quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A Avareza


    A paixão por dinheiro e bens materiais leva o ser humano à falta de escrúpulos, pois assim despreza seus semelhantes, contrariando o que Jesus determinou: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo." Jo 15,12
    E o pior: a esquecer-se de Deus, a Quem deve amar sobre todas coisas: "... ama a Deus durante toda tua vida..." Eclo 13,18a
    Justamente Ele, o Doador de todos bens e dons, como São Paulo escreve a São Timóteo: "Exorta os ricos deste mundo a que não sejam orgulhosos nem ponham sua esperança em volúveis riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas coisas para delas fruirmos." 1 Tm 6,17
    O avarento, portanto, é um idólatra. Cegamente apegado às coisas materiais, além de nada partilhar e até deixar de usufruir de seus próprios bens, com frequência ele também é movido pela cobiça, pela ganância e pela inveja. Em tudo isso, mas especificamente na mesquinhez, o avarento atenta contra a Misericórdia de Deus. Diz o Eclesiástico: "A água apaga o ardente fogo e a esmola enfrenta o pecado. Deus olha para aquele que pratica a misericórdia, dele lembrar-Se-á no porvir. No dia de sua infelicidade, este achará apoio." Eclo 3,33-34
    Pois para muito além de meras doações, desde o início, através de Moisés, Deus já havia determinado a total supressão da pobreza em Israel: "Não deverá haver pobres no meio de ti, porque o Senhor, Teu Deus, certamente abençoá-te-á na terra que te dá como posse hereditária. Se no meio de ti houver um pobre entre teus irmãos, em uma de tuas cidades, na terra que te dá o Senhor, Teu Deus, não endurecerás teu coração e não fecharás a mão diante de teu irmão pobre. Mas abri-lhe-ás a mão e emprestá-lhe-ás segundo as necessidades de sua indigência. Guarda-te de olhar teu irmão pobre com um mau olho, sem nada lhe dar, porque ele clamaria ao Senhor contra ti, e isso para ti tornar-se-ia um pecado. Deves dá-lhe, e dá-lhe de bom coração, pois, por causa disso, o Senhor, Teu Deus, abençoá-te-á em todas empresas de tuas mãos." Dt 15,4.7-8.9b-10
    Ele traçou, porém, um triste prognóstico sobre a pobreza no mundo: "Nunca faltarão pobres na terra, e por isso Eu dou-te esta ordem: abre tua mão ao teu irmão necessitado ou pobre que vive em tua terra." Dt 15,11
    E Jesus deixou fortes palavras sobre esse assunto: "'Escrupulosamente guardai-vos de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas.' E propôs-lhe esta parábola: 'Havia um rico homem cujos campos muito produziam. E ele refletia consigo: 'Que farei? Porque não tenho onde recolher minha colheita.' Disse então ele: 'Farei o seguinte: derrubarei meus celeiros e construirei maiores. Neles recolherei toda minha colheita e meus bens. E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos. Descansa, come, bebe e regala-te!' Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Ainda nesta noite exigirão de ti tua alma. E as coisas que ajuntaste, de quem serão?' Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo, e não é rico para Deus.'" Lc 12,15-21
    A todos advertia da imperiosidade de uma radical escolha: "Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Lc 16,13
    Principalmente aos religiosos, pois para Deus essa prática é simplesmente abominável: "Ora, tudo isto ouviam os fariseus, que eram avarentos, e d'Ele zombavam. Jesus disse-lhes: 'Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece-vos os corações. Pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.'" Lc 16,14-15
    Ele só coroava os que já estavam realmente prontos, totalmente entregues à Divina Providência: "Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo." Lc 14,33
    E dizia dos divinos dons: "Dai de graça o que de graça recebestes!" Mt 10,8b
    Ora, tratando do que realmente é essencial ao bem viver, havia muito que estava nas Escrituras e Jesus invocou como primeiro Mandamento: "Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma e de todas tuas forças." Dt 6,5
    Porque ainda entre os 10 Mandamentos, fazendo menção a um dos pecados que comumente está associado à avareza, Deus terminantemente proibiu: "Não cobiçarás a mulher de teu próximo. Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence." Dt 5,21
    Ciente das tentações e amadurecido nos assuntos de , o salmista canta a Deus: "Inclinai-me o coração às Vossas ordens e não para a avareza." Sl 118,36
