terça-feira, 12 de setembro de 2023

Santíssimo Nome de Maria


    "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o Nome da virgem era Maria." Lc 1,26-7
    Foi assim, com doçura, que São Lucas, o Evangelista do Espírito Santo, citou o Nome da Mãe de Nosso Senhor pela primeira vez.
    Profetiza de primeiríssima grandeza, ela já sabia, desde a visita do Arcanjo São Gabriel, que seu Santíssimo Nome seria evocado em toda Terra e nos Céus. Ela inspiradamente cantou no Magnificat: "Por isto, desde agora todas gerações proclamar-me-ão bem-aventurada..." Lc 1,48
    E todos nós somos testemunhas do cumprimento dessa profecia, e portanto de sua plena validade, pois sua bem-aventurança é mundialmente reconhecida. Ademais, o livro do Deuteronômio já previa: "Quando o Profeta tiver falado em Nome do Senhor, se o que ele disse não se realizar, é que essa palavra não veio do Senhor." Dt 18,22a
    Esse feito era antecipadamente cantado num salmo que aponta Maria como Rainha, dizendo que, por sua perfeita piedade, seus autênticos filhos, os Santos e Sacerdotes, reinariam sobre a terra, e que seu Santíssimo Nome seria eternamente celebrado: "Vosso trono, ó Deus, é eterno. De equidade é Vosso cetro real. ... posta-se à Vossa direita a Rainha, ornada de ouro de Ofir. Ouve, filha, vê e presta atenção: esquece teu povo e a casa de teu pai. De tua beleza encantar-Se-á o Rei. Ele é Teu Senhor, rende-Lhe homenagens. Tomarão teus filhos o lugar de teus pais, e tu estabelecê-lo-ás príncipes sobre toda terra. Celebrarei Teu Nome através das gerações, e os povos eternamente louvá-te-ão." Sl 44,7.10b-12.17-18
    Falando pela Sabedoria, mas bem traduzindo o que Nossa Senhora representa, também está no Eclesiástico: "A memória de meu nome durará por toda série dos séculos." Eclo 24,28
    Desde 1513, pois, celebra-se na Espanha o Santíssimo Nome de Nossa Senhora. Em 1638, o Papa Inocêncio XI estendeu a celebração ao mundo todo. Por si só, seu nome é uma oração, e das mais belas. Abre-nos as portas do Céu.
    Por algum tempo de Sua vida pública, o Nome de Maria foi a principal referência do próprio Jesus entre Sua gente: "Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria?" Mc 6,3a
    Tão singular e sagrado é seu nome que o Arcanjo São Gabriel não o pronunciou em suas primeiras palavras, ao cumprimentá-la, preferindo chamá-la de 'agraciada': "Ave, agraciada, o Senhor é contigo." Lc 1,28
    Aliás, São João Evangelista, Apóstolo que com ela mais conviveu e melhor conheceu-a, vivendo os alvores do Ministério da Mulher Coroada, jamais menciona seu nome, seja em seu Evangelho, em suas epístolas ou no livro do Apocalipse. A ela refere-se como 'Sua Mãe' ou 'a mulher', como o fez o próprio Jesus no episódio da transformação da água em vinho (Jo 2,4), certamente para relacioná-la com 'a mulher' que esmaga a cabeça da serpente, como previsto no Gênesis (Gn 3,15).
    E tão humilde, mas absolutamente afeita às celestiais manifestações, Maria não estranhou a aparição do Arcanjo, apenas não entendeu a que se devia tão solene reverência: "Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria semelhante saudação." Lc 1,29
    O Arcanjo Gabriel, entretanto, como não poderia deixar de evocar seu Santíssimo Nome, logo em seguida empregou-O com distinção, na primeira oportunidade, ao explicar-lhe a Graça que recebera. E ele vai usar a mais marcante expressão dos bíblicos livros para designar uma grande benção e os divinos auxílios: 'encontrar Graça diante de Deus': "Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus." Lc 1,30
    Neste momento, foi-lhe comunicada a maior Graça que ser humano algum jamais alcançou: ser a carne e o sangue da Carne e do Sangue do Salvador. E nem de longe alguém conviveu com Jesus por tanto tempo quanto ela: foram mais de 33 anos da mais expressiva intimidade, a relação de mãe e filho: "Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e chamá-Lo-ás pelo Nome de Jesus. Ele tornar-Se-á grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim." Lc 1,31-33
    Como era consagrada, porém, fato com o qual São José consentiu, Nossa Mãe Celestial vai advertir São Gabriel de seu voto de virgindade: "Maria perguntou ao anjo: 'Como se fará isso, pois não conheço homem?'" Lc 1,34
    Mas ele, citando o exemplo de Santa Isabel, explicou-lhe que seria um milagre: "Respondeu-lhe o anjo: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolvê-te-á com Sua sombra. Por isso, o Santo Ente que de ti nascer será chamado Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também concebeu um filho em sua velhice. E já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.'" Lc 1,35-37
    Embora com modéstia, mas sem vacilar por um instante sequer, Nossa Santíssima Mãe calorosamente acatou sua sagrada missão: "Eu sou a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra." Lc 1,38a
    Desde então sua voz mostrou-se poderosa. Santa Isabel e São João Batista, ainda no ventre de sua mãe, receberam o Espírito Santo através de sua palavra: "Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu em seu seio. E Isabel ficou cheia do Espírito Santo." Lc 1,41
    A própria Santa Isabel testemunhou: "Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu seio." Lc 1,44
    Plenamente inspirada, Maria antecipava-se aos ensinamentos de Jesus, pois cultuava Deus na intimidade de sua alma. Ela também cantou no Magnificat: "Minha alma glorifica ao Senhor..." Lc 1,46
    De fato, no poço de Jacó, Jesus vai ensinar à samaritana: "... os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade. Esses são adoradores que o Pai deseja." Jo 4,23
    A Santíssima Virgem, pois, envolveu-se com toda sua alma no projeto de Salvação trazido por seu Filho. Foi o que lhe previu um justo e piedoso homem de Jerusalém, que esperava a 'Consolação de Israel': "Simeão abençoou-Os e disse a Maria, Sua Mãe: 'Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará tua alma.'" Lc 2,34-35


