sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Argumentos de Ateus


    Num movimento exatamente inverso à conversão, alguns ateus acreditam ser possível desconstruir a alheia com algumas simples afirmações. Para eles, a religião seria apenas um primitivo costume, coisa de gente de pouca reflexão e de maliciosos líderes, que ludibriam e tiram proveito da ingenuidade popular. Em geral, eles recorrem aos seguintes argumentos, que atentamente examinados não oferecem nenhuma consistência:

    'Não há provas da existência de Deus!'
    A Verdade é que os ateus não aceitam as provas da existência de Deus, mas Seus sinais estão por toda parte e podem ser verificados em inúmeros testemunhos e provas. As miraculosas curas, por exemplo. E não é a Igreja, senão a própria ciência médica que atesta não haver explicação para o restabelecimento da saúde em casos clinicamente muito complicados ou sem solução, que se dá de modo imediato, total e irreversível, e com pessoas que rezavam para específicos Santos, intercessores para aqueles tipos de enfermidades.
    E o que dizer da passagem de Jesus entre nós? Haveria algo paralelo na História? Que dizer dos Apóstolos e de tantos mártires que deram suas vidas em testemunho de Cristo? Que dizer de sinais como o Santo Sudário? Que dizer da perfeita coerência das mensagens dadas nas aparições de Nossa Senhora, sempre confiadas a pessoas muito humildes, incapazes de enganar quem quer que seja? Que dizer dos corpos santos? Que dizer de tantos e tão grandes sinais de Deus manifestos por todo globo terrestre ao longo da História da Igreja? Que dizer de milhares de relatos de gente do povo e dos próprios Santos, pessoas de ilibada reputação, que atestam visões, audições, bençãos, livramentos, 'coincidências' e 'improváveis casualidades' em perfeita consonância com os ensinamentos da Igreja? Pretender que todos esses testemunhos através dos séculos sejam apenas fantasias não seria extrema arrogância? É, no mínimo, uma grosseira imprudência, mesmo no âmbito da ciência.

    'Só a ciência pode atestar a realidade dos fatos.'
    Há pessoas que simplesmente trocaram uma possