sábado, 4 de novembro de 2023

São Carlos Borromeu


    Era Cardeal Arcebispo de Milão, e morreu em 1584, aos 46 anos, da peste que flagelava a cidade desde 1576, pois, em sua intensa vida pastoral, não deixava de visitar os enfermos, consolando-os e ministrando-lhes os Sacramentos.
    Homem de profunda espiritualidade e devoção, quis renunciar à arquidiocese e abraçar a vida contemplativa, mas foi aconselhado a continuar na vida secular pelo venerável Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, Bispo de Braga, pois a Igreja muito carecia de seu trabalho.
    Seu amigo estava certo: em pleno início do protestantismo, ele fundou os 6 primeiros seminários da Europa, além de 740 escolas de Catecismo e vários hospitais e institutos para socorro dos doentes e dos mais necessitados, o que lhe valeu o apelido de 'pai dos pobres'. Era filho de um conde e sua mãe era Margarida de Medici, poderosa família de Milão, cujo irmão mais tarde se tornaria o Papa Pio IV. Realmente vivendo a evangélica pobreza, São Carlos Borromeu aproveitou todos recursos de que dispôs para ajudar aos carentes.


    Conforme sua vontade desde criança, aos 12 anos sua família entregou-o para ser consagrado a Deus, um costume naquele tempo. De notável inteligência, estudou na Universidade de Pávia e tornou-se Doutor em Direito Canônico com apenas 21 anos. E um ano mais tarde fundou a primeira Academia, uma espécie de universidade de assuntos religiosos para a formação de Sacerdotes, que serviu de modelo para os seminários.
    Para fortalecer a Doutrina da Igreja, promoveu 6 Sínodos Provinciais e 11 Diocesanos, foi orientador de muitas ordens, escreveu muitos documentos catequéticos e, para os seminários e as instituições que fundou, redigiu tão perfeitos e inspirados regulamentos que foram copiados por bispos do mundo inteiro. Também fundou uma nova congregação de Sacerdotes seculares, os Oblatos de Santo Ambrósio.
    Aos 24 anos São Carlos Borromeu foi ordenado Sacerdote, e motivou seu tio, então já eleito papa, a colocar em prática as resoluções do Concílio de Trento, que eram excelentes decretos dogmáticos e disciplinares, e assim sobremaneira revigorou a instituição da Igreja. Para tanto, rapidamente conquistou o apoio de jesuítas e capuchinhos, entre outros, e empreendeu uma profunda reforma administrativa na Igreja, apesar de enfrentar forte oposição de conservadores de várias ordens. Até chegou a sofrer um traiçoeiro atentado enquanto rezava, mas nem sequer se feriu, e logo tratou de perdoar o agressor.


    Quanto às resoluções do Concílio, entretanto, ele simplesmente fazia o mesmo que São Paulo e São Timóteo em relação ao Concílio de Jerusalém: "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e Anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na , e dia a dia cresciam em número." At 16,4-5
    Tão bem aceito era pela sociedade e por largos segmentos da Igreja, que várias vezes serviu como um atual Secretário de Estado, tratando de importantes assuntos com chefes de nações. Contudo, vendo o sofrimento dos mais pobres, atingidos pela peste, fez duros discursos contra a insensibilidade dos nobres, o que lhe rendeu fortes protestos até mesmo dentro da Igreja. Num gesto de desagravo, em 1579 o Papa Gregório XIII calorosamente acolheu-o em Roma.
    Mas, ao retornar, o governador de Milão organizou um carnaval para perturbar a Santa Missa que ele celebrava do primeiro domingo de Quaresma, e não mais cessou de oferecer-lhe oposição. Em seu leito de morte, porém, arrependeu-se e pediu a presença de São Carlos, que o perdoou e ministrou-lhe os Sacramentos.
    A peste, no entanto, continuava assolando Milão e mais de 100 padres já haviam falecido por prestar socorro e assistência espiritual aos enfermos, interiormente tocados pelo exemplo do nosso humilde Arcebispo nascido em berço de ouro, que era um dos mais ativos nesse gesto de caridade. De fato, São Carlos Borromeu fazia longos e frequentes jejuns e penitenciava-se com rigor, inclusive veladamente autoflagelando-se em nome do povo nas procissões, implorando a Deus por clemência.
    Da profundidade de suas reflexões, nós temos:

