domingo, 30 de abril de 2023

Jesus Submisso


    É comum ver pessoas formulando ideias sobre Jesus. Na verdade, são muitas especulações e a imaginação vai longe. Mas é preciso ater-se a uma confiável base, e as fontes realmente sérias são a Sagrada Tradição e as Escrituras. Apócrifos existem vários, e muito mais são as interpretações que dão aos fatos. Por isso, a Igreja, desde os primórdios, guiada pelo Espírito Santo e representada pelos Apóstolos e seus Bispos, tudo estudou e decidiu-se em favor do que havia de mais fiel. E o que ficou da Vida de Jesus foram os 4 Evangelhos que conhecemos, como bem relatou Santo Irineu que viveu no século II, ou, ainda antes dele, São Policarpo, que foi discípulo de São João Evangelista.
    O próprio São Lucas, e em primeiras palavras, registrou essa variedade de escritos dos que tentaram apossar-se da História: "Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós..." Lc 1,1
    Com isso, entre fantasiosas interpretações e os realmente inspirados livros, muitos detalhes de suma importância foram e são perniciosamente deturpados. A imagem de um Jesus dado a liberalidades espirituais, ou 'revolucionário' sob aspectos sociológicos, por exemplo, não passam de devaneio, pois o que se tem é que Ele foi fidelíssimo à religião judaica até o último suspiro. Como São Mateus escreveu, Ele mesmo afirmou: "Não julgueis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para aboli-los, mas sim para levá-los à perfeição." Mt 5,17
    Isso claramente mostra que Ele nada tinha de radical reformador, mas é, por excelência, o aperfeiçoador. Numa palavra, Ele é o Salvador anunciado no Antigo Testamento, que decisivamente veio cumprir as profecias como disse aos religiosos de Jerusalém: "Vós perscrutais as Escrituras julgando nelas encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    Referindo-Se ao grande líder do judaísmo, Ele disse: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito." Jo 5,46
    Ou ainda sobre o grande patriarca dos judeus: "Respondeu Jesus: 'Se glorifico a Mim mesmo, Minha Glória não é nada. Meu Pai é Quem Me glorifica, Aquele que dizeis ser Vosso Deus e, no entanto, não O conheceis. Eu, porém, conheço-O e, se dissesse que não O conheço seria mentiroso como vós. Mas conheço-O e guardo Sua Palavra. Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver Meu Dia. Viu-o e ficou cheio de alegria." Jo 8,54-56


VIDA HUMILDE

    Enquanto mero ser humano, porém, Jesus viveu a total submissão aos desígnios de Deus, e entre eles, claro, os preceitos do próprio Antigo Testamento. São Paulo diz o motivo: "... a fim de que Ele seja o Primogênito entre uma multidão de irmãos." Rm 8,29b
    E assim o foi desde o Nascimento, que se deu na mais humilde pobreza como São Lucas relatou: "E deu à luz Seu Primogênito Filho, e, envolvendo-O em faixas, reclinou-O numa manjedoura, porque para eles não havia lugar na hospedaria." Lc 2,7
    Na Carta aos Gálatas, São Paulo anotou Sua estrita condição de judeu: "... Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma mulher e submetido a uma lei..." Gl 4,4
    E São José e Nossa Senhora, não obstante a perseguição perpetrada por Herodes, com Ele cumpriram todas obrigações da Lei, desde a circuncisão: "Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-Lhe posto o Nome de Jesus, como o anjo Lhe tinha chamado, antes de ser concebido no materno seio." Lc 2,21
    São Lucas também narrou o rito de purificação de Nossa Santíssima Mãe, bem como a Apresentação do Menino Jesus no Templo, tudo feito conforme a Lei: "Concluídos os dias de sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-nO a Jerusalém para apresentá-Lo ao Senhor..." Lc 2,22
    E a julgar pela da Santíssima Virgem, muito bem expressa no Magnificat, podemos imaginar a criação que Santa Ana, sua mãe, havia-lhe dado. Apesar de muito jovem, com perfeito conhecimento da Graça e inspirada pelo Divino Paráclito, ela canta a Deus proclamando Sua justiça para com os humildes, que se curvam à Sua vontade: "Manifestou o poder de Seu braço, desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos." Lc 1,51-53
    Ela mesma havia dado mostra de submissão a Deus, quando respondeu ao Arcanjo Gabriel no dia da Anunciação: "Então disse Maria: 'Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.'" Lc 1,38a
    A Sagrada Família, portanto, era perfeitamente religiosa e fiel cumpridora dos judaicos preceitos, como a Páscoa: "Tendo Ele atingido 12 anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa." Lc 2,42
    Nesse episódio, porém, quando foi reencontrado no Templo em Jerusalém, Jesus já sinalizava, desde o início de Sua adolescência, para uma obediência que iria muito além da maternidade de Santa Maria e da paternidade legal de São José: "Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na Casa de Meu Pai?" Lc 2,49
    Mas retornou com eles, e em tudo obedecia-lhes: "Em seguida, desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso." Lc 2,51