    Os Evangelhos registram que Maria dedicou toda sua vida ao seu Amado Filho e, após Sua Ascensão, como os Atos dos Apóstolos atestam, à Sua Igreja. Com efeito, ela seguiu-O desde Sua partida de Nazaré para começar a anunciar a Boa Nova, logo após transformar água em vinho nas Bodas de Caná: "Depois disso, desceu para Cafarnaum com Sua mãe, Seus irmãos e Seus discípulos. E ali só demoraram poucos dias." Jo 2,12
    E além de todo convívio doméstico, ela também estava com Ele neste que foi Seu primeiro grande milagre em público. Aliás, ela era a convidada da família, e por sua causa o convite acabou estendido a Jesus e aos Apóstolos: "Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a Mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e Seus discípulos." Jo 2,1
    Foi por zelo e misericórdia, em seus primeiros raios de Mãe da humanidade, que Ela abordou Jesus para informar-Lhe o vexame que estava por acontecer aos familiares dos noivos de Caná, que lhe eram pessoas amigas: "Como viesse a faltar vinho, a Mãe de Jesus disse-Lhe: 'Eles já não têm vinho.'" Jo 2,3
    Nessa ocasião, significativamente ela já aconselhava às pessoas em volta que fossem obedientes a Seu Filho, e não estranhassem Suas ordens: "Disse, então, Sua Mãe aos serventes: 'Fazei o que Ele vos disser.'" Jo 2,5
    E como nos momentos junto à Cruz, aí Maria iria presenciar a manifestação da Glória de Seu Filho: "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,10-11
    Interpelado por uma mulher que elogiava Maria apenas por ser Sua Mãe, Jesus ressalta que ela é ainda mais importante, pois como ninguém soube ouvir e guardar a Palavra de Deus: "Enquanto Ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e disse-Lhe: 'Bem-aventurado o ventre que Te trouxe, e os seios que Te amamentaram!' Mas Jesus replicou: 'Antes bem-aventurados aqueles que ouvem e guardam a Palavra de Deus!'" Lc 11,27
    Segundo São Lucas, que certamente conheceu uma comunidade que a venerava, era exatamente o que Maria fazia. Foi assim durante a visita dos pastores de Belém, que por anjos foram avisados do Nascimento de Jesus: "Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração." Lc 2,19
    E também no Templo de Jerusalém, quando Jesus, aos 12 anos, foi reencontrado por Seus pais depois de haver permanecido sozinho por 3 dias na Cidade Santa: "Sua Mãe guardava todas estas coisas em seu coração." Lc 2,51b
    Destemida e forte, ela permaneceu a Seu lado até mesmo durante a crucificação: "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua Mãe..." Jo 19,25
    Era mais um momento, sem dúvida o mais importante, em que Jesus manifestava Sua Glória: "Logo que Judas saiu, Jesus disse: 'Agora é glorificado o Filho do Homem, e n'Ele Deus é glorificado.'" Jo 13,31
    E continuou junto aos Apóstolos mesmo depois da Ascensão de Jesus, como dissemos, estando presente no nascimento da Igreja: a Vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes: "Todos eles unanimemente perseveravam na oração, junto às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,14
    Um evangelho apócrifo, escrito no final do século II e chamado Proto-Evangelho de São Tiago, registra que Santa Ana escolheu o Nome de Maria durante os dias de sua purificação. Diz assim: "Tendo transcorrido o tempo estabelecido pela Lei, Ana purificou-se, deu o seio à menina e pôs-lhe o Nome de Maria."


