terça-feira, 8 de agosto de 2023

São Domingos


    Apaixonado pelas coisas de Deus desde pequeno, o fundador da ordem dos dominicanos nasceu em Castela, na Espanha, em 1170. Enquanto fazia seus estudos, já incomodava-lhe a indiferença com que se tratava o sofrimento dos mais pobres. Chegou a vender as coisas de mais valor de seu quarto, inclusive sua Bíblia, para socorrer os carentes.
    Após formar-se, em 1203 teve que acompanhar Dom Diogo, Bispo de Osma, numa viagem a Dinamarca, e ficou impressionado com o desconhecimento da Doutrina Cristã nos lugares por onde passava.
    Noutra viagem, em 1205, passando pelo sul da França, encontraram duas correntes de heresias que tinham alcançado alta estima entre o povo por viverem a pobreza de sincero modo, ainda que absolutamente tresloucado. Eram os albigenses e os cátaros, que se dizendo imitadores dos Apóstolos, contrariavam acintosamente a Doutrina da Igreja, desrespeitando a hierarquia e alterando a liturgia católica.
   O Papa já havia mandado alguns legados àquela região, mas eles não conseguiam convencer o povo daqueles graves desvios, porque, para os mais simples e sem leitura, esses enviados levavam vida de nobres, eram servidos por criados, enquanto os hereges pareciam levar vida de Santos. Foi quando Diogo e Domingos, que desde sempre haviam adotado a evangélica pobreza, sugeriram aos núncios apostólicos que deixassem todo conforto e fossem viver como aqueles infiéis, na pobreza, o que eles aceitaram sob condição de que eles dois fossem seus dirigentes.
    O sucesso da nova forma de evangelizar foi imediato e logo chegou ao conhecimento do Papa, que gostou da iniciativa e deu autorização para que continuassem. Era a "Santa Pregação". Como Diogo tinha funções de bispo, teve que voltar a Osma, onde logo veio a falecer. Mas, mesmo sozinho, São Domingos não desistiu.
    Em 1206, um grupo de mulheres convertidas do catarismo pediu-lhe auxílio para viver a vida religiosa. É quando ele lhes concede uma casa em Prouille, no extremo sul da França, e sugere uma regra de vida humilde, toda voltada para a oração. Essa casa vai ser o berço dos dominicanos, e a primeira comunidade das monjas dominicanas da clausura. Por lá passariam e hospedar-se-iam os primeiros "pregadores mendicantes".
    São Domingos Gusmão, porém, não encontrava facilidades. Em 1208 ainda estava pregando sozinho em toda aquela região. É quando Nossa Senhora lhe aparece na igreja de Prouille, e entrega-lhe o Santo Rosário como proteção e sinal de Sua companhia. Essa belíssima Graça renovou-lhe as forças, e assim seguiu vivendo para "pregar e caminhar", como ele mesmo dizia.
    Era o perfeito seguimento do exemplo de vida dos Apóstolos, quando os diáconos se fizeram absolutamente necessários para os demais serviços da Igreja: "Nós, porém, ocupar-nos-emos totalmente na oração e no ministério da Palavra.” At 6,4


    Só em 1214, na cidade de Carcassonne, ali nas proximidades, começou a juntar alguns amigos que lhe acompanhariam na vida itinerante. Em 1215 cria uma regra de vida para o grupo de pegadores, logo aprovada pelo bispo, mas, ao tentar dela fazer uma ordem religiosa, dá-se em Roma com as decisões do Concílio de Latrão, que proibia a fundação de novas ordens, por tantas que já havia. O Papa Inocêncio III aconselhou-o a adotar uma entre as já existentes, o que o faz optar, junto com seus companheiros, pela Ordem de Santo Agostinho, pelos pendores que esta tinha para o eremitério.
    Com a morte do Papa Inocêncio III, no entanto, e com a ascensão de Honório III, que era seu amigo e admirador, São Domingos vai a Roma em 1216 e obtém a aprovação da Ordem dos Pregadores, por realmente ser um novo carisma, pois os religiosos viveriam "totalmente dedicados ao anúncio da Palavra de Deus".


