domingo, 26 de março de 2023

A Primeira Igreja


    Nas Escrituras está evidente que é Jesus, pessoalmente, que constrói a Igreja. Claro, Ele não Se refere apenas à edificação de pedra e argamassa, pois dessa construção também participa, e sob vários aspectos. Mais propriamente refere-Se às revelações pessoais ao longo dos séculos, para melhor compreensão da Sã Doutrina, bem como às próprias pessoas, Seu Reino de Sacerdotes, que escolhe para fazê-la vigorar até Sua volta. É nesse sentido que Ele escolheu São Pedro como pedra fundamental: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja." Mt 16,18a
    E assim Ele afirmou que a Igreja é invencível: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b
    Foi ainda mais claro em outra passagem, quando voltou a afirmar que a Igreja é indestrutível: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a
    Mas Ele exigia a Perfeita União da Igreja, representada pela videira, que é Ele mesmo, ou simplesmente não haverá fruto: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,4-5
    Defendia, portanto, a Unidade do rebanho: "Quem não está Comigo está contra Mim. E quem Comigo não ajunta, espalha." Mt 12,30
    E para tal Unidade, São Pedro proibia qualquer pessoal interpretação da Escrituras: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal." 2 Pd 1,20
    Contudo, através dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, também temos registros de qual foi o primeiro prédio a ser usado como igreja, ou seja, do sagrado lugar onde ela foi ungida. É exatamente onde aconteceu a Santa Ceia, indicado por Jesus a São Pedro e São João Evangelista, por clarevidência: "Ide à cidade, e sai-vos-á ao encontro um homem, carregando um cântaro de água. Segui-o, e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: 'O Mestre pergunta: Onde está a sala em que devo comer a Páscoa com Meus discípulos?' E ele mostrá-vos-á uma grande sala no andar superior, mobiliada e pronta. Fazei lá os preparativos." Mc 14,13-15
    Aí Nosso Salvador pela última vez anunciou-lhes Sua Paixão, que iniciaria naquela mesma noite, quando ofereceu Seu Corpo e Seu Sangue como alimento da Vida Eterna, instituindo a Eucaristia, ou seja, o Santíssimo Sacramento, a Comunhão pelo Pão e pelo Vinho: "Tomou em seguida o Pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim'. Do mesmo modo tomou o Cálice, depois de cear, dizendo: 'Este cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue, que é derramado por vós..." Lc 22,19-20
    Nessa mesma sala, Jesus vai ensinar que Igreja é, antes de tudo, serviço, e não apenas autoridade: "Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. 'Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, lavei-vos os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros.'" Jo 13,5.14
    E é igualmente aí, nesse santo edifício, que vai acontecer a primeira aparição do Cristo Ressuscitado. Era o dia que passou a ser chamado de Domingo, que quer dizer Dia do Senhor, por simbolizar a Vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte. E o prédio que se tornaria igreja, note-se bem, foi o lugar escolhido por Jesus para que os Apóstolos testemunhassem Sua Ressurreição e recebessem Sua Paz: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se no meio deles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,19
    Aí mesmo, onde nasceu a Igreja, de forma extremamente significativa os Apóstolos receberam o Espírito Santo, e com Ele o poder de remir os pecados da humanidade: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    E não por acaso, nessa mesma sala São Tomé iria declarar a Divindade de Jesus, em Sua segunda aparição aos Apóstolos, no seguinte Domingo: "Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!' Depois disse a Tomé: 'Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas Mãos. Põe tua mão em Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de .' Respondeu-Lhe Tomé: 'Meu Senhor e Meu Deus!'" Jo 20,26-28
    Foi para lá, por fim, que Jesus mandou Apóstolos, discípulos e seguidores após Suas aparições na Galileia e Sua Ascensão aos Céus em Betânia, para que toda a Igreja recebesse a Unção do Espírito Santo: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto. Depois levou-os para Betânia e, levantando as Mãos, abençoou-os. Enquanto abençoava-os, separou-Se deles e foi arrebatado ao Céu. Depois de terem-nO adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo." Lc 24,49-52
    E também aí, ainda segundo Jesus, eles deveriam iniciar o testemunho: "... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo." At 1,8


