segunda-feira, 14 de agosto de 2023

São Maximiliano Maria Kolbe


    No maior campo de concentração da Segunda Guerra Mundial, um capuchinho ofereceu-se para morrer no lugar de um pai que chorava muito, pois não iria mais ver seus filhos e esposa. E aproveitou para consolar e ajudar a salvar as almas dos outros nove que iam morrer com ele. Desnudos, foram trancados numa cela subterrânea, para morrer de fome.
    São Maximiliano convidou-os a rezar o Rosário, fazer exame de consciência, confessar-se e cantar hinos religiosos. A cela tornou-se uma capela. Como após três semanas quatro deles ainda estavam vivos, e conseguiam cantar, embora bem fraquinho, decidiram aplicar-lhes injeção letal. O Santo polonês graciosamente ofereceu o braço, e foi o último a morrer. Depois de espasmos e convulsões, restou inerte, de olhos abertos. Junto a Santa Edith Stein, era mais um mártir, mais um a morrer em santidade em campo de concentração nazista. Um guarda disse que seu rosto estava impressionantemente sereno, bonito e 'radiante'.
    Em Roma, aonde tinha ido estudar, ficou escandalizado com o ateísmo e com as infâmias dirigidas à Igreja. Prontamente fundou a Milícia de Maria Imaculada. Era 1917, ano da Aparição de Nossa Senhora em Fátima. Esse jovem de 23 anos era parte dos planos da Mãe de Deus, que apenas três meses antes havia anunciado a Lucia, em Portugal, que Seu Imaculado Coração iria triunfar. Nosso Santo ainda nem tinha sido ordenado e já reunia-se com outros seis jovens para, com a ajuda de Maria Santíssima, converter pecadores e inimigos da Igreja, além de buscar a santidade dos membros da Milícia.
    Tão ciente das dificuldades que enfrentava, desde que celebrou sua primeira Santa Missa tratou de expressar sua disposição para defender a Igreja até o martírio. Voltou a Polônia e rapidamente mobilizou mais de 300 pessoas para fundar o Jornal Cavaleiro da Imaculada. No dia anterior ao lançamento do primeiro número, reuniu a todos para jejuar e rezar, passando a noite em adoração ao Santíssimo Sacramento e orando à Santíssima Virgem.



    Em 1927, o príncipe polonês, percebendo com era evidente o poder de Deus em São Maximiliano, doa-lhe um terreno a 40 quilômetros da capital, Varsóvia. Aí ele funda a Cidade de Maria, com um enorme convento e instalações para o jornal. De onde viria tanto dinheiro? Ele sabia que Nossa Senhora estava com ele. E tinha razão: em 1939 chegava a 1 milhão de exemplares, 17 pequenas publicações impressas e uma rádio. Eram mais de 700 pessoas vivendo lá, uma verdadeira cidade cristã com mecânicos, bombeiros, médicos e agricultores.




    Sua dedicação e piedade contagiavam a todos. Apaixonado pela Santa Eucaristia, instituiu na Cidade de Maria a Adoração Perpétua. Ele nada começava antes de adorar a Cristo. Queria uma Cidade de Maria em cada país. Como sinal de Deus que se antecede aos fatos, fundou uma no Japão, precisamente onde viveu Santa Madalena de Nagasaki, lugar em que explodiria a segunda bomba atômica em 1945, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. Sabendo do pequeno número de católicos neste país, trabalhou vigorosamente de 1930 a 1936. Chegou a publicar 10 mil exemplares do jornal mariano. Ele dizia: "Eu vejo Maria em toda parte. Eu não vejo dificuldades."


    Tão sólida era sua obra que nem o poder da bomba atômica lhe pôs fim. Reergueu-se vitoriosa e lá ainda está.
    Estava na Polônia em 1939, quando começou a Segunda Grande Guerra. Mandou que a maioria se refugiasse em insuspeitos lugares, pois sabia da perseguição aos católicos, e ficou na Cidade de Maria com apenas 40 essenciais voluntários. Por pura descriminação aos religiosos, logo foram levados presos pelos invasores nazistas. Mas, num grande sinal da Mãe de Deus, no dia 8 de dezembro, quando se celebra a Imaculada Conceição, foram libertados, pois não havia mesmo nenhuma acusação contra eles.


    Presos mais uma vez em 1941, quando o inimigo já manifestava seu ódio mortal, foi levado para o terrível campo de concentração de Auschwitz, que os alemães mantinham em seu país. Ao perceber que ele era religioso, pois recusava-se a tirar o hábito, o oficial humilhou e esbofeteou São Maximiliano várias vezes, perguntando se ele realmente acreditava em Cristo. Humildemente, ele apenas respondia que sim.


    Mas, tanto quanto pôde, aí não se manteve quieto. Cuidava de animar a e oferecer o Sacramento da Confissão a quem encontrava. Estimulava para que a tudo enfrentassem dignamente, sem desespero ou medo. Ainda obteve mais uma grande Graça de Nossa Senhora: apesar de tomarem-lhes tudo e de usarem apenas o uniforme numerado, inacreditavelmente o guarda que lhe fazia frequentes revistas não lhe tomava o Rosário.


