quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Inseguranças


    Num mundo assaltado pelo medo, e até pelo pânico, ou onde a materialista e agressiva competitividade é a oração mental comunitária prevalecente no dia-a-dia, ter inseguranças é quase uma frivolidade. Na intimidade, porém, todos temos nossas hesitações, incertezas, fraquezas. E na contramão da exacerbação da insensibilidade, tais características até são desejáveis dadas as grandes lições que ensinam, como percebeu o Eclesiástico: "... o que passou por muitas dificuldades desenvolve a prudência." Eclo 34,10
    E para mais prosperar nessa virtude, o Profeta Baruc recomenda à Israel a meditação dos Mandamentos da Lei de Deus: "Escuta, Israel, os Mandamentos de Vida. Medita, a fim de que aprendas a prudência." Br 3,9
    Com toda razão, pois os Provérbios têm-na como imprescindível à Salvação: "O homem que se desvia do caminho da prudência repousará na companhia das trevas." Pr 21,16
    São Luís Maria Montfort, no entanto, bem demonstrou que a mera e mundana prudência não é o bastante. Por isso, ao apontar a 'imprudência' dos que realmente têm boa , Jesus pedia caridade mesmo que imperfeita: "E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da Luz no trato com seus semelhantes. Eu digo-vos: fazei-vos amigos com a riqueza amealhada na injustiça, para que, no dia em que ela vos faltar, eles recebam-vos nos eternos tabernáculos." Lc 16,8-9
    A Verdade é que não podemos deixar-nos dominar pela avareza nem nos intimidar pelo medo. Pois mais que acovardar, eles podem imobilizar-nos! Alertando para as contrariedades, São Paulo fala da dignidade dos filhos de Deus: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar pelos vossos adversários. Para eles isto é motivo de perdição, mas para vós de Salvação. E é a vontade de Deus, porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda sofrer por Ele. Sustentais o mesmo combate que me tendes visto travar, e no qual sabeis que eu continuo agora." Fl 1,27-30
    Ele ressalta: "Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de Sabedoria." 2 Tm 1,7
    E a solução é fortalecer-nos pela verdadeira Sabedoria, que só Deus pode oferecer, pois qualquer outro empenho representa o desperdício de toda uma vida. Baruc advertia: "Mesmo os filhos de Agar, que procuram inteligência sobre a terra, os negociantes de Madiã e Temã, os contadores de fábulas e os desejosos de inteligência, não chegaram a conhecer o caminho da Sabedoria, nem se recordam de suas veredas." Br 3,23
    Segundo os Provérbios, elas andam intimamente juntas: "Eu, a Sabedoria, sou amiga da prudência..." Pr 8,12
    E como toda virtude, precisamos pedi-la a Deus, tal qual o salmista: "... ensinai-me a Sabedoria, para que conheça Vossas prescrições." Sl 118,125
    Porque "... o Senhor é Quem dá a Sabedoria..." Pr 2,6
    Por isso, São Paulo vincula-a à vontade de Deus: "Vigiai, pois, com cuidado sobre vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que ciosamente aproveitam o tempo, pois os dias são maus. Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus." Ef 5,15-17
    E elogiando a obediência dos romanos, ele avisava das heresias que sempre são apresentadas em sedutoras embalagens: "Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da Doutrina que recebestes. Evitai-os! Esses tais não servem a Cristo Nosso Senhor, mas ao próprio ventre. E com adocicadas palavras e lisonjeira linguagem enganam os simples corações. Vossa obediência tornou-se notória em toda parte, razão porque eu me alegro a vosso respeito. Mas quero que sejais prudentes no tocante ao bem, e simples no tocante ao mal." Rm 16,17-19
    O confiante agir, portanto, não é só uma prova de , mas também da Sabedoria, que é inspirada pelo Divino Espírito e mostra seu valor nas mais difíceis situações. Jesus diz: "... a Sabedoria foi justificada pelas obras de seus filhos." Mt 11,19
    Pois só ela nos permite entender o que Jesus disse, quando nos ensinou a abandonar a falsa prudência dos mundanos cuidados: "Porque quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á, mas quem sacrificar sua vida por amor a Mim, salvá-la-á." Lc 9,24
