quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Santo Antônio Galvão


     O primeiro nascido no Brasil a ser canonizado era de rica família, e em 1752, aos 13 anos, por suas evidentes inclinações religiosas, foi mandado para o Colégio de Belém, um seminário jesuíta em Cachoeira, no Recôncavo Bahiano, onde já estudava seu irmão José, e cuja igreja foi concluída em 1686.


    Natural de Guaratinguetá, São Paulo, seu pai, português, era comerciante e capitão-mor da localidade, e sua mãe de família de ricos bandeirantes, ambos muito religiosos.
    Antônio Galvão de França queria ser Sacerdote jesuíta, mas com a perseguição e expulsão dessa Ordem do Brasil, por ser contrária à escravidão, em 1756 deixou o Colégio, a conselho de seu pai, e voltou para casa. Por sua inteligência e por prestígio da família, poderia ter seguido com sucesso qualquer carreira. Sua alma, porém, já tinha uma forte convicção: em 1760, aos 21 anos entrou no convento franciscano de São Boaventura de Macacu, em Itaboraí, Rio de Janeiro, hoje em ruínas, onde adotou o nome de Antônio de Sant'Ana Galvão, em homenagem à Santa mãe de Nossa Senhora, que tinha a devoção de sua família.


    Professou votos em 1761, e no seguinte ano foi ordenado Sacerdote na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de onde seguiu para o Convento de São Francisco, na cidade de São Paulo, estudar Filosofia. Na viagem passou por Guaratinguetá, onde celebrou sua primeira Santa Missa, para grande alegria de sua família e de toda comunidade.
    Com o próprio sangue, assinou sua consagração como 'servo e escravo' da Santíssima Virgem. Em 1768 foi escolhido como pregador, confessor e 'porteiro', espécie de reitor, e logo a Câmara Municipal de São Paulo o declarou 'novo esplendor do Convento'. Em 1770, foi convidado a fazer parte da Academia Paulistana de Letras, por seus grandes dons para a poesia, que empregava exclusivamente para assuntos de .
    Desde 1769 era o confessor das religiosas do Recolhimento de Santa Teresa, carmelitanas descalças, onde conheceu a irmã Helena Maria do Espírito Santo, uma piedosa freira que tinha visões e recebia mensagens de Jesus. Prudente, Frei Galvão estudou as mensagens com a ajuda de outros religiosos e, reconhecendo-lhes a autenticidade, ajudou a freira a fundar outro Recolhimento, como pedia Nosso Salvador, ao qual foi dado o nome de Convento de Nossa Senhora da Concepção da Luz.


    Esse mosteiro, iniciado em 1774, foi erguido a partir de uma capela quinhentista e tornou-se a obra da vida de Santo Antônio Galvão, pois a irmã Helena morreu havia apenas um ano do início da construção. Era o abrigo para um novo carisma, a Ordem da Imaculada Conceição, também chamada de Ordem Concepcionista, cujo estatuto foi escrito por ele mesmo.
    Aí nosso Santo também se revelou excelente arquiteto, concebendo e executando todo projeto, e sempre que podia assumia os trabalhos de pedreiro.
    No ano seguinte, o governo da província retirou a autorização para a nova casa, o que Frei Galvão obedientemente acatou. Mas as freiras resistiram e, com o apoio da população, as obras foram novamente autorizadas.


    Em 1781, nosso Santo foi nomeado mestre dos noviços do Convento de Macacu, no estado do Rio de Janeiro, mas os apelos das irmãs, do bispo e das autoridades de São Paulo logo o trouxeram de volta. O Senado da Câmara de São Paulo, hoje equivalente à Câmara de Vereadores, registrou este apelo: "... os moradores desta cidade não poderão suportar por um único momento a ausência do dito religioso que, pelos seus costumes e exemplaríssima vida serve de honra e consolação a seus irmãos e a todo o povo da Capitania."
    Pouco mais tarde, por duas vezes vai ser eleito Guardião do Convento de São Francisco.
    Em missionária viagem, em 1808, ele estabeleceu a devoção a Nossa Senhora das Brotas, em Piraí do Sul, no Paraná, ao doar a uma moradora uma imagem de Nossa Senhora, que mais tarde se revelou milagrosa e mereceu, pela devoção popular, a construção de um santuário.


    Em 1811, fundou o Convento de Santa Clara, em Sorocaba, interior de São Paulo.


    Como era muito procurado por aflitas pessoas, pois todos facilmente percebiam sua santidade, numa ocasião, sem poder atender a um distante chamado, pediu que entregassem ao enfermo um pedaço de papel com uma frase do Ofício de Nossa Senhora: "Após o parto, permaneceste virgem: 'Ó Mãe de Deus, intercedei por nós.'" Recomendou que o pedaço de papel fosse engolido com água, como remédio. Era um jovem com fortes cólicas, mas as dores foram imediatamente aliviadas e ele expeliu uma grande quantidade de cálculos renais. Detalhe: os comprimidos medicinais ainda não existiam.
    Em outro caso, um senhor pediu-lhe, desesperado, que fosse em socorro de sua esposa, pois passava por um difícil parto. Também sem poder ir ao local, mais uma vez Frei Galvão recorreu à 'pilula' e, logo que ingerida, a mãe e a criança foram salvas. Como era muito conhecido, e dele já se esperava milagres, toda gente adotou essa devoção e Frei Galvão teve que atribuir às freiras a confecção das 'pílulas' para atender à grande procura.
    Além do dom de curar, que em vida já lhe era amplamente reconhecido, a ele ainda são atribuídos outros místicos fenômenos como discernimento de espírito, profecia, levitação e bilocação. Mas o que chamava mais atenção era que todos, absolutamente todos experimentavam uma indizível Paz à sua volta.


     Morreu em 1822, e seu velório foi acompanhado por uma grande multidão. E como muitas pessoas queriam um pedaço de seu hábito como relíquia, de tanto cortarem, logo a veste só lhe chegava à altura dos joelhos. Os frades quiseram reparar-lhe a 'desfeita'. No entanto, como não tinha outro hábito, tão humilde que era Frei Galvão, vestiram-lhe o hábito de um confrade. Por ser muito alto, porém, o outro hábito também só lhe cobriu até os joelhos. Assim o carinho do povo de fé acabou mesmo determinando o tamanho de sua última veste.
    O Papa Bento XVI, em homenagem a maior nação católica, veio canonizá-lo aqui no Brasil.
    O Mosteiro da Luz, em cuja capela o sepultaram, foi tombado Patrimônio Cultural da Humanidade, e na ala esquerda do térreo, antiga casa do capelão, funciona o Museu de Arte Sacra de São Paulo.


    Santo Antônio Galvão, rogai por nós!