhá-Lo nos mais difíceis momentos: "Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de Vosso Pai que falará em vós." Mt 10,20
    Sua Paixão, aliás, era condição para a Vinda do Divino Espírito: "Entretanto, digo-vos a Verdade: a vós convém que Eu vá! Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-vo-Lo-ei." Jo 16,7
    Todavia, devido aos pecados sem o devido arrependimento, Ele não é derramado sobre todos, mas apenas sobre a Igreja. Jesus disse: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
    Por isso, a mera leitura da Palavra de Deus sem os auxílios do Santo Espírito, ou seja, a tentativa de compreensão das Escrituras sem a assistência da Igreja, leva tão somente ao erro e à morte. São Paulo diz deste Ministério, exclusivamente dado por Jesus: "Ele é que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    Por isso, exige a devida reverência aos membros da Igreja: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Espírito Santo." 1 Ts 4,8
    São Pedro, de fato, com toda sua autoridade vetou qualquer pessoal entendimento das Escrituras. Ou seja, só a interpretação dada pelo próprio Espírito da Verdade, Aquele que inspirou os sagrados livros, deve prevalecer: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de humana vontade. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,20-21
    E assim a verdadeira Palavra de Deus vem sendo anunciada. Falando sobre os Profetas, o Príncipe dos Apóstolos diz aos cristãos: "Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas, que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,12
    Ora, o Espírito Santo é o próprio Deus, e só Ele pode iluminar-nos para a Verdade que liberta. São Paulo diz: "... o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade." 2 Cor 3,17
    Verdade essa que é o próprio Jesus, o Verbo Encarnado, o Único que nos leva a Deus: "Jesus respondeu-lhe: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.'" Jo 14,6
    E é fazendo-nos compreender Sua Palavra, isto é, mediante nossa prévia obediência, que Ele nos liberta: "Portanto, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres." Jo 8,38
    Sem dúvida, Santo Estevão, ao condenar o Sinédrio, diz que aqueles que não acolhem Jesus e Sua Igreja estão em oposição ao Espírito de Deus: "Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo." At 7,51
    Pois só Ele pode revelar propriamente as coisas de Deus, como o Apóstolo do Gentios diz aos coríntios: "Assim também as coisas de Deus: ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus." 1 Cor 2,11
    É por Ele que todas Graças nos são derramadas, segundo os seguidores de sua tradição: "... o Espírito Santo, Autor da Graça!" Hb 10,29
    É por Ele que se alcança a santidade, cuja finalidade São Pedro diz aos fiéis: "... eleitos segundo a presciência de Deus Pai e santificados pelo Espírito para obedecer a Jesus Cristo..." 1 Pd 2a
    Jesus foi bem explícito ao dizer como o Santo Paráclito cumpriria Sua missão, abrindo-nos os olhos à Verdade: "E, quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo." Jo 16,8
    E depois de ressuscitado, em Sua última aparição ao colégio dos Apóstolos Ele disse: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei em Jerusalém até que sejais revestidos da força do alto." Lc 24,49
    Por isso, falando sobre o Pentecostes que acabara de acontecer, São Pedro assegurou aos peregrinos em Jerusalém: "... Jesus recebeu do Pai o Espírito Prometido e derramou-O, como estais vendo e ouvindo." At 2,33
    O Paráclito, pois, como São Paulo afirma, é a própria garantia da Salvação: "N'Ele (Cristo) também vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor da Sua Glória." Ef 1,13-14
    Ele assim explica o Pentecostes aos romanos: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo... O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se é que o Espírito de Deus realmente habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,2a.3-4.9.13-14
    O cumprimento dessa promessa, portanto, marcaria um novo tempo, o tempo do Espírito Santo, o tempo da Igreja. De fato, em Suas últimas Palavras, ou seja, pouco antes de Sua Ascensão aos Céus, Jesus vai dizer: "... descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria, e até os confins do mundo." At 1,8
    Aliás, na Festa das Tendas, conforme São João Evangelista, Ele já havia prometido esse indizível dom: "No último dia, que é o principal dia de Festa, estava Jesus de pé e clamava: 'Se alguém tiver sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura: De seu interior manarão rios de Água Viva (Zc 14,8; Is 58,11).' Dizia isso referindo-Se ao Espírito que haviam de receber os que n'Ele cressem, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado." Jo 7,37-39