    Ele dizia sobre os vacilantes: "Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus." Lc 9,62
    E era taxativo: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Àquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena. Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que Me negar diante dos homens, Eu também negá-lo-ei diante de Meu Pai que está nos Céus." Mt 10,28.32-33


CRISTO COMO MODELO

    Assim, da insegurança à prudência, e da prudência à Sabedoria, precisamos fortalecer-nos na fé. Jesus prometia: "Em Verdade, declaro-vos que se tiverdes fé e não hesitardes... Tudo que com fé pedirdes em oração, vós alcançá-lo-eis." Mt 21,21a.22
    E ela não precisa ser muito grande, como Ele mesmo explicou: "Disse o Senhor: 'Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta amoreira: 'Arranca-te e transplanta-te no mar!', e ela obedecê-vos-á.'" Lc 17,6
    Tal postura deve prevalecer mesmo contra todas chances, como Ele pediu a Jairo ao ouvir que sua filha, que até então se achava enferma, havia morrido: "Não temas. Apenas crê, e ela será salva." Lc 8,50
    Na Verdade, precisamos da fé para tudo. Quando provocados por Jesus para que perdoassem infinitamente, os Apóstolos pediram-Lhe por esse dom: "Aumentai nossa a fé!" Lc 17,5
    Pois só a Divina Graça, que nos revigora a fé, pode ajudar a vencer os pecados, e com eles os medos. Jesus instava: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo." Jo 16,33
    Todavia, antes de tudo precisamos do perdão de Deus, que é um grande bálsamo para a alma, porque é insuportável viver sob os tormentos dos passados erros. Por isso, mais importante que uma cura, Jesus oferecia Seu perdão, como disse ao paralítico da maca descida pelo telhado, que apenas queria ser curado: "Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados." Mt 9,2
    Assim, movidos pela purificação do divino perdão e pela fé, podemos tomar Cristo como exemplo de Vitória. Ele lembrava, porém, que Sua força se mostra pela Verdade e pela humildade, como fez ao lavar os pés dos Apóstolos: "Vós chamai-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu o sou. Logo, se Eu, vosso Senhor e Mestre lavei-vos os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim também façais vós." Jo 13,13-15
    Pois explicitava, e com contundência, nossa absoluta dependência do Pai: "Assim também vós, depois de terdes feito tudo que vos foi ordenado, dizei: 'Somos inúteis servos. Fizemos apenas o que devíamos fazer.'" Lc 17,10
    Ele mesmo dizia-Se totalmente submisso ao Pai: "Jesus tomou a palavra e disse-lhes: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: de Si mesmo o Filho não pode fazer coisa alguma. Ele só faz o que vê fazer o Pai. E tudo que o Pai faz, semelhantemente faz o Filho.'" Jo 5,19
    Pontualmente obedecia aos Seus desígnios, como se viu no Horto das Oliveiras: "Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Não se faça, todavia, Minha vontade, mas sim a Tua." Lc 22,42
    E por profundamente viver Sua humanidade, na Cruz experimentou toda amplitude dos mistérios de Deus: "E à nona hora Jesus bradou em alta voz: 'Elói, Elói, lammá sabactáni?', que quer dizer: 'Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste? (Sl 22,2)'" Mc 15,34
    A maior fortaleza, portanto, capaz de enfrentar a própria morte, Nosso Salvador demonstrou através de Seu amor: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos. Vós sois Meus amigos se fazeis o que vos mando." Jo 13,14-15
    E recomendou: "Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros." Jo 13,34
    São Paulo já atinava: "Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor a Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12,10
    E ressaltando a superioridade do salvífico amor, ele aponta o Cristo como Modelo, como escreveu aos efésios: "... até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos n'Aquele que é a Cabeça, Cristo." Ef 4,13b-15
    Modelo que, avisando de seu martírio já próximo, ele colocava como o extremo oposto à mundana vida: "Exorto-vos, pois, prisioneiro que sou pela causa do Senhor, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza de alma, mutuamente suportando-vos com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da Paz. Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas ideias. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza." Ef 4,17-19