    Algumas correntes de pensamento aventam-se a atribuir outras histórias aos chamados 'anos ocultos da vida de Jesus'. Mas isso é tão somente malícia, ranço de mentirosos. Com efeito, ainda no início de Sua vida pública, o próprio povo de Nazaré reconhece-O e com transparente clareza revela qual era Sua ocupação, ou seja, a vida que Ele sempre levou, principalmente após a morte de São José. São Marcos registrou o espanto de Seus conterrâneos com Sua Sabedoria e Seus milagres, quando Ele começou a pregar: "Não é Ele o carpinteiro?" Mc 6,3
    De fato, Maria, que enviuvou cedo, não tinha quem a sustentasse senão Jesus, pois não tinha outros filhos. E Ele, amoroso Filho e perfeitamente obediente à Lei judaica, assumiu o trabalho na carpintaria, pois assim manda o quarto Mandamento: "Honra teu pai e tua mãe..." Ex 20,12
    E a relação de Jesus com Seu pai terreno também era permeada de amor e respeito. Tanto que, ao começar a pregar, Ele foi amplamente reconhecido pelo povo da Galileia por Sua intimidade com São José, como apontou São Mateus: "Não é este o filho do carpinteiro?" Mt 13,55
    Assim foi que os primeiros Apóstolos O identificaram, logo após ser batizado por São João Batista: "Filipe encontra Natanael e diz-lhe: 'Achamos Aquele de Quem Moisés escreveu na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José.'" Jo 1,45


    Antes de iniciar Sua Missão, Jesus também submeteu-Se ao Batismo feito pelo Último Profeta do Antigo Testamento, fato que Ele mesmo vai atestar: "A Lei e os Profetas duraram até João." Lc 16,16
    Tanto que São João Batista estranhou Seu gesto, mas logo o acatou porque Jesus alegou que assim se estava cumprindo a Lei: "João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim?' Mas Jesus respondeu-lhe: 'Deixa por agora, pois convém que cumpramos a completa justiça.' Então João cedeu." Mt 3,14-15
    Sem dúvida, o sacerdote Zacarias havia profetizado nestes termos a missão de seu filho, São João Batista: "E tu, menino, serás chamado Profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e prepará-Lhe-ás o caminho, para dar a Seu povo conhecer a Salvação pelo perdão dos pecados." Lc 1,76-77
    E foi exatamente isso que fez o Batista, tomando Confissão e pregando a penitência: "Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia. Dizia ele: 'Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus.' Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda vizinhança do Jordão vinham a ele. E confessavam seus pecados, e por ele eram batizados nas águas do Jordão." Mt 3,1-2.5-6
    Aliás, foi isso que pregou o próprio Cristo desde o início de Sua vida pública: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    E enquanto fazia Suas pregações, os Apóstolos também ministravam o batismo instituído por São João Batista, isto é, demandando prévia confissão de pecados: "Em seguida, foi Jesus com Seus discípulos para os campos da Judeia e ali deteve-Se com eles, e batizava. ... se bem que não era Jesus quem batizava, mas Seus discípulos..." Jo 3,22;4,2
    Igualmente assim Ele ordenou aos Apóstolos, após instituí-los: "Então chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos. Eles partiram e pregaram a penitência." Mc 6,7.12
    E depois de ressuscitar, explicou-lhes o sentido de Sua Missão, pedindo que eles mantivessem essa prática depois de Sua Ascensão aos Céus: "Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém." Lc 24,46-47
    Em Seu Batismo, no entanto, Jesus não demonstrou apenas reverência à vocação de São João Batista, mas principalmente condescendência com a condição humana de todo povo, juntando-Se a reconhecidos pecadores que iam até ele. E foi essa humildade que Ele cobrou dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos: "João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos e as prostitutas, porém, creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para nele crerdes." Mt 21,32
    Com efeito, o Profeta Isaías havia previsto a humildade com que o Salvador Se manifestaria: "Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas." Is 42,1
    E Jesus mesmo confirmou-o: "Pois desci do Céu não para fazer Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou." Jo 6,38
    Ele tinha como nada Sua condição humana: "Jesus tomou a palavra e disse-lhes: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: de Si mesmo o Filho não pode fazer coisa alguma. Mas o Pai, que em Mim permanece, é que realiza Suas próprias obras.'"Jo 5,19a;14,10b
    Também disse da Palavra de Deus que anunciava: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E sei que Seu Mandamento é Vida Eterna. Portanto, o que digo, digo-o segundo falou-Me o Pai." Jo 12,49-50
    Eis como São João Evangelista apresentou Jesus: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós, e vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    Jesus falava, contudo, de uma relação de amor: "O mundo, porém, deve saber que amo o Pai, e procedo como Ele Me ordenou." Jo 14,31a