    E o Eclesiástico sentencia: "Nada há mais criminoso que a avareza. De quê se orgulha aquele que é terra e cinza? Nada há mais iníquo que o amor ao dinheiro. Aquele que o ama, chega até a vender sua alma. Ainda vivo, despojou-se de suas próprias entranhas." Eclo 10,8-10
    Para ele, a motivação do avarento é insana: "Para o avarento e cúpido homem a riqueza é inútil. De que serve o ouro ao invejoso? Quem injustamente acumula, e priva-se de seus bens, acumula para outros. Outro há de vir que esbanjará esses bens na devassidão. Para quem será bom aquele que é mau para si mesmo? Não terá nenhuma satisfação em seus bens. Nada é pior que aquele que consigo mesmo é avaro: eis aí o verdadeiro salário de sua maldade." Eclo 14,3-6
    Também diz que o avarento morre ainda em vida, tornando-se exemplo do morto vivo: "O olhar do avarento é insaciável a respeito da iniquidade, só ficará satisfeito quando tiver ressecado e consumido sua alma. O maldoso olhar só leva ao mal. Não será saciado com pão, mas será pobre e triste em sua própria mesa." Eclo 14,9-10
    Por isso, dos bens materiais e dos dons de que se dispõe, ele recomenda o sadio usufruto, a generosidade, a caridade e o pagamento do dízimo: "Meu filho, se algo tiveres, com isso faze algum bem a ti mesmo e a Deus apresenta dignas oferendas. Lembra-te de que a morte não tarda, e de que o pacto da moradia dos mortos te foi revelado, pois é lei deste mundo que é preciso morrer. Antes de morrer, faze bem a teu amigo e dá esmola ao pobre conforme tuas posses. Não te prives de um feliz dia, e não deixes escapar nenhuma parcela do precioso dom. Não será a outrem que deixarás o fruto de teus esforços e de teus trabalhos, para ser repartido por sorte? Dá e recebe, e justifica tua alma. Pratica a justiça..." Eclo 14,11-17
    Prudente, ele avisava de um grande perigo: "Se satisfizeres a cobiça de tua alma, ela fará de ti a alegria de teus inimigos." Eclo 18,31
    E com Sabedoria detectou nexos entre caridade e testemunho, e entre mesquinhez e difamação: "Muitos lábios abençoarão aquele que dá refeições com liberalidade, o testemunho prestado à honestidade dele é verídico. A cidade inteira resmunga contra aquele que dá de comer com mesquinhez, e o testemunho prestado à avareza dele é exato." Eclo 31,28-29
    O sagrado autor dos Provérbios claramente vê a mão de Deus atuando, tanto no destino do caridoso e como do mesquinho: "Aquele que dá ao pobre, não padecerá penúria, mas quem lhe fecha os olhos ficará cheio de maldições." Pr 28,27
    Pois Ele Se compadece de quem partilha, mas tem ojeriza à ambição: "O Senhor não deixa o justo passar fome, mas repele a cobiça do ímpio." Pr 10,3
    E a explicação é muito simples: a compaixão pelos pobres: "O generoso homem será abençoado, porque tira de seu pão para o pobre." Pr 22,9
    Assim como no Eclesiástico, nos Provérbios está o antagonismo entre a caridade e a mentira. De fato, o avarento não deturpa a Verdade? E não será melhor ser pobre que avarento? "O encanto de um homem é sua caridade: mais vale o pobre que o mentiroso." Pr 19,22
    Por isso, exortam à prontidão: "Não negues um benefício a quem o solicita, quando está em teu poder conceder-lho. Não digas ao teu próximo: 'Vai, volta depois! Eu dá-te-ei amanhã', quando já dispões de meios." Pr 3,27-28
    Eles garantem: "Há quem dá com liberalidade e obtém mais. Outros poupam demais e vivem na indigência. A generosa alma será cumulada de bens, e aquele que largamente dá, largamente receberá." Pr 11,24-25
    Movido pelo Espírito de Deus, o Profeta Miqueias vê e corajosamente denuncia a corrupção que assola pela cobiça, o que levaria à dominação da Samaria pelos assírios: "Suas mãos estão prontas para o mal: o príncipe exige um presente, o juiz cobra por suas sentenças, o grande abertamente manifesta suas cobiças, e todos tramam suas falcatruas." Mq 7,2b-3
    E São Tiago Menor diz porque os planos e as orações de alguns não prosperam: "Cobiçais, e não recebeis; sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que desejais; litigais e fazeis guerra. Não obtendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes vossas paixões." Tg 4,2-3
