quinta-feira, 4 de abril de 2024

O Mal do Dinheiro


    Falando sobre a sandice por bens materiais, Jesus faz recordar o sentido de nossas vidas: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Mt 6,24
    Cuidando de também prover materialmente a humanidade, Deus tem no mundo apenas dois grandes grupos de pessoas: os necessitados e Seus possíveis colaboradores. E foi em função de caridade material e espiritual que Jesus explicou como seria o Juízo: "Então o Rei dirá aos que estão à direita: 'Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e deste-Me de comer; tive sede e deste-Me de beber; era peregrino e acolheste-Me; nu e vestiste-Me; enfermo e visitaste-Me; estava na prisão e viestes a Mim.' Responderá o Rei: 'Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que isto fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes." Mt 25,34-36.40
    Por isso, como Deus disse através do Profeta Isaías, é bem específica a Missão de Jesus enquanto Consolador: "... anunciar a Boa Nova aos pobres..." Is 61,1
    De fato, por mais importante, Ele essencialmente prometia consolação espiritual: "Vinde a Mim, todos vós que estais aflitos sob o fardo, e Eu aliviá-vos-ei. Tomai Meu jugo sobre vós e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas. Porque Meu jugo é suave e Meu fardo é leve." Mt 11,28-30
    Assim agia mesmo quando d'Ele só esperavam o milagre de uma cura: "Eis que Lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: 'Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados.'" Mt 9,2
    E advertia àqueles que acreditam encontrar satisfação em bens materiais: "Mas ai de vós, ricos, porque tendes vossa consolação!" Lc 6,24
    Até contou uma ruidosa parábola: "Havia um rico homem que se vestia de púrpura e finíssimo linho, e que todo dia se banqueteava e se regalava. Também havia um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Também morreu o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro em seu seio. Gritou, então: 'Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de refrescar-me a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas.' Abraão, porém, replicou: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males. Por isso, agora aqui ele é consolado, mas tu estás em tormento.'" Lc 16,19-25
    A Verdade é que muitos perdem a compaixão pelo próximo, e assim se afastam dos Mandamentos de Deus, por conta de débeis e materiais apegos, além de vãs ambições. Mas já era Mandamento: "Não cobiçarás a casa de teu próximo; não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence." Ex 20,17
    Caem até mesmo nos mais óbvios pecados: "Não furtarás." Ex 20,15
    E em outros nem um pouco menos danosos: "Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, Teu Deus." Ex 20,12
     É nesse fértil terreno, justamente por seu evidente potencial, que Jesus mais lamenta a semente desperdiçada: "O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que bem ouviu a Palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas sufocam-na e tornam-na infrutuosa." Mt 13,22
    Pois contra qualquer impressão, Ele deixou claro que a vida humana depende tão somente da vontade de Deus: "Escrupulosamente guardai-vos de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas." Lc 12,15
    E aos que gostam de acumular bens, Ele contou uma parábola: "Havia um rico homem cujos campos produziam muito. E ele refletia consigo: 'Que farei? Porque não tenho onde recolher minha colheita.' Então disse ele: 'Farei o seguinte: derrubarei meus celeiros e construirei maiores. Neles recolherei toda minha colheita e meus bens, e direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos! Descansa, come, bebe e regala-te!' Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Ainda nesta noite exigirão de ti tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão?' Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo, mas não é rico para Deus." Lc 12,16-21
    Suas recomendações eram patentes: nesse mundo ferido por injustiças e ganância, as mundanas riquezas tornam-se verdadeiras desgraças se não usadas para diminuir o sofrimento: "Eu digo-vos: fazei amigos com a injusta riqueza, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos eternos tabernáculos." Lc 16,9
    Pois quanto aos comportamentos contrários à lógica da partilha, Jesus era taxativo: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus aqueles que nas riquezas põem sua confiança!" Mc 10,24
    E para desfazer a cultura de então, que na riqueza via uma dádiva de Deus, Ele enfatizou: "Eu repito-vos: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino de Deus." Mt 19,24
    Pois ensinava exatamente o inverso: "Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no Céu, onde nem as traças nem a ferrugem os consomem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração." Mt 6,19-21
    Mesmo ao falar sobre festas e grandes celebrações, Seus ensinamentos eram exclusivamente caritativos: "... quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na Ressurreição dos justos." Lc 14,13-14
    E a caridade deve ser praticada sem vanglória: "Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que a direita fez. Assim, tua esmola fá-se-á em segredo, e Teu Pai, que vê o escondido, recompensá-te-á." Mt 6,3-4
    Por isso, fez questão de elogiar àqueles que realmente confiam na Divina Providência, e tudo fazem na certeza de que Deus não lhes faltará: "... esta pobre viúva deitou mais que todos que lançaram no cofre, porque todos deitaram do que tinham em abundância. Esta, porém, de sua pobreza, pôs tudo que tinha para seu sustento." Mc 12,43-44
    Pois àqueles que estão prontos para a Vida Eterna, e assim verdadeiramente testemunhar Jesus, não mais cabe ater-se às coisas desses mundos: "Antes dai em esmola o que possuís, e todas coisas ser-vos-ão limpas." Lc 11,41
    Com efeito, ao enviar os Apóstolos em primeira missão, Suas recomendações não podiam ser diferentes. Eles também tinham que se entregar por completo nas mãos de Deus: "Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um bordão. Nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto..." Mc 6,8
    Ele dizia: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas coisas sê-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
    E no próprio Pai Nosso, embora principalmente Se  referindo ao Pão do Céu, Jesus exortou-nos, ainda como exemplo de comedimento quanto aos alimentos, a pedir ao Pai tão somente conforme nossas diárias necessidades: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11
    A evangélica pobreza, portanto, é nosso maior exemplo: o caminho dos Santos, da perfeição. E embora Ele não a exija de todos, como não a exigiu de Zaqueu, foi o que recomendou ao rico jovem que se julgava Santo: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!" Mt 19,21
    E deixou uma grave advertência aos que dizem servir a Deus: "Ora, tudo isto ouviam os fariseus, que eram avarentos e d'Ele zombavam. Jesus disse-lhes: 'Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece-vos os corações. Pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.'" Lc 16,14-15
    Os verdadeiros Sacerdotes da Igreja, portanto, após a devida preparação, devem abandonar-se nas mãos da Divina Providência: "Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo." Lc 14,33
    E tudo devem fazer em nome da mais absoluta gratuidade, como Ele mesmo ensinou: "Dai de graça o que de graça recebestes!" Mt 10,8
    De fato, como disse São Pedro a um charlatão, o comércio dos divinos bens é pura maldição: "Maldito seja teu dinheiro e também tu, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro!" At 8,20