    Relação essa que se dá em função da Revelação, como explicou: "... Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai, e persisto em Seu amor." Jo 15,10b
    Ele ensinou-nos a agir do mesmo modo: "E se o servo tiver feito tudo que lhe ordenara, porventura fica o Senhor devendo-lhe alguma obrigação? Assim também vós, depois de terdes feito tudo que vos foi ordenado, dizei: 'Somos inúteis servos. Apenas fizemos o que devíamos fazer.'" Lc 17,9-10
    Abertamente pregava: "Em seguida, dirigiu-se a todos: 'Se alguém quer vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua Cruz e siga-Me. Porque, quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas quem sacrificar sua vida por amor a Mim, salvá-la-á.'" Lc 9,23-24
    E no Pai Nosso, instou-nos a aceitar: "... seja feita Vossa vontade, assim na terra como no Céu." Mt 6,10b
    Pois como São Paulo escreve aos romanos, nós sequer sabemos pedir: "Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos." Rm 8,26
    E era exatamente por obedecer à Lei com absoluta fidelidade que Jesus era respeitado pelo povo: "Maravilhavam-se de Sua Doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas." Mc 1,22
    Atento às religiosas práticas, Ele frequentava as casas de oração desde criança, e durante Suas pregações manteve esse hábito enquanto pôde, por causa das multidões, a começar por Seu lugar de origem: "Dirigiu-se a Nazaré, onde Se criara. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo Seu costume, e levantou-Se para ler." Lc 4,16
    Porque Seus milagres logo despertaria toda nossa carência de Deus, como quando curou um leproso ainda na Galileia: "Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-Se fora, nos despovoados lugares, e de toda parte vinham ter com Ele." Mc 1,45
    São Mateus também anota, desde Sua região natal, Sua preferência pelos lugares apropriados para o culto: "Jesus percorria toda Galileia, ensinando em suas sinagogas..." Mt 4,23
    E assim também em todo Israel: "Jesus percorria todas cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade." Mt 9,35
    Desde a infância em companhia de Sua família, como vimos, Jesus anualmente ia ao Templo de Jerusalém por ocasião da Páscoa. Ele mesmo deu testemunho dessa religiosa prática, ao ser julgado por Pilatos: "Jesus respondeu-lhe: 'Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no Templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas.'" Jo 18,20
    Ora, Ele respeitava e atendia aos pedidos dos chefes das sinagogas, como no caso da ressurreição da filha de Jairo: "Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada." Mt 9,23
    Pedia que os agraciados com Seus milagres se apresentassem aos sacerdotes judeus de então, para que cumprissem a Lei e as obras de Deus fossem glorificadas: "Jesus então disse-lhe: 'Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura.'" Mt 8,4
    E guardava os sábados: "Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-Se a ensinar." Mc 1,21
    O cumprimento do projeto da Salvação, porém, fá-Lhe-á justiça, como vemos numa antiga promessa de Deus feita através dos Salmos: "Eis o Oráculo do Senhor que Se dirige a Meu Senhor: 'Assenta-Te à Minha direita, até que Eu faça de Teus inimigos um banquinho para Teus pés.'" Sl 109,1
    E a Igreja já espelha Seu Reino, como São Paulo diz: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos." Cl 3,9b-11
    Ele fala do poder que ela possui: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo. Também estamos prontos para castigar todos desobedientes, desde que vossa obediência seja perfeita." 2 Cor 10,4-6
    Até faz o devido contraponto, mas, sob todos percalços, não arrefece a fé: "Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós. Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos." 2 Cor 4,7-9
    E diz em exortação aos filipenses: "Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição. Para vós, de Salvação. E é a vontade de Deus, porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,27b-29
    Afinal, assegura que Deus será tudo nos fiéis: "E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que todas coisas Lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,28


DE SEU SAGRADO CORAÇÃO PARA NOSSA ALMA

    Era por piamente corresponder aos preceitos do Pai, portanto, que Jesus Se apresentava como exemplo a ser seguido: "De Mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço, e Meu julgamento é justo porque não busco Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou." Jo 5,30
    Ele corajosamente vai afirmar diante de Pilatos: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37b
    E morreu por dizer a Verdade, como os religiosos de Jerusalém O acusavam: "Responderam-lhe os judeus: 'Nós temos uma lei, e segundo essa lei Ele deve morrer porque Se declarou Filho de Deus.'" Jo 19,7