O NASCIMENTO DA IGREJA

    No livro dos Atos dos Apóstolos, São Lucas deu mais detalhes da última aparição de Jesus aos Onze, antes de iniciar a caminhada final até Betânia, onde ocorreria a Ascensão: "E a eles manifestou-Se vivo depois de Sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus. E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de Seu Pai, 'que ouvistes', disse Ele, 'da Minha boca. Porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.'" At 1,3-5
    Cinquenta dias após a Páscoa da Ressurreição, por fim, chegou o grande momento. A confusão de línguas da Torre de Babel seria desfeita, a Igreja já nasceria católica, quer dizer, universal, falando a todas nações, pois através dela o Espírito de Deus manifestou-Se por completo, e em profusão a humanidade voltou a experimentar a natureza divina: "Todos eles unanimemente perseveravam na oração, e com eles as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele. Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, do céu veio um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram, então, umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem." At 1,14;2,1-4


    E como São Pedro iria invocar em pregação aos israelitas que ali acorreram, deu-se o cumprimento da profecia de Joel: "Depois disso, derramarei Meu Espírito sobre todos viventes, e vossos filhos e as filhas tornar-se-ão profetas. Entre vós, os velhos terão sonhos e os jovens terão visões! Nesses dias, até sobre escravos e escravas derramarei Meu Espírito!" Jl 3,1-2
    Assim, movida por tão poderosa Graça, a força da Igreja tornava-se irresistível. Muitos religiosos judeus eram tocados: "Grande número de sacerdotes também aderia à ." At 6,7
    E como previsto por Jesus, que disse que o testemunho dos Apóstolos se daria na Judeia, na Samaria e nos confins da terra, veio em seguida o 'Pentecostes dos Samaritanos': "Os Apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles, mas somente tinham sido batizados em Nome do Senhor Jesus. Então os dois Apóstolos impuseram-lhes as mãos e receberam o Espírito Santo." At 8,14-17
    E assim, através dos auxílios do Santo Paráclito, a Igreja estabeleceu-se e cresceu: "A Igreja então gozava de Paz por toda Judeia, Galileia e Samaria. Ela estabelecia-se caminhando no temor do Senhor, e a assistência do Espírito Santo fazia-a crescer em número." At 9,31
    Por fim, sempre sobre a guia do Espírito de Deus e mais uma vez através da pregação de São Pedro, em breve também os não judeus, ou seja, os povos dos 'confins da terra' participariam da Comunhão Espiritual: "Enquanto Pedro refletia sobre a visão, disse-lhe o Espírito: 'Eis aí três homens que te procuram. Levanta-te! Desce e vai com eles sem hesitar, porque sou Eu Quem os enviou.'" At 10,19-20
    Era o "Pentecostes dos Gentios", que se deu na casa de Cornélio: "Ainda estando Pedro a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos que ouviam a Santa Palavra. Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente admiraram-se vendo que o dom do Espírito Santo também era derramado sobre os pagãos, pois eles ouviam-nos falar em outras línguas e glorificar a Deus. Pedro então tomou a palavra: 'Porventura pode-se negar a Água do Batismo a estes que receberam o Espírito Santo como nós?'" At 10,44-47
    Sim, pois a pregação dos Apóstolos não eram só palavras, como São Paulo atesta em carta aos tessalonicenses: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5
    Ele é a força que auxiliava os Apóstolos a testemunhar a Ressurreição de Jesus, como visto perante o Sinédrio, porque a obediência a Deus é inalienável condição para recebê-Lo: "Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Antes importa obedecer a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato, nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem.'" At 5,29-32
    Desde o nascimento da Igreja, portanto, os caminhos são decididos por Ele: "Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: 'Separai-Me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado.' Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as mãos e despediram-nos." At 13,2-3
    Pelo sim e pelo não: "Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu." At 16,7