    Esse livro também registra que, ao completar Maria um ano de idade, seu pai, São Joaquim, deu uma grande festa e convidou sacerdotes, escribas, membros dos Sinédrio e o povo de Israel. E os sacerdotes abençoaram-na dizendo: "Oh! Deus de nossos pais, abençoa esta menina e dá-lhe um glorioso e eterno Nome por todas gerações!" E toda a gente respondeu: "Assim seja, assim seja. Amém."
    Por fim, temos essa revelação da própria Nossa Senhora a Santa Brígida da Suécia, que viveu entre 1303 e 1373: "Quando os anjos olham esse nome, regozijam-se em sua consciência e dão graças a Deus pela grandíssima Graça que operou em mim e comigo, porque eles veem a humanidade de Meu Filho glorificada em Sua Divindade. As almas do Purgatório regozijam-se de especial maneira, como quando um enfermo homem, que está acamado, de outros escuta alentadoras palavras e isto agrada seu coração, fazendo-o sentir-se contente. Ao ouvir meu nome, os anjos imediatamente aproximam-se das almas dos justos, a quem foram dados como guardiões, e regozijam-se em seus progressos. Os bons anjos a todos foram designados como proteção, e os maus anjos, como provação.
    Todos demônios espantam-se e temem meu nome. Ao som do nome de Maria, imediatamente soltam a presa que tenham em suas garras. Da mesma forma que uma ave de rapina, com a presa em suas garras, deixa-a quando escuta um ruído e depois volta quando vê que não era nada, igualmente os demônios deixam a alma, assustados, ao ouvir meu nome, mas de novo voltam, rápidos como uma flecha, a menos que vejam que depois se produziu uma emenda.
    Ninguém está tão frio no amor de Deus, a menos que esteja condenado, que o Demônio não se distancie dele se invoca meu nome com a intenção de não mais retornar a seus maus hábitos. E o Demônio mantém-se longe dele, a menos que volte a consentir em pecar mortalmente." (Livro I, capítulo IX)

    "Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!"