    O próprio Deus Pai atestou Sua fidelidade, como São Mateus registrou no dia de Sua Transfiguração: "E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: 'Eis Meu amado Filho, em Quem pus toda Minha afeição. Ouvi-O!'" Mt 17,5b
    Por isso, Jesus recomenda: "Tomai Meu jugo sobre vós e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas." Mt 11,29
    O Eclesiástico já havia percebido esse dom: "Filho, realiza teus trabalhos com mansidão, e serás mais amado que um generoso homem." Eclo 3,19
    E Nosso Salvador ensinou no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!" Mt 5,5.9
    Pois mesmo sendo o Messias, Ele entrou em Jerusalém montado num jumentinho: "Conduziram a Jesus o jumentinho, cobriram-no com seus mantos, e Jesus montou nele. Muitos estendiam seus mantos pelo caminho, outros cortavam ramos das árvores e espalhavam-nos pelo chão. Tanto os que precediam como os que iam atrás clamavam: 'Hosana! Bendito Aquele que vem em Nome do Senhor!'" Mc 11,7-9
    E nessa condição Ele instruiu os Apóstolos, que iriam liderar a Igreja, para o estado de total servidão: "Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes com autoridade as governam. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, faça-se vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, faça-se vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar Sua Vida em resgate por uma multidão." Mt 20,25-28
    Deu, por fim, um prático exemplo de caridade: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, lavei vossos pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros." Jo 13,14
    Como exemplo de prática de piedade, ou seja, de caridade espiritual, Jesus sempre rezava intensa e frequentemente: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus." Lc 6,12
    E chegando a hora de Sua Paixão, Ele também rezou por nós. Para que, através de Sua Palavra confiada aos Apóstolos, nós abraçássemos com igual humildade, sem dissoluções nem intrigas, a Unidade da Igreja, que é o sustentáculo da Verdade: "Santifico-Me por eles para que também eles sejam santificados pela Verdade. Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste." Jo 17,19-21
    Ainda rezou mais uma vez antes de ser preso, pedindo ao Pai que Lhe afastasse tamanho sofrimento. Mas já mostrava-Se resignado, sempre submetendo-Se, não importando quão difíceis, aos projetos do Pai: "Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Não se faça, todavia, Minha vontade, mas sim a Tua." Lc 22,42
    Essa disposição em abraçar a Cruz havia sido predita pelo Profeta Isaías: "... porque Ele próprio deu Sua vida, e deixou-Se colocar entre os criminosos, tomando sobre Si os pecados de muitos homens e intercedendo pelos culpados." Is 53,12
    Enfim, além de perfeitamente obediente, Jesus nada fez às ocultas, como alguns delirantes pretendem. Ele havia escolhido 12 Apóstolos e deixou-Se seguir por muitos discípulos justamente para que fossem testemunhas de Suas palavras e obras, como afirmou pouco antes de Sua Ascensão: "Vós sois as testemunhas de tudo isso." Lc 24,48
    Ele nada ocultou de Sua Doutrina, nem mesmos os mais difíceis assuntos, que primeiro explicava aos Apóstolos: "O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados!" Mt 10,27
    E assim, pedindo pela integridade da Boa Nova e garantindo Sua divina assistência, Ele ordenou aos Onze que fielmente retransmitissem Seus ensinamentos. Estas foram Sua últimas, segundo São Mateus: "Ide, pois, e ensinai a todas nações. Batizai-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi. Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,19-20
    Foi precisamente isso o que registrou São Lucas em seu Evangelho: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus..." At 1,1
    Aliás, também São João Evangelista: "... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,3
    E falando sobre humildade, Jesus antecipou-nos o critério que usará no Seu Dia: "Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado." Mt 23,12
    Para São Tiago Menor já não restava dúvida: "Sede submissos a Deus. Resisti ao demônio, e ele fugirá para longe de vós. Aproximai-vos de Deus, e Ele aproximar-Se-á de vós." Tg 4,7-8a
    E ao contrário de 'confessar só a Deus', como hereges ensinam, pedia o constante exercício da Confissão: "Confessai vossos pecados uns aos outros..." Tg 5,16a
    São Paulo dizia algo parecido: "Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo." Ef 5,21
    Ele advertia da necessária religiosidade: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade. Porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus nem Lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos e obscureceu-se-lhes o insensato coração. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos." Rm 1,18.21-22