    Ele adverte: "Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que virão sobre vós. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e sua ferrugem dará testemunho contra vós, e como fogo devorará vossas carnes. Entesourastes nos últimos dias! Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tg 5,1-14
    E São Paulo admoesta São Timóteo, revelando a razão da ruína e da aflição de muita gente: "Porque nada trouxemos ao mundo, como tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do Demônio e em muitos insensatos e nocivos desejos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e  se enredaram em muitas aflições." 1 Tm 6,7-10
    Zeloso da Salvação, expressamente recomendava aos ricos: "Que pratiquem o bem, enriqueçam-se de boas obras, sejam generosos, comunicativos, ajuntem um sólido e excelente tesouro para seu futuro, a fim de conquistarem a verdadeira Vida." 1 Tm 6,18-19
    Ele mostrava-se absolutamente desapegado de bens materiais, tanto na carência como na fartura: "Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na penúria, e também sei viver na abundância. Estou acostumado a todas vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade." Fl 4,11-12
    Por fim, evocando uma passagem do Deuteronômio, os seguidores de sua tradição exclamam: "Vivei sem avareza. Contentai-vos com o que tendes, pois Deus mesmo disse: 'Não te deixarei nem desampararei (Dt 31,6).'" Hb 13,5
    Citando o Profeta Oseias, como caridade espiritual recomendam a total entrega de si à religiosidade, como prova de gratidão a Jesus: "Por Ele, sem cessar ofereçamos a Deus sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram Seu Nome (Os 14,2)." Hb 13,15
    Assim como as materiais doações, que não deixam de ser obra de fé: "Não negligencieis a beneficência e a liberalidade. Estes são sacrifícios que agradam a Deus!" Hb 13,16
    Inclusive nas festivas celebrações, como Moisés determinou: "Três vezes por ano, todos vossos varões apresentar-se-ão diante do Senhor Teu Deus, no lugar que Ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa dos Tabernáculos: não aparecerão diante do Senhor de mãos vazias. Cada um dará segundo o que tiver, em proporção às bênçãos que o Senhor, Teu Deus, lhe tiver dado." Dt 16,16-17
    Pois, entre outros motivos, Jesus afirmou que as ilusões e a cobiça sufocam e matam Sua Palavra no coração das pessoas: "Outros ainda recebem a semente entre os espinhos, ouvem a Palavra, mas as mundanas preocupações, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e tornam-na infrutífera." Mc 4,18-19
    Ao contrário de uma vida de ganância, que só aumenta a iniquidade, Ele propôs a justiça de Deus, que ensina a partilhar. Assim, com a ajuda da Divina Providência, todos terão de tudo: "Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo." Mt 6,33


A EXCELÊNCIA DA CARIDADE

    Ao ressaltar a importância da caridade, e para criticar a avareza, Jesus vai exaltar a atitude do seguidor de uma doutrina que se opunha ao judaísmo: "Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, nelas deitando azeite e vinho. Colocou-o sobre sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria, e dele tratou. No seguinte dia, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: 'Trata dele, e o quanto gastares a mais na volta to pagarei.'" Lc 10,33-35
    E São Paulo, em perfeita inspiração, escreveu: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o recíproco amor, porque aquele que ama seu próximo cumpriu toda a Lei. A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da Lei." Rm 13,8.10
    Ao aconselhar os colossenses, ele disse: "Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." Cl 3,14
    De singular Sabedoria, ele percebeu que a Salvação se dará através da "... fé que opera pela caridade." Gl 5,6
    Largamente recomendava-a como a grande meta de todo cristão: "Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós Se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor. Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a Santos. Porque bem o sabei: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento, verdadeiros idólatras!, terá herança no Reino de Cristo e de Deus." Ef 5,2-3.5
    Por isso, preparava as igrejas para auxiliarem-se umas às outras, conforme as necessidades: "Com respeito ao auxílio a prestar aos irmãos, acho quase supérfluo continuar a escrever-vos. Porquanto estou ciente de vossa boa vontade, que enalteço, para glória vossa, ante os macedônios, dizendo-lhes que a Acaia também está pronta desde o ano passado. O exemplo de vosso zelo tem estimulado a muitos." 2 Cor 9,1-2
    Ele especialmente exalta a caridade feita pelos mais pobres, o que é sempre um tocante exemplo, como faziam as igrejas da província romana da Macedônia: "Em meio a tantas tribulações com que foram provadas, generosamente e com transbordante alegria distribuem, apesar de sua extrema pobreza, os tesouros de sua liberalidade. Sou testemunha de que, segundo suas forças, e até além dessas forças, espontaneamente contribuíram e com muita insistência pediam-nos o favor de poderem associar-se neste socorro destinado aos irmãos. E ultrapassaram nossas expectativas. Primeiro deram-se a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus." 2 Cor 8,2-5
    Até evocou uma frase de Nosso Salvador que não consta nos Evangelhos: "Em tudo tenho-vos mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto Ele mesmo disse: 'É maior felicidade dar que receber!'" At 20,35
    E citando um salmo, torna a exortar: "Cada um dê conforme o impulso de seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama aquele que dá com alegria. Poderoso é Deus para cumular-vos com toda espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas coisas o necessário, muito ainda vos reste para toda espécie de boas obras. Como está escrito: 'Espalhou, deu aos pobres, para sempre subsiste sua justiça (Sl 111,9).' Realmente, o serviço desta obra de caridade não só provê as necessidades dos irmãos, mas também é abundante fonte de ações de graças a Deus." 2 Cor 9,7-9.12
    Pedia, contudo, em especial pelos membros da Igreja, que é o sustentáculo da Verdade (1 Tm 3,15): "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto tempo temos, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 6,9-10
    Pois Jesus vai reafirmar a sentença de Deus do Deuteronômio (Dt 15,11): "Vós sempre tereis convosco os pobres e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem." Mc 14,7a
    E lançou mais uma triste profecia: o crescimento da iniquidade no fim dos tempos: "E ante o crescente progresso da iniquidade, a caridade de muitos esfriará." Mt 24,12
    Mas como São Pedro lembrou os Provérbios, temos que perseverar na partilha de bens e dons, pois "... a caridade cobre uma multidão de pecados (Pr 10,12)." 1 Pd 4,8
    Aliás, esta é uma das primeiríssimas missões da Igreja, como instaram São Pedro, São Tiago Menor e São João Evangelista a São Paulo, São Barnabé e São Tito: "Apenas nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que precisamente era minha intenção." Gl 2,10b
    Sem dúvida, o próprio Arcanjo São Rafael deu esta recomendação a Tobit e a Tobias, seu filho: "Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos escondidos tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a Misericórdia e a Vida Eterna." Tb 12,8-9
    O próprio Tobit, julgando estar em leito de morte, já havia ensinado a Tobias: "Dá esmola de teus bens e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, tampouco Deus Se desviará de ti. Sê misericordioso segundo tuas posses. Se tiveres muito, abundantemente dá; se tiveres pouco, desse pouco dá de bom coração. Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade: porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas. A esmola será, para todos que a praticam, um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo." Tb 4,7-12
    O Eclesiástico, como visto, também exaltou essa forma caridade: "Todavia, sê indulgente para com o miserável e não o faças esmorecer depois da esmola. Por causa do Mandamento, socorre o pobre e não o deixes ir de mãos vazias em sua indigência. Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de preservar-te de todo mal. Para combater teu inimigo, ela será mais poderosa arma que o escudo e a lança de um valente." Eclo 29,11-12.15-16
    Até advertiu: "Meu filho, não negues esmola ao pobre nem dele desvies os olhos. Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência. Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria, não rejeites o pedido do aflito... Não desvies os olhos do indigente para que ele não se zangue. Aos que pedem, não dês motivo de amaldiçoarem-te pelas costas, pois a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma será atendida. Aquele que o criou, atendê-lo-á." Eclo 4,1-4a.5-6