    E reclamou das 'aflições', na verdade insignificâncias, de que padeciam os coríntios: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto entre vós houver ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3
    São Tiago Menor denunciava o mesmo problema: "Donde vêm as lutas e as contendas entre vós? Não vêm elas de vossas paixões, que combatem em vossos membros? Cobiçais, e não recebeis; sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que desejais; litigais e fazeis guerra. Não obtendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes vossas paixões." Tg 4,1-3
    Para complicar, São Paulo profetizou a São Timóteo o surgimento de falsos mestres, que da santa fé desviam muita gente, arrastando a verdadeiros tormentos: "Os homens tornar-se-ão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, negando-lhe, entretanto, a autoridade. Dessa gente, afasta-te! Deles fazem parte os que jeitosamente se insinuam pelas casas e enfeitiçam mulherzinhas carregadas de pecados, atormentadas por toda espécie de paixões, sempre prontas para aprender sem nunca chegar ao conhecimento da Verdade." 2 Tm 3,2-7
    São Pedro fez igual advertência, pois tais heresias representam vários e danosos obstáculos à Igreja: "Assim como entre o povo houve falsos profetas, assim entre vós também haverá falsos doutores que disfarçadamente introduzirão perniciosas seitas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si repentina ruína. Muitos os seguirão em suas desordens, e deste modo serão a causa de o Caminho da Verdade ser caluniado." 2 Pd 2,1-3
    Mas, contra toda devassidão e em meio a grandes perigos, Jesus deixou-nos uma inafastável missão: "Eu envio-vos como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens." Mt 10,16-17a
    E mesmo avisando de Seu Martírio, Ele também deu-nos razões para não hesitar: "Não se perturbe vosso coração. Credes em Deus, crede também em Mim." Jo 14,1
    Ele garantia: "Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de Vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós." Mt 10,29-31


O EXERCÍCIO DA FÉ

    Entre os Apóstolos, dado o privilégio que tiveram de presenciar Seus milagres, Jesus não tolerava nem mesmo o medo de morrer. É o que vemos quando o vento e as ondas jogavam o barco de um lado para outro, e eles atemorizavam-se. Ele severamente repreendeu-os: "Por que este medo, gente de pouca fé?" Mt 8,26
    Da mesma forma, quando São Pedro se ofereceu para andar sobre as águas mas vacilou diante das grandes ondas, foi censurado por Ele: "Homem de pouca fé, por que duvidaste?" Mt 14,31
    O mesmo deu-se quando os Doze já não entendiam Sua Palavra, por preocuparem-se em demasia com a comida que levavam para a viagem. Ele não os poupou: "Homens de pouca fé! Por que julgais que vos falei por não terdes pão?" Mt 16,8-9
    Ou quando os Apóstolos não conseguiram exorcizar um menino possesso, e seu pai teve que pedir socorro a Jesus: "Ó incrédula e perversa geração, até quando estarei convosco e aturá-vos-ei? Traze cá teu filho." Lc 9,41
    São Tomé também não ficou sem correção por sua incredulidade e egocentrismo. Enquanto duvidava de Sua Ressurreição, ou exigia uma prova, Jesus disse-lhe ao aparecer mais uma vez em meio aos Onze: "Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas mãos. Põe tua mão no Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé." Jo 20,27
    A mulher estrangeira, em contraponto, que humildemente aceitou 'as migalhas' de Sua atenção, recebeu um entusiasmado elogio de Jesus. De fato, sua fé estava acima da vergonha ou da vaidade: "Ó mulher, grande é tua fé!" Mt 15,28
    O centurião, no mesmo sentido, que acreditava que bastaria tão somente uma Palavra Sua para a cura de seu servo, foi enaltecido por Jesus: "... nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé." Lc 7,9