O CENÁCULO

     Por ter sido o lugar da Santa Ceia, os Apóstolos passaram a chamar essa sala de Cenáculo, como São Lucas registrou logo após a Ascensão do Senhor: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer." At 1,13
    E com a Santíssima Virgem, em constante estado de oração, a Igreja seguia em perfeita unidade: "Todos eles unanimemente perseveravam na oração, e com eles as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,14
    Foi lá que São Pedro demostrou sua liderança à frente da Igreja, sugerindo a substituição de Judas Iscariotes, que traiu Jesus, quando São Matias foi eleito: "Num daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembléia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse: '... Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia, durante todo tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do batismo de João até o dia em que do nosso meio foi arrebatado, um deles torne-se conosco testemunha de Sua Ressurreição.'" At 1,15.21-22
    São Pedro não o fez por presunção, mas por responsabilidade que lhe atribuiu Jesus, para que após Sua Ascensão aos Céus os Apóstolos não se dispersassem. Ele disse ao Príncipe dos Apóstolos: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para peneirar-vos como o trigo. Mas Eu roguei por ti, para que tua confiança não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma teus irmãos." Lc 22,31-32
    E como grande unção depois de tantos capítulos de suma importância, essa edificação também foi o lugar escolhido por Deus para a plena manifestação de Sua Terceira Pessoa, o Espírito Santo, que marcou o Nascimento da Igreja: "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do Céu um ruído, como se um impetuoso vento soprasse, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes, então, uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo concedia-lhes que falassem." At 2,1-4
    Ele é o Divino Guia da Igreja, que a assessora em cada novo detalhe da Revelação, e assim ela tem vencido os séculos, como Jesus indicou: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
    E Ele não só a assessora nos novos detalhes, como também na correta compreensão e memória do que Jesus já havia ensinado: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e  recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26
    Neste mesmo dia, São Pedro tomou a palavra e convocou todos judeus, locais e peregrinos, a ser Igreja, a começar pela penitência: "Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com forte voz disse-lhes: 'Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos que de longe ouvirem o apelo do Senhor, Nosso Deus.' Os que receberam sua palavra foram batizados, e naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número dos adeptos." At 2,14.39.41
    Conduzida pelo Espírito Santo, portanto, mas entregue nas mãos de simples humanos como Jesus quis, a Palavra de Deus, agora ensinamentos da Igreja, começava a ser reconhecida como a Doutrina dos Apóstolos. Veem-se aí os primeiros ritos da Santa Missa: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do Pão e nas orações." At 2,42
    Ora, para dar total sustentação à pregação de Seus Apóstolos, Jesus havia sentenciado: "Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16
    E também determinou caso de excomunhão: "Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
    Assim como Jesus, porém, eles também padeceriam brutais perseguições, mas seus testemunhos não seriam em vão: "Se Me perseguiram, também hão de perseguir-vos. Se guardaram Minha palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    Os Apóstolos, então, também começaram a celebrar a Eucaristia nas casas onde sempre eram bem recebidos. Mas como não imaginavam que a divisão entre eles e os judeus permaneceria, do mesmo modo continuavam presentes no Templo de Jerusalém. O que os distinguia dos demais religiosos de Israel, entretanto, era a perfeita união com que rezavam e viviam: "Unidos de coração, todos dias frequentavam o Templo. Partiam o Pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração... "At 2,46
    No entanto, estavam apenas seguindo uma diretriz que receberam do próprio Jesus: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    E é por essa união que a Igreja ostenta e leva ao mundo a Glória de Deus. Jesus rezou ao Pai pela Comunhão com Ele e entre os Apóstolos: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e amaste-os, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    Contudo, como os principais dos judeus teimavam em não reconhecer Jesus como o Messias, os Apóstolos enfrentavam-nos, e nisso foram claramente apoiados pelo Espírito de Deus, que os mantinha em perfeita Comunhão: "Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e com intrepidez anunciavam a Palavra de Deus. A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma." At 4,31-32a
    Vale dizer, porém, que se eles romperam com as práticas judaicas foi por expressa vontade de Deus, manifesta na Pessoa de Jesus, que havia previsto: "Disse-vos essas coisas para preservar-vos de alguma queda. Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a Mim." Jo 16,1-3
    Assim os 'pés dos Apóstolos', e não mais o Templo de Jerusalém, passaram a ser a referência de lugar da 'Igreja humana', visivelmente constituída por aqueles que Jesus escolheu: "Nem havia entre eles nenhum necessitado, pois todos que possuíam terras e casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Repartia-se, então, a cada um deles conforme sua necessidade." At 4,34-35
    E para bem demonstrar toda autoridade da Igreja, entre eles Deus realizou esse chocante mas instrutivo sinal: "Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos Apóstolos. Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.' Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Depois de umas três horas, também entrou sua mulher, nada sabendo do ocorrido. Pedro perguntou-lhe: 'Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes vosso campo?' Respondeu ela: 'Sim, por esse preço.' Replicou Pedro: 'Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Ali à porta estão os pés daqueles que sepultaram teu marido. Também hão de levar-te.' Imediatamente caiu a seus pés e expirou." At 5,1-3.4b-5a.7-10a
    Mas por estes tempos também iniciavam-se os suplícios que a Igreja irá sofrer até Definitiva Volta de Jesus. São Pedro, porém, vai ressaltar a Vinda do Espírito Santo como o diferencial entre o Velho e o Novo Testamento, o início da Nova Aliança: "Levantaram-se, então, os sumos sacerdotes e seus partidários, isto é, a seita dos saduceus, cheios de inveja, e deitaram as mãos nos Apóstolos e meteram-nos na cadeia pública. Trouxeram-nos e introduziram-nos no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: 'Expressamente ordenamo-vos que não ensinásseis nesse Nome. Não obstante, tendes enchido Jerusalém com vossa Doutrina! Quereis fazer recair sobre nós o Sangue d'Este Homem!' Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Antes importa obedecer a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem.' Chamaram os Apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes que não pregassem mais em Nome de Jesus, e soltaram-nos. Eles saíram da sala do Grande Conselho cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome de Jesus. E todos dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo, no Templo e pelas casas." At 5,17-18.27-32.40-42
    De tão grande número de fiéis, logo a Igreja precisou de diáconos. E também na sala de cima, por imposição de mãos dos Apóstolos, eles foram ordenados: "Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram: 'Não é razoável que abandonemos a Palavra de Deus para administrar. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de Sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da Palavra.' Este parecer agradou a todos presentes. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos Apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos." At 6,2-6