    Também exaltou os empréstimos, mesmo sob todo risco: "Empresta a teu próximo quando ele estiver necessitado, e de teu lado, paga-lhe o que lhe deves no aprazado tempo. Cumpre tua palavra e lealmente procede com ele, e em toda ocasião acharás o que te é necessário. Perde teu dinheiro em favor de teu irmão e de teu amigo, mas não o escondas debaixo de uma pedra para ficar perdido. Gasta teu tesouro segundo o preceito do Altíssimo, e isso te aproveitará mais que o ouro. O homem de bem responsabiliza-se pelo próximo. O homem sem pejo abandona-o a si próprio." Eclo 29,2-3.13-14.19
    E firmou: "A esmola do homem é para Deus como um selo, e para Ele a beneficência do homem é como a pupila dos olhos." Eclo 17,18
    De fato, elas foram decisivas para o representante do primeiro grupo de pagãos a receber o Espírito Santo: "Havia em Cesareia um homem, por nome Cornélio, centurião da coorte que se chamava Itálica. Era religioso. Ele e todos de sua casa eram tementes a Deus. Dava muitas esmolas ao povo e constantemente orava. Este homem claramente teve numa visão, pela nona hora do dia: aproximou-se dele um anjo de Deus e chamou-o: 'Cornélio!' Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: 'Que há, Senhor?' O anjo replicou: 'Tuas orações e tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança.'" At 10,1-4
    Enfim, temos as indicações do próprio Jesus sobre o poder que elas têm: "Disse-lhe o Senhor: 'Vós, fariseus, limpais o que está por fora do vaso e do prato, mas vosso interior está cheio de roubo e maldade! Insensatos! Quem fez o exterior também não fez o conteúdo? Antes dai em esmola o que possuís, e todas coisas sê-vos-ão limpas.'" Lc 11,39-41
    Ele já havia pregado aos discípulos, como vimos, a total entrega à Divina Providência. E vai arrematar: "Vendei o que possuís e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se gastam, um inesgotável tesouro nos Céus, aonde não chega o ladrão e não o destrói a traça." Lc 12,33
    E Sua Igreja, para ser exemplo, deve abraçar a plena fé: "Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros, mas Vosso Pai Celeste alimenta-as. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só segundo à duração de sua vida? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, Vosso Pai Celeste sabe que necessitais de tudo isso." Mt 6,25-27.31-32
    Como virtude que se opõe à avareza, portanto, a caridade é tão preciosa que sem ela nem mesmo a esmola e a doação têm valor. Diz São Paulo: "Ainda que distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante." 1 Cor 13,3-4
    Ora, Jesus advertiu da caridade feita por vaidade: "Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto a vosso Pai que está no Céu. Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em Verdade, digo-vos: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, tua esmola far-se-á em segredo, e Teu Pai, que vê o escondido, recompensá-te-á." Mc 6,1-4
    Como ensinamento, Ele abertamente dizia: "Não espero dos homens Minha Glória." Jo 5,41
    Seu foco exclusivamente era as celestiais recompensas: "Igualmente dizia àquele que O tinha convidado: 'Quando deres alguma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem parentes, nem ricos vizinhos. Porque, por sua vez, eles te convidarão e assim te retribuirão. Mas, quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na ressurreição dos justos.'" Lc 14,12-14
    Numa síntese, Ele citou quase que só a caridade material como critério do Juízo Final: "Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e deste-Me de comer; tive sede e deste-Me de beber; era peregrino e acolheste-Me; nu e vestiste-Me; enfermo e visitaste-Me; estava na prisão e viestes a Mim." Mt 25,34-36
    E em Sua última Palavra sobre o assunto, deixou uma dura Palavra para os orgulhosos ricos: "Conheço tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: 'Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito', e não sabes que és tu o infeliz: miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de Mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; alvas roupas para vestir-te, a fim de que não apareça a vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de modo que claramente possas ver." Ap 3,15-18

    "Recebei, ó Senhor, nossa oferta!"