    Principalmente nos assuntos de alta relevância, como aconteceu no Concílio de Jerusalém. São Tiago Menor vai concluir: "Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Ele é que constitui os diferentes graus dos sacerdócios, como São Paulo disse aos Anciãos de Éfeso: "Cuidai de vós mesmos e de todo rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com Seu próprio Sangue." At 20,28
    Ele é Deus de amor manifestando-Se em Sua plenitude: "Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." Rm 5,5
    É Ele que nos concede a Comunhão Espiritual: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    O Amado Discípulo assegura: "Se mutuamente nos amarmos, Deus permanece em nós e Seu amor é perfeito em nós. Nisto é que conhecemos que estamos n'Ele e Ele em nós, por Ele ter-nos dado Seu Espírito." 1 Jo 4,12b-13
    Essa Comunhão, porém, só é possível através do perdão dos pecados exclusivamente concedido pela Igreja, conforme prescrição de Jesus, que o ministra por ação de Seu Espírito, soprado por Ele mesmo sobre Seus escolhidos para este fim: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Por isso, ainda no dia do Pentecostes, São Pedro exigia a devida penitência: "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,38
    Dos já convertidos, São Paulo exigia o devido respeito: "Ou não sabeis que vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que em vós habita, o Qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?" 1 Cor 6,19
    Diz que Ele é nossa via de acesso à Igreja: "É n'Ele (Cristo) que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,22
    Lembrando a garantia que Ele representa, pedia mais: "Não contristeis o Santo Espírito de Deus, com o Qual estais selados para o Dia da Redenção." Ef 4,30
    Referindo-se aos ensinamentos de Jesus, São João Evangelista afirma que Ele é a marca de todo cristão: "Quem observa Seus Mandamentos permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    E também menciona a obediência à Igreja: "Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,6b
    É o Paráclito, enfim, que, além da Comunhão Eucarística, distribui os dons de Deus: "Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como Lhe apraz." 1 Cor 12,11
    E todos eles são-nos concedidos especificamente para a construção da Igreja, que é uma só: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Por isso, como vimos, São Paulo diz: "Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,9
    Ora, ele avisou que sem os auxílios do Santo Paráclito sequer podemos reconhecer que Jesus é Deus: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    De fato, como o Profeta Zacarias previu, é Ele que nos faz olhar com outros olhos para o Crucificado: "Derramarei um Espírito de Graça e oração sobre a casa de Davi e sobre os moradores de Jerusalém, e eles olharão para Mim. Quanto Àquele que transpassaram, chorarão por Ele como se chora pelo único filho. Amargamente vão chorá-Lo, como se chora por um primogênito." Zc 12,10
    Esse 'Batismo' do Pentecostes também havia sido previsto por São João Batista, que disse a seus discípulos: "Eu batizo-vos com água, em sinal de penitência, mas Aquele que virá depois de mim é mais poderoso que eu e nem sou digno de carregar Seus calçados. Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e em fogo." Mt 3,11
    E as línguas de fogo sobre as cabeças dos membros da Igreja foram mencionadas por Jesus: "Vim trazer fogo à terra, e quanto desejaria que já estivesse aceso!" Lc 12,49
    Fogo esse que inicialmente nos vem por Sua Palavra, com o poder de Seu Espírito, como foi aceso no coração dos discípulos que iam a Emaús no Domingo da Ressurreição: "Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e explicava as Escrituras?" Lc 24,32
    São Paulo, pois, zelosamente cuidando da missão da Igreja, trata de exortar-nos: "Não extingais o Espírito." 1 Ts 5,19
    Porque se o ministério de Moisés foi grandioso graças às Tábuas da Lei, ele compara: "... quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito?" 2 Cor 3,14
    Sem o Espírito de Deus, portanto, não temos Vida. E, olhando para o mundo, vemos como nos falta ser insuflada uma verdadeira renovação... Cantemos, pois, com o Salmista: "Todos esses seres esperam de Vós que lhes deis de comer em seu tempo. Vós dai-lhes e eles recolhem-no; abris a mão, e fartam-se de bens. Se desviais o rosto, eles perturbam-se; se retirai-lhes o sopro, expiram e voltam ao pó donde saíram. Se enviais, porém, Vosso Espírito, eles revivem e renovais a face da terra." Sl 103,27-30

    "Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de Vossos fiéis e acendei neles o fogo de Vosso amor! Enviai, Senhor, Vosso Espírito, e tudo será recriado. E renovareis a face da terra!"