    Santo Estevão também vai invocar o Espírito Santo como o selo de Deus, o selo da Lei que Jesus elevou à perfeição (Mt 5,17), quando, ao invés de ser julgado pelo Sinédrio, ele julgou-o: "'Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam vossos pais, também procedeis vós! A qual dos Profetas não perseguiram vossos pais? Mataram aqueles que prediziam a Vinda do Justo, do Qual vós agora tendes sido traidores e homicidas. Vós que recebestes a Lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes...' Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e rangiam os dentes contra ele. Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o Céu e viu a Glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: 'Eis que vejo', disse ele, 'os Céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.'" At 7,51-56
    E mesmo após seu apedrejamento, que provocou a primeira 'diáspora' dos cristãos, os Apóstolos não arredaram pé da cidade, como Jesus havia pedido: "E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão. Naquele dia, rompeu uma grande perseguição contra a comunidade de Jerusalém. Todos dispersaram-se pelas regiões da Judeia e de Samaria, com exceção dos Apóstolos." At 8,1b
    Ainda nesse mesmo prédio se deu o primeiro encontro entre São Pedro e São Paulo, quando este, depois de sua conversão, expressamente foi a Jerusalém para conhecer o Príncipe dos Apóstolos: "Três anos depois, subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e com ele fiquei quinze dias." Gl 1,18
    E também foi aí que São Pedro, já um ativo missionário (At 9,32), justificou a conversão do primeiro segmento de não judeus diante de São Tiago Menor, então Bispo de Jerusalém em substituição a São Pedro, isto é, segundo líder da igreja-mãe: "Os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram dizer que os pagãos também haviam recebido a Palavra de Deus. E quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no: 'Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles?' Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo que acontecera..." At 11,1-4a
    Em nome da Unidade da Igreja, aliás, São Paulo fazia de tudo, e sempre recorria a Jerusalém para confirmar o que estava ensinando, como ele mesmo testemunhou: "Catorze anos mais tarde, outra vez subi a Jerusalém com Barnabé, comigo também levando Tito. E subi em conseqüência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão. Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a Graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo: iríamos aos pagãos, e eles aos circuncidados. Recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que precisamente era minha intenção." Gl 2,1-2.9-10
    Até submetia-se a humilhações para não provocar divisões na Igreja: ''Entretanto, nem sequer meu companheiro Tito, embora gentio, foi obrigado a circuncidar-se. Mas por causa dos falsos irmãos, intrusos que furtivamente se introduziram entre nós para espionar a liberdade de que gozávamos em Cristo Jesus, a fim de escravizar-nos, fomos, por esta vez, condescendentes, para que o Evangelho permanecesse em sua integridade." Gl 2,3-5


    E o primeiro prédio da Igreja ainda vai testemunhar o início dos martírios, quando Tiago Maior voltou de Espanha e São Pedro, salvo por seu Anjo da Guarda e em fuga por ser o Príncipe dos Apóstolos, empreenderá sua primeira viagem a Roma: "Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para maltratá-los. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem fermento. Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. De repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma Luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro, o anjo despertou-o: 'Levanta-te depressa', disse ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos. O anjo ordenou: 'Cinge-te e calça tuas sandálias.' Ele assim fez. O anjo acrescentou: 'Cobre-te com tua capa e segue-me.' Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar sonhando. Passaram o primeiro e o segundo postos da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o anjo desapareceu. Em seguida, dali saiu e retirou-se para outro lugar." At 12,1-4.7-10.17b
    Por fim, nessa sala que aconteceu o Primeiro Concílio da Igreja, quando, sempre sob a guia do Espírito de Deus, por uma decisão de São Pedro foi abolida a necessidade da circuncisão entre os cristãos: "Alguns homens, descendo da Judeia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: 'Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.' Então se iniciou grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns irmãos, fossem tratar desta questão com os Apóstolos e os Anciãos em Jerusalém. Mas levantaram-se alguns que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e disse-lhes: 'Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho e cressem.'" At 15,1-2.5.7
    E São Tiago Menor, na carta que mandou redigir com as decisões desse encontro, deixa bem claro Quem estava no comando: "Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Assim, por respeito a essa Unidade e às decisões dos Concílios, como demonstraram São Paulo, São Timóteo, São Barnabé e São Marcos, a Santa Igreja Católica vencerá os tempos: "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e Anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número." At 16,4-5

    "Lembrai-Vos, Senhor, de Vossa Igreja!"