    Pois Ele realmente reclamava de toda uma geração e suas 'prudências': "Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, Eu digo-vos que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, Vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá suas próprias preocupações. A cada dia basta seu cuidado." Mt 6,25-34
    E apontando a insensata cultura dos mundanos prazeres, denunciava a origem de toda incredulidade: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Os Provérbios já admitiam que Deus participará e presidirá o Juízo: "O temor dos homens prepara um laço, mas quem confia no Senhor permanece seguro." Pr 29,25
    E anotaram o vacilar: "Palavras desse homem: 'Eu fatiguei-me por Deus, estou esgotado por Deus, eis-me entregue. Porque eu sou o mais insensato dos homens, não tenho a inteligência de um homem. Não aprendi a Sabedoria e não conheci a ciência do Santo." Pr 30,1b-3
    São Paulo, que pelas Escrituras já divisava a Divindade de Jesus, sabia muito bem o caminho: "Logo, a fé provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17
    Condenava, por isso, os projetos que não têm por meta a Vida Eterna: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
    O que aprendemos de Jesus, portanto, é que Ele não nos quer entregues a ventos de incertezas. Temos sempre que acreditar mesmo vivendo num mundo extremamente violento, onde a vida foi banalizada. Poderíamos deixar de dar nosso testemunho de fé? Não por acaso, quando falava sobre os últimos tempos, Ele deixou uma ruidosa pergunta: "Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" Lc 18,8
    E Ele mesmo a respondeu, embora noutras palavras e noutra situação: "A maldade espalhar-se-á tanto que o amor de muitos esfriará." Mt 24,12
    Contudo, não deixou de apontar o caminho da fé: "Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo" Mt 24,13
    É por essa razão que devemos buscar o dom da fortaleza, que nos é dado pelo Espírito Santo. São Pedro recomenda a busca dessa virtude numa sequência de outras: "Por isso mesmo, dedicai todo esforço em juntar à vossa fé a fortaleza, à fortaleza o conhecimento, ao conhecimento o domínio próprio, ao domínio próprio a constância, à constância a piedade, à piedade a fraternidade, e à fraternidade, o amor." 2 Pd 1,5-7
    Jesus garantiu: "Portanto, quem ouve estas Minhas Palavras e põe-nas em prática é como um sensato homem, que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas ela não desabou, porque estava construída sobre a rocha." Mt 7,24-25
    E recomendou a constante vigília, só possível por frequentes orações, como a verdadeira prudência: "Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do Esposo. Dentre elas, cinco eram tolas e cinco, prudentes. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas. Tardando o Esposo, cochilaram todas e adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: 'Eis o Esposo, ide-Lhe ao encontro.' E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: 'Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas estão apagando-se.' As prudentes responderam: 'Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de comprardes para vós.' Ora, enquanto foram comprar, veio o Esposo. As que estavam preparadas entraram com Ele para a sala das bodas, e a porta foi fechada. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: 'Senhor, Senhor, abre-nos!' Mas Ele respondeu: 'Em Verdade, digo-vos: não vos conheço!' Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora." Mt 25,1-13
    O Catecismo da Igreja ensina: "A prudência é a virtude que dispõe a prática razão para discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem, e para escolher os justos meios de atingi-lo. 'O prudente homem vigia seus passos' (Pr 14,15). 'Sede ponderados e comedidos, para poderdes orar' (1 Pd 4,7). A prudência é a 'reta norma da ação', escreve São Tomás seguindo Aristóteles. Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada 'auriga virtutum – condutor das virtudes', porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que imediatamente guia o juízo da consciência. O prudente homem decide e ordena sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares, e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar." CIC § 1807

    "Caminhamos na estrada de Jesus!"