    Desde então, São Domingos manda seus pregadores para as primeiras cidades que fundaram universidades na Europa, para que estudassem e atraíssem estudantes para a ordem. Assim estabelece comunidades dominicanas em Paris, Bolonha, Roma e Salamanca.
    Em 1220, em Bolonha, no primeiro Capítulo, a Ordem dos Pregadores adota o sistema democrático para escolher os superiores das casas. Em 1221, em Roma, no segundo Capítulo, a ordem divide-se em províncias e cria-se o Capítulo Geral, a ser assistido por priores provinciais e delegados eleitos pelas comunidades, onde democraticamente também se escolhe o mestre geral da ordem.
    Antevendo a entrega do Escapulário a São Simão Stock, um carmelita, o que só aconteceria quase duas décadas depois, nosso Santo firmou sua Profecia, que vai na direção do título de Co-Redentora, a ser dado a Nossa Mãe Celestial: "Um dia, através do Rosário e do Escapulário, Nossa Senhora salvará o mundo."


    Ele ensinou:

    "Hereges são muito mais prontamente convertidos por um exemplo de humildade e outras virtudes que por qualquer exibição ou batalhas verbais. Então, vamos armar-nos com devotas orações e partir mostrando sinais de genuína humildade... e vamos descalços para combater Golias."

    "Arme-se com a oração em vez de uma espada, vista-se de humildade em vez de belas vestes."
    "Um homem que governa suas paixões é o dono do mundo. Devemos governá-las ou por elas ser governados. É melhor ser o martelo que a bigorna."
    "Nós devemos semear a semente, não acumulá-la."
    "Eu não suportava valorizar peles mortas (caros livros), quando peles vivas estavam famintas e necessitadas."
    "Eu diria a eles (seus inimigos) que me matassem devagar e dolorosamente, um pouco de cada vez, para que eu pudesse ter uma mais gloriosa coroa no Céu."
    "Tu (São Francisco) és meu companheiro, e comigo deves andar. Pois, se nos unirmos, nenhum poder terrestre poderá suportar-nos."
    "Estes, meus muito amados, são os legados que vos deixo como meus filhos: tende caridade entre vós, perseverai na humildade e mantende uma voluntária pobreza."
    "Não chores, pois eu serei mais útil a ti depois de minha morte, e então vou ajudar-te mais eficazmente que durante minha vida."

    Após anos de "Santa Pregação" e penitências, morreu em 1234 no convento de Bolonha, Itália, na sela de um confrade, pois nunca aceitou ter uma só para si.
    A Constituição da Ordem dos Pregadores diz: "... persigamos este fim pela pregação e pelo ensino da abundancia de nossa contemplação, de acordo com o exemplo de nosso Pai São Domingos, que afim de salvar almas apenas falava para Deus ou de Deus."
    Os principais objetos de devoção dos dominicanos são: o Santíssimo Sacramento, a Santíssima Virgem Maria, especialmente invocada no Rosário, e rezar pelas almas do Purgatório.
    Gregório IX, papa de 1227 a 1241, disse dele: "Eu conheci-o como um fiel seguidor do apostólico modo de vida. Não há dúvida de que está no Céu, compartilhando da Glória dos próprios Apóstolos."
    E o próprio Deus Pai disse a Santa Catarina de Sena, que era dominicana da Ordem Terceira: "Seu Pai Domingos, meu amado filho, quer que seus irmãos não tenham outro desejo senão Minha honra e a Salvação das almas, pela Luz da ciência. Esta é a Luz que ele desejou para ser o principal objeto de sua Ordem... no intuito de extirpar as heresias que haviam surgido a seu tempo. Seu papel era o do Verbo, Meu único Filho..."
    De sua Ordem, foram Santos da grandeza de São Tomás de Aquino e Santa Rosa de Lima, além de estudiosos como Nicolau Copérnico e o primeiro Sacerdote ordenado nas Américas, Bartolomeu de las Casas, grande defensor dos indígenas.
    A Ordem cuidou de dar uma bela arca a suas relíquias, que fica numa capela da basílica do século XIII que leva seu nome, lá mesmo em Bolonha.


    São Domingos, rogai por nós!