    "A oração é o princípio, o progresso e o complemento de todas virtudes."
    "O Rosário é a mais divina das devoções."
    "Se ao menos uma fagulha do divino amor acendeu-se em ti, não a mostres logo, não a exponhas ao vento! Mantém encoberta a lâmpada para não se esfriar nem perder o calor. Isto é, foge tanto quanto possível das distrações. Fica recolhido junto a Deus, evita as vãs conversas."
    "É impossível que te conserves casto se continuamente não vigiares sobre ti mesmo, pois a negligência traz mui facilmente consigo a perda da castidade."
    "Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus entregou-nos meios com que, se quisermos, com facilidade poderemos ser fortalecidos."
    "Jesus ensinou que sobretudo o amor deve ser o mestre de nosso apostolado, o amor que Ele quer exprimir, por nosso meio, aos fiéis a nós confiados, com a frequente pregação, com a salutar administração dos Sacramentos, com os exemplos de uma santa vida... e com o incessante zelo."
    "O Pai enviou Seu Único Filho a fim de libertar-nos da tirania e do poder do Demônio, convidar-nos para o Céu, revelar-nos os mistérios de Seu Celeste Reino, mostrar-nos a Luz da Verdade, ensinar-nos a honestidade dos costumes, comunicar-nos os germes das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros de Sua Graça e, enfim, adotar-nos como Seus filhos e herdeiros da Vida Eterna."
    "A Vinda de Cristo não aproveitou apenas àqueles que viviam na época do Salvador, mas que Sua força deveria ser igualmente comunicada a todos nós; contanto que, por meio da fé e dos Sacramentos, queiramos acolher a Graça que Ele nos concedeu e conduzir a vida segundo essa Graça, obedecendo-Lhe."
    "A Igreja ainda ardentemente deseja fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido de nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para espiritualmente habitar em nossos corações com a profusão de Suas Graças, se não opusermos resistência."
    "São estas as almas, para cuja Salvação mandou Deus Seu Único Filho Jesus Cristo… Indicou também, a cada um de nós Bispos, que somos chamados a participar na obra de Salvação, o mais sublime motivo de nosso ministério."
    "Se administras os Sacramentos, ó irmão, medita no que fazes; se celebras a Missa, medita no que ofereces; se salmodias no coro, medita a quem e no que falas; se diriges as almas, medita no Sangue que as lavou e, assim, tudo que é vosso se faça na caridade (1 Cor 16,14)."
    "Tua missão é pregar e ensinar? Estuda e entrega-te ao necessário para bem exerceres este encargo. Faze, primeiro, por pregar com a vida e o comportamento. Não aconteça que, vendo-te dizer uma coisa e fazer outra, zombem de tuas palavras, abanando a cabeça."
    "Exerces cura de almas? Não negligencies por isso o cuidado de ti mesmo, nem com tanta liberalidade dês aos outros que nada sobre para ti. Com efeito, é preciso lembrar-te das almas que diriges, sem que isto te faça esquecer da tua."
    "Quanto mais o governo temporal se coordena com o espiritual, e mais favorece-o e promove, tanto mais concorre para a conservação do Estado. Pois que, enquanto o superior eclesiástico procura formar um bom cristão com a autoridade e os meios espirituais, segundo seu fim, procura ao mesmo tempo e por necessária consequência formar um bom cidadão, como ele deve ser sob o governo político."

    Em constante contato com os enfermos, porém, não demorou até que ele também fosse contagiado, mas mostrava-se muito feliz por ter sido considerado digno de servir a Deus nas pessoas dos mais pobres. Pouco antes de morrer, disse: "Eis Senhor, eu venho. Vou já."
    Tão inspirador e cativante, na lista de seus pessoais amigos estão São Pio V, São Felipe Neri, São Félix de Cantalício, São Francisco da Borja e São André Avelino, entre outros renomados Santos. Muitas ordens religiosas o têm como padroeiro. O saudoso Papa Bento XVI disse dele: "Seu lema consistia em uma só palavra: 'Humilitas'. A humildade impulsionou-o, como ao Senhor Jesus, a renunciar a si mesmo para fazer-se servo de todos."
    Foi sepultado na Basílica de Santa Maria Nascente, em Milão, que data de 1386, onde suas relíquias são veneradas.


    São Carlos Borromeu, rogai por nós!