domingo, 27 de agosto de 2023

Santa Mônica


    Se Santo Agostinho sobremaneira colaborou para a formulação da Teologia, muito se deve à sua Santa mãe.
    Casada com um pagão que se revelou rude, e por vezes agressivo, ela não fazia nenhum mau comentário a seu respeito nem permitia que alguém o fizesse. Simplesmente rezava por sua conversão.
    As vizinhas logo perceberam sua santidade. Como era possível viver em tamanha serenidade diante da embriaguez, da violência e da declarada infidelidade do marido? Assim tornou-se conselheira e referência espiritual em sua comunidade. E tão humilde e tolerante, terminou por tocar profundamente o coração do marido, que abandonou a mundana vida e converteu-se. Tal Graça, no entanto, destinava-se especificamente a salvar-lhe a alma, pois pouco depois a saúde iria faltar-lhe, vindo a falecer.
    Mas ainda maior angústia já apertava-lhe o coração. Apesar de sua notória inteligência, Santo Agostinho, então estudante de Retórica e Artes em Cartago, antiga capital da atual Tunísia, no norte da África, embora não fosse violento tinha tomado o mesmo caminho de vícios e promiscuidade do pai. Teve um filho de uma fortuita união, tornou-se maniqueísta, a grande heresia de seu tempo, uma seita filosófico-religiosa, e como professor de Gramática voltou à terra natal, Tagaste, no interior da atual Argélia, país também no norte da África.
    Inicialmente Santa Mônica renegou-se a aceitá-lo em casa, mas, tempos depois, voltou atrás. De fato, ela tinha mais um filho e uma filha para educar: não podia pactuar com sua cínica devassidão. E mais uma prova da verdadeira e contagiante devoção dessa senhora foi a opção religiosa que fez a filha, Perpétua, desde cedo: foi das primeira mulheres a ir viver num mosteiro feminino.
    Contudo, do mesmo modo como agiu com o esposo, Santa Mônica não desistiu de Santo Agostinho. Ao pedir em preces pelo desencaminhado filho, ouviu do bispo alentadora resposta: "Vá e continue a rezar: é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas."
    Em paralelo, o brilhante professor tornava-se cada vez mais importante entre os estudiosos do Império Romano. Estabeleceu-se em Roma como catedrático em Retórica, e de lá acabou indo a Milão, atraído pela Sabedoria de Santo Ambrósio. Homem de singular inspiração, com absoluta naturalidade este bispo mostrou-lhe o Caminho da Verdade, e Santo Agostinho pediu-lhe o Batismo. Santa Mônica, ao saber de tão esperada Graça, viajou o mais rápido a Milão.
    Alguns meses depois, em 387, ciente de sua missão perante a cristandade, Santo Agostinho resolve voltar à sua terra. Mas na viagem de volta, aos 56 anos, Santa Mônica morre em Ostia, uma cidade costeira que funcionava como porto de Roma, e foi sepultada na Basílica de Santa Áurea.


     Suas últimas palavras, segundo o próprio Santo Agostinho, foram: "Uma única coisa fazia-me desejar viver ainda um pouco: ver-te cristão antes de morrer."
    Numa das mais belas obras do Catolicismo, o livro 'Confissões', Santo Agostinho faz um tocante registro da cristandade de sua Santa mãe, que nos faz lembrar, pelo segundo feito, exatamente o papel de Nossa Mãe Celestial, com a ligeira ressalva de que Maria nos gera para Deus em seu ventre espiritual. Ele diz: "Ela gerou-me; seja na sua carne, para que eu viesse à luz do tempo, seja com seu coração para que eu nascesse à Luz da eternidade."
    É a padroeira das mulheres casadas, além de modelo de mulher e viúva cristã.


    Em 1430, seu corpo foi reencontrado e transferido para uma linda capela na Basílica de Santo Agostinho em Roma, especialmente construída em homenagem a seu filho. O sarcófago original foi preservado.


    Santa Mônica, rogai por nós!