    A igreja anglicana reverenciou-o como mártir na Abadia de Westminster, em 1998.
    Ele dizia com frequência: "Para ser Santo, basta querer."
    Deixou veementes exortações:

    "Meu objetivo é instituir perpétua adoração, pois esta é a mais importante atividade. Se metade dos irmãos trabalhasse e a outra metade rezasse, isso não exigiria muito."
    "Seja católico: quando tu te ajoelhares diante de um altar, faça isso de modo que os outros possam reconhecer que tu sabes diante de Quem te ajoelhas."
    "O mais mortal veneno de nosso tempo é a indiferença. E isso acontece, embora o louvor a Deus não deva conhecer limites. Vamos esforçar-nos, portanto, por louvá-Lo na maior extensão de nossas capacidades."
    "Os modernos tempos são dominados por Satanás e ainda mais serão no futuro. O conflito contra o inferno não pode ser encampado pelos homens, mesmo os mais inteligentes. Só a Imaculada tem de Deus a promessa de vitória sobre Satanás. No entanto, assunta ao Céu, a Mãe de Deus agora requer nossa cooperação. Ela procura almas que se consagrarão inteiramente a ela, as quais em suas mãos se tornarão efetivos instrumentos para a derrota de Satanás e a propagação do Reino de Deus sobre a terra."
    "Deus, que nos deu livre vontade, quer que O sirvamos livremente como instrumentos, ajustando nossa vontade à Sua, do mesmo modo que Sua Santíssima Mãe, quando diz: 'Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.'"
    "A expressão 'faça-se em mim' deve ressoar constantemente em nossos lábios, pois entre a vontade da Imaculada e a nossa deve existir uma completa harmonia. Então, que devemos fazer? Deixemo-nos conduzir por Maria e nada teremos a temer."
    "Da divina maternidade promanam todas Graças concedidas à Santíssima Virgem Maria, e a primeira é a Imaculada Conceição."
    "Deus vê a mais perfeita criatura, a Imaculada, ama-a e assim nasce Jesus, Homem-Deus, Filho de Deus e Filho do homem. Nela, depois, têm início os graus de semelhança dos filhos de Deus e dos homens, dos membros de Jesus."
    "Deixemo-nos entregar a Imaculada. Deixe-a preparar-nos, que ela receba Jesus na Sagrada Comunhão. Esta é a mais perfeita e agradável maneira para o Senhor Jesus, e traz-nos grandes frutos. Porque a Imaculada conhece o segredo como nos unir totalmente com o Coração do Senhor Jesus... Nós não nos limitamos a amar. Queremos amar o Senhor Jesus com o Coração dela, ou melhor, que ela ame o Senhor com nosso coração."
    "Deus não apenas sabe e pode, mas, especialmente pela Imaculada, faz o que é melhor para ti e para os outros."
    "Se alguém não quiser Maria Imaculada como Mãe, não terá Cristo como irmão."
    "A Cidade da Imaculada é um lar como o de Nazaré. O pai é Deus Pai, a mãe e a patroa da casa é a Imaculada, o Filho Primogênito e Nosso irmão é Jesus no Santíssimo Sacramento do altar. Todos irmãos mais novos tentam imitar o mais velho irmão, por amor e em honra a Deus e à Imaculada, nossos pais comuns. E, através da Imaculada, eles tentam amar o mais velho e divino irmão, o ideal de santidade que Se dignou a descer do Céu para nela encarnar-Se e conosco morar no tabernáculo..."
    "O mundo inteiro é uma grande Cidade da Imaculada, onde o pai é Deus, a mãe é a Imaculada, o irmão mais velho é o Senhor Jesus em todos tabernáculos do mundo, e os irmãos mais novos é o povo."
    "Jesus honrou-a antes de todos séculos e honrá-la-á por todos séculos. Ninguém vem a Ele, nem mesmo perto d'Ele, ninguém é salvo ou santificado, se também não a honrar. Este é o destino dos anjos e dos homens."
    "Na união do Espírito Santo com Maria, o amor não une apenas estas duas Pessoas, mas o primeiro amor é todo amor da Santíssima Trindade, enquanto o segundo, o de Maria, é todo amor da criação. E assim, em tal união, o Céu une-se à terra, todo amor incriado com o amor criado... É o vértice do amor."
    "Naquela noite, perguntei à Mãe de Deus o que devia ser de mim, um filho da fé. Então, ela veio até mim segurando duas coroas, uma branca e outra vermelha. Ela perguntou-me se eu estava disposto a aceitar uma dessas coroas. O branco significava que eu deveria perseverar na pureza, e o vermelho que eu deveria tornar-me um mártir. Eu disse que aceitaria as duas."
    "Por Jesus Cristo, estou preparado para sofrer ainda mais."
    "Ninguém no mundo pode mudar a Verdade. O que podemos fazer e devemos fazer é buscar a Verdade, e a ela atender quando a descobrimos. O real conflito é o conflito interior. Além dos exércitos da ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois irreconciliáveis inimigos na profundidade de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. E de que servem as vitórias no campo de batalha se nós mesmos somos derrotados em nosso mais íntimo eu?"

    "Não é possível derramar mais água numa taça já cheia; assim também Deus não pode verter Suas Graças numa alma cheia de distrações e frivolidades."
    "Pode ter mais méritos o ardor em pouco tempo que o medíocre serviço a Deus durante muitos anos."
    "A lembrança do Céu deve estimular-te a grandes virtudes."
    "Imita o que vês de bom nos outros."
    "O ódio não é uma força criativa: somente o amor o é."
    "A oração é poderosa além dos limites quando nos voltamos para a Imaculada, que é Rainha até do coração de Deus."
    "O fruto do nosso apostolado depende da oração. Se falamos de oração, não se deve entender que seja preciso ocupar muitas horas em estar de joelhos e em oração, mas que sejam feitos atos internos."



     O pai de família, que São Maximiliano livrou da morte, sobreviveu ao campo de concentração e estava presente na praça de São Pedro em 1982, quando o Papa São João Paulo II, também polonês, canonizou-o.
    A cela em que ele morreu foi preservada.

    
    São Maximiliano Maria Kolbe, rogai por nós!