O EXEMPLO DE MARIA E DOS APÓSTOLOS

    Quando concebeu do Espírito Santo, apesar de muito jovem, Maria já sabia como Deus distribuía Suas Graças: "Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos." Lc 1,53
    E São Paulo, escrevendo a São Timóteo, aponta o Maligno por trás da conduta da ganância: "Porque nada trouxemos ao mundo, como tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do Demônio e em muitos insensatos e nocivos desejos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição." 1 Tm 6,7-9
    Ele explica: "Porque a raiz de todos males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da e se enredaram em muitas aflições." 1 Tm 6,10
    Por isso, dava essa diretriz de catequese: "Exorta os ricos deste mundo a não serem orgulhosos nem ponham sua esperança nas volúveis riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas coisas para delas fruirmos. Que pratiquem o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam generosos, comunicativos, ajuntem um sólido e excelente tesouro para seu futuro, a fim de conquistarem a verdadeira Vida." 1 Tm 6,17-19
    Quanto aos membros da Igreja, ele cobrava retidão e exemplo: "Do mesmo modo, os diáconos sejam honestos, não de duas atitudes, nem propensos ao excesso da bebida nem ao espírito de lucro..." 1 Tm 3,8
    Pedia, em especial, que eles mutuamente se ajudassem, visando fortalecer o núcleo da comunidade: "Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 6,10
    Ora, ele bem tinha presente o que acontecia na alma dos que se desviam da Sã Doutrina. Trata-se de um evidente abandono das práticas da religiosidade: "Quem ensina de outra forma e discorda das salutares palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como da Doutrina conforme à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, doentio por ociosas questões e contendas de palavras. Daí se  originam a inveja, a discórdia, os insultos, as injustas suspeitas, os vãos conflitos entre homens de corrompido coração e privados da Verdade, que na piedade só veem uma fonte de lucro." 1 Tm 6,3-5
    Cuidando de instituir bispos à medida que os Apóstolos iam sendo martirizados, São Paulo combatia as heresias que surgiam, sempre apontando o mesmo motivo, como disse a São Tito: "Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso. Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à Doutrina da Fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a Sã Doutrina e rebater aqueles que a contradizem. Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre os da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca, porque transtornam inteiras famílias, ensinando o que não convém, e isso por vil espírito de lucro." Tt 1,7-11
    E os seguidores de sua tradição elogiavam o despojamento dos autênticos cristãos, diante dos que sofrem: "Não só vos compadecestes dos encarcerados, mas com alegria aceitastes o confisco de vossos bens, pela certeza de possuirdes muito melhores e imperecíveis riquezas." Hb 10,34
    Na verdade, São Paulo jamais esqueceu a principal diretriz pastoral que lhe deram São Tiago, São Pedro e São João, as 'colunas da Igreja': "Apenas nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente minha intenção." Gl 2,10
    Dava exemplo de perfeita moderação: "Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na penúria, e também sei viver na abundância. Estou acostumado a todas vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade. Tudo posso n'Aquele que me conforta." Fl 4,11-13
    E pregava a importância de fazer tudo com amor: "Ainda que distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!" 1 Cor 13,3
    Falando das Santas Missas, São Tiago denunciou o tratamento cheios de interesses dado aos ricos dentro da Igreja: "Suponde que em vossa reunião entre um homem com anel de ouro e ricos trajes, e também entre um pobre com gastos trajes. Se atenderdes ao que está magnificamente trajado, e disserdes-lhe: 'Senta-te aqui, neste lugar de honra', e disserdes ao pobre: 'Fica ali de pé', ou: 'Senta-te aqui junto ao estrado de meus pés', não é verdade que fazeis distinção entre vós e que sois juízes de iníquos pensamentos? Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino prometido por Deus aos que O amam? Mas vós desprezastes o pobre! Não são porventura os ricos os que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?" Tg 2,2-6
    Ele fez essa comparação: "Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o cotidiano alimento, e algum de vós disser-lhes: 'Ide em Paz, aquecei-vos e fartai-vos', mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma." Tg 2,15-17
    E aos insensíveis, ele dizia com contundência: "Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão." Tg 5,1
    No livro do Apocalipse, Jesus até antecipou Seu Juízo da verdadeira condição espiritual das pessoas da igreja de Esmirna: "Eu conheço tua angústia e tua pobreza - ainda que sejas rico..." Ap 2,9a
    E dirigiu essa palavra aos ricos de Laodiceia: "Conheço tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: 'Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito', e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de Mim compres ouro provado ao fogo, para ficares rico, alvas roupas para vestir-te, a fim de que a vergonha de tua nudez não apareça, e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro." Ap 3,15-18


DEUS DOS POBRES

    Aos que acham que podem prestar algum culto a Deus esquecendo-se dos pobres, Jesus também deixou um insofismável recado: "Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a Mim nem sempre tereis." Jo 12,8
    Dessa realidade, Deus havia alertado o povo ainda no deserto, falando através de Moisés: "Nunca faltarão pobres na terra, e por isso dou-te esta ordem: abre tua mão ao teu irmão necessitado ou pobre que vive em tua terra." Dt 15,11
    Isso, porém, não poderia acontecer na Terra Santa, entre o povo santo: "Não deverá haver pobres no meio de ti, porque o Senhor, Teu Deus, certamente abençoá-te-á na terra que te dá como posse hereditária, contanto que fielmente obedeças à voz do Senhor, Teu Deus, cuidadosamente pondo em prática os Mandamentos que hoje te imponho. Se no meio de ti houver um pobre entre teus irmãos, em uma de tuas cidades, na terra que te dá o Senhor, Teu Deus, não endurecerás teu coração e não fecharás a mão diante de teu pobre irmão. Mas abri-lhe-ás a mão e emprestá-lhe-ás segundo as necessidades de sua indigência." Dt 15,4-5.7-8
    Assim como o Pai, Jesus diz que, se não cuidarmos dos mais necessitados, o caminho até Ele não estará eternamente aberto, e que só em Comunhão com os pobres poderemos contemplar a face de Deus. De fato, esse foi Seu primeiro preceito entre as Bem-Aventuranças, no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!" Mt 5,3
    E ao ver o sucesso dos Apóstolos em primeira missão, enquanto itinerantes e mendicantes, Ele rezou ao Pai por essa dádiva: "Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: 'Pai, Senhor do Céu e da terra, Eu dou-Te graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-Te porque assim foi de Teu agrado.'" Lc 10,21
    O salmista já indicava: "Ó vós, humildes, olhai e alegrai-vos! Vós que buscais a Deus, reanime-se vosso coração porque o Senhor ouve os necessitados..." Sl 68,33-34a
    Ressaltava grandes sinais: "Ele levanta do pó o indigente e tira o pobre do monturo, para entre os príncipes fazê-lo sentar, junto aos grandes de Seu povo." Sl 112,7-8
    Não vacilava: "O pouco que o justo possui vale mais que a opulência dos ímpios..." Sl 36,16a
    E percebia uma patente distinção: "Sim, excelso é o Senhor! Ele vê o humilde, e de longe percebe os soberbos." Sl 137,6
    O Eclesiástico também observou: "A oração do humilde penetra as nuvens." Eclo 35,21a
    E testemunhou: "Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela Seus mistérios. Pois grande é o poder do Senhor, entretanto é pelos humildes que Ele é glorificado." Eclo 3,20b-21 
    Pois como os ricos estão tão iludidos, e até enauseados com tantos falsos prazeres, o convite ao Reino de Deus foi direcionado àqueles que sofrem, como Jesus contou na parábola da grande ceia: "Sai, sem demora, pelas praças e pelas ruas da cidade e aqui introduz os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Pois vos digo: nenhum daqueles homens, que foram convidados, provará Minha Ceia." Lc 14,21.24

CONSEQUÊNCIAS DO MAL

    Seja nessa ou na futura vida, portanto, a consequência do amor ao dinheiro não pode ser boa coisa. Logo nos primeiríssimos anos da Igreja, quando Apóstolos e fiéis tudo partilhavam em comum, deu-se esse assombroso acontecimento:

    "Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos Apóstolos. Pedro, porém, disse:
    - Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.
    Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto.
    Depois de umas três horas, entrou sua mulher, nada sabendo do ocorrido. Pedro perguntou-lhe:
    - Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes vosso campo?
    Respondeu ela:
    - Sim, por esse preço.
    Replicou Pedro:
    - Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Ali à porta estão os pés daqueles que sepultaram teu marido. Também hão de levar-te.
    Imediatamente caiu a seus pés e expirou." 
                                       At 5,1-3.4b-5a.7-10a

    O próprio Jesus descreveu o inimigo nestes termos: "O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir." Jo 10,10a
    Demoníaca mentalidade, portanto, mesmo em sensíveis momentos ela não deixa de mostrar seu ranço, como esse detalhe registrado por São Mateus no Monte Calvário: "E os ladrões, com Ele crucificados, também O ultrajavam." Mt 27,44
    Eis porque se tornou icônica, por ser tão rara, a figura do bom ladrão: "Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra Ele: 'Se és o Cristo, salva a Ti mesmo e também a nós!' Mas o outro repreendeu-o: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós, isto é justo: recebemos o que merecemos por nossos crimes. Mas Este não fez mal algum.' E acrescentou: 'Jesus, lembra-Te de mim quando tiveres entrado em Teu Reino!' Jesus respondeu-lhe: 'Em Verdade, digo-te: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso.'" Lc 23,39-43
    E Judas Iscariotes, como São João Evangelista disse, era ladrão, roubava do dinheiro doado pelo povo a Jesus e aos Apóstolos. Por isso, incomodou-se tanto com o caro perfume com que Santa Maria de Betânia, irmã de São Lázaro, ungiu Jesus: "Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, aquele que havia de trai-Lo, disse: 'Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?' Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam." Jo 12,4-6
    E ele tão amargamente arrependeu-se de ter entregue Jesus por dinheiro, que acabou enforcando-se, segundo São Mateus:

    "Judas, o traidor, vendo-O então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes:
    - Pequei, entregando o Sangue de um Justo.
    Responderam-lhe:
    - Que nos importa? Isto é lá contigo!
    Ele então jogou no Templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se." 
                                                Mt 27,3-5

    Na reunião em que São Matias foi indicado para substituir Judas, São Pedro acrescentou esses detalhes de seu fim: "Depois, tombando para frente, arrebentou-se pelo meio e todas suas entranhas derramaram-se." At 1,18b
    E tão trágica foi sua morte que o próprio Jesus havia dito: "O Filho do Homem vai, como d'Ele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Melhor seria para esse homem que jamais tivesse nascido!" Mt 26,24

    "Mandai Vosso Espírito Santo!"