domingo, 9 de julho de 2023

Santa Paulina


    Amabile Lucia Visintainer nasceu em 1865, em Trento, Itália, de pais muito católicos. Como a condição deles era muito humilde, aos 8 anos nossa Santa já trabalhava como tecelã e aos 10 a família precisou imigrar para o Brasil, indo morar no interior do estado de Santa Catarina, na cidade de Nova Trento.
    Gostava tanto de ir à Santa Missa, e para isso caminhava 12 quilômetros duas vezes por semana, que o padre convidou a ela e sua amiga, Virginia Nicolodi, também imigrante italiana, para assumirem trabalhos na capela de São Jorge, onde cuidavam da manutenção e catequizavam.
    Aos 22 anos perdeu sua mãe, e, mesmo com os trabalhos na capela, também assumiu todos serviços domésticos, nos quais já ajudava.
    Aos 24 teve o primeiro sonho com Nossa Senhora, que descreveu assim: "Eu encontrava-me diante de um lindo prédio desabitado, de dois andares… Entrei e deparei-me em uma sala com duas cadeiras. De súbito, surgiu uma lindíssima senhora, em meio a pequenas flores brancas. Vestia alvíssima túnica e, à cintura, uma faixa azul celeste… Logo achei ser Nossa Senhora de Lourdes, pois se vestia igual à sua imagem."
    Na noite seguinte, noutro sonho a Santíssima Virgem apareceu-lhe com a imagem que conhecemos de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, e disse: "Quero que inicies uma obra... Trabalharás para a Salvação de minhas filhas!..." Realmente surpresa, Amabile respondeu-lhe: "Mas como fazer isso, Minha Mãe? Não tenho meios, sou tão miserável, ignorante…" E nessa angústia acordou. Contudo, em breve oração, logo tratou de completar sua resposta: "Servir-vos, Minha querida Mãe… sou uma pobre criatura, mas para satisfazer vosso desejo prometo esforçar-me o máximo que eu puder!"
    Na terceira noite, em mais um sonho, ela viu um parreiral e entre os cachos de uvas maduras apareceram jovens de diferentes etnias, vestidas de branco. É quando Nossa Santíssima Mãe vai dizer-lhe: "Eis as filhas que te confio!"
    Em 1890 seu pai casou-se novamente, e Amabile, aos 25 anos e agora livre das obrigações domésticas, sempre acompanhada de sua amiga Virginia, deixaram suas casas para cuidar de uma mulher enferma de câncer. A comunidade onde viviam, já reconhecendo-lhes uma autêntica vocação para caridade, não via pessoas mais indicadas para cuidar dessa senhora.
    Elas fizeram um casebre para melhor acolhê-la e ali também morarem. Chamaram-no carinhosamente de Hospitalzinho de São Virgílio, pois, com a ajuda da população, também serviria para material e espiritualmente amparar doentes e desamparados, que por ali aparecessem. Hoje dele há uma réplica no santuário, pois de tão modesto o original desfez-se.


    Essa seria a primeira casa da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Outras jovens, movidas por tão belo exemplo, logo juntar-se-iam a elas. A primeira foi Teresa, também imigrante italiana.
    Em 1895, o Bispo de Curitiba, Dom José Camargo, foi a Nova Trento, cidade onde moravam, e concedeu a aprovação diocesana à Congregação. No fim do mesmo ano, Amabile, Virgina e Teresa fizeram profissão religiosa e adotaram os nomes de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus, Irmã Matilde da Imaculada Conceição e Irmã Inês de São José, respectivamente.
    Em 1896 abriram o noviciado e viram-se animadas por um expressivo número de candidatas, que logo devotamente entregavam-se para trabalhar em escolas, tecelagem e até agricultura. Tudo faziam para manter a casa de formação e levar adiante o carisma da Congregação, que é prestar assistência aos carentes, entre órfãs, doentes e idosos. Tinham até um pequeno engenho, que era um meio de dar emprego e levantar recursos.


    Em 1903 Irmã Paulina assume, com as duas irmãs fundadoras, outro desafio: transferem-se para a cidade de São Paulo, a fim de criar o que viria a ser o Pequeno Abrigo para Filhos de Imigrantes e Escravos.
    Em 1909, ao completar seus anos no cargo de Madre Superiora, ela ofereceu-se para servir como uma simples irmã. Tudo fazia para "... que a Congregação vá adiante e, por seu intermédio, Nosso Senhor seja conhecido, amado e adorado por todos e em todo mundo..."
    No dia seguinte foi enviada a Bragança Paulista, onde trabalhou por 1 ano na Santa Casa e 8 anos no Asilo São Vicente de Paulo, em absoluto voto de silêncio. Era parte de um longo período de recolhimento, oração e contemplação, até seu falecimento aos 76 anos.
    Em 1938, fazendo flores artificiais, Irmã Paulina feriu-se no dedo médio da mão direita. Por não aceitar parar de trabalhar, e sendo diabética, foi acometida de gangrena, teve que amputar o dedo e em seguida o braço, mas ela não se lamentava: "Deus pediu-me o dedo, depois o braço. Mas por que negar se sou toda dele? Estou devolvendo aquilo que Ele me deu… Que o Nome d'Ele seja louvado em toda parte, por todas pessoas e em todos momentos."
    A partir de 1940, a diabete cada vez mais foi tirando-lhe a saúde até ficar sem a visão. Em 1942, por fim, entregou sua alma ao Pai.
    A devoção que o povo lhe tem chegou à cidadezinha de Vigolo Vattaro, na Itália, e sua casa natal, onde moraram antes de vir ao Brasil, teve o porão transformado em oratório.


    Ela costumava dizer consigo mesma: ", fé, alma minha, para fazer somente a Vontade de Deus."
    Dizia às irmãs: "Caridade, caridade, caridade. Enquanto tiverdes caridade, minhas filhas, tereis tudo. Ficai sempre alegres e contentes."
    Não via empecilho para servir a Deus na pessoa dos carentes: "Trabalhem para a Glória de Deus. Iremos para as Índias, para o Alaska, bem longe."
    Sua perseverança era simples e tocante: "Vamos passo a passo, mas sempre em frente."
    Era movida por uma grande convicção: "O Senhor não deixará de ajudar-nos."
    Feliz, em tudo via as mãos de Jesus: "Quantas provas de amor nos dá o Senhor... Sinto-me como no Céu de contentamento."
    E conhecia muito bem os divinos afagos: "A presença de Deus é-me tão íntima que me parece impossível perdê-la. E esta presença proporciona à minha alma uma alegria que não posso explicar."
    Primeira pessoa a ser canonizada no Brasil, celebração que coube ao amado Papa São João Paulo II, seu nome de freira foi mantido. Ele bem demonstra sua compaixão pelos necessitados e a vocação que escolheu para cumprir: Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Ora, falando sobre a caridade, o próprio Cristo afirmou: "... todas vezes que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes." Mt 25,40
    Em Nova Trento foi construído um belo santuário em sua homenagem.


    Foi sepultada em São Paulo, na Capela do Educandário da Sagrada Família, nome que ela mesma escolheu, na sede da Congregação, onde em anos recentes teve suas relíquias recompostas em cera para a veneração de seus devotos.





    Santa Paulina, rogai por nós!