    Aliás, foi um colaborador seu, Epafras, que advogava a mais pura fé, como ele fez constar na Carta aos Colossenses: "Ele não cessa de lutar por vós em suas orações, para que, numa perfeita e plena convicção, permaneçais plenamente submissos à divina vontade." Cl 4,12b
    Regulando os cultos de então, rudimentos da nossa Santa Missa, nosso Santo pedia absoluta sobriedade aos Sacerdotes da Igreja, através da estrita observância da Doutrina: "Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados. O espírito dos profetas deve estar-lhes submisso, porquanto Deus não é Deus de confusão, mas de Paz." 1 Cor 14,31-33
    E faz lembrar: "Se, no entanto, alguém quiser contestar, nós não temos tal costume e nem as igrejas de Deus." 1 Cor 11,16
    Lamentava-se pelos judeus, seu povo, por não acolherem Jesus: "Pois dou-lhes testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento. Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque a finalidade da Lei é Cristo, para a justificação de todo aquele que crê." Rm 10,2-4
    Lembrando a humildade do Salvador, ele recomenda: "Não vos torneis causa de escândalo, nem para os judeus, nem para os gentios, nem para a Igreja de Deus. Fazei como eu: em todas circunstâncias procuro agradar a todos. Não busco meus próprios interesses, mas os interesses dos outros, para que todos sejam salvos. Tornai-vos meus imitadores, como eu o sou de Cristo." 1 Cor 10,32-33;11,1
    Pedia pelos Sacerdotes da Igreja: "Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos e admoestar-vos no Senhor. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,12-13
    Também pedia respeito pelas autoridades desse mundo: "Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus. As que existem, foram instituídas por Deus. Portanto, é necessário submeter-se não somente por temor do castigo, mas também por dever de consciência." Rm 13,1.5
    E prega, recitando o Hino Cristológico: "Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não seus próprios interesses, e sim os dos outros. Mutuamente dedicai-vos a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E exteriormente sendo reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso, Deus soberanamente exaltou-O e outorgou-Lhe o Nome que está acima de todos nomes, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a Glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor." Fl 2,3-11
    Os seguidores da tradição de São Paulo também atestaram a humildade de Jesus: "Nos dias de Sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, Àquele que podia salvá-Lo da morte, e foi atendido por Sua submissão. Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,7-8
    Lembraram as tentações no deserto e as concupiscências do mundo: "Em vez do gozo que se Lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores..." Hb 12,2-3a
    Também pediram por nossos Sacerdotes: "Sede submissos e obedecei aos que vos guiam, pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta. Assim, eles fá-lo-ão com alegria, e não a gemer, que isto vos seria funesto." Hb 13,17
    E ensinaram: "Aliás, na terra temos nossos pais que nos corrigem e, no entanto, olhamo-os com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para comunicar-nos Sua santidade. É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, aos que por ela se exercitaram, granjeia o melhor fruto de justiça e de Paz." Hb 12,9-11
    Ficam, portanto, as palavras de São João Batista: "Dai frutos, pois, de verdadeira penitência." Mt 3,8
    E essa sensível mensagem de São Pedro a nossos Sacerdotes, com especial recado aos jovens: "Eis a exortação que dirijo aos Anciãos que estão entre vós, porque sou Ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e com eles serei participante daquela Glória que há de manifestar-se: velai sobre o rebanho de Deus que vos é confiado. Tende dele cuidado, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de sórdido interesse, mas com dedicação; não como absolutos dominadores sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos de vosso rebanho. E quando o Supremo Pastor aparecer, recebereis a imperecível coroa da Glória. Semelhantemente, vós que sois mais jovens, sede submissos aos Anciãos. Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua Graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte em oportuno tempo. Confiai-Lhe todas vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. O Deus de toda Graça, que em Cristo vos chamou à Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,1-10
    Grande mística, de suas profundas experiências Santa Faustina escreveu: "A fiel submissão sempre e em tudo à vontade de Deus, em todos acontecimentos e circunstâncias da vida, dá grande glória a Deus. Uma tal submissão à vontade de Deus tem maior valor a Seus olhos que longos jejuns, mortificações e as mais severas penitências." (Diário, 724)

    "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo! Como era no princípio, agora e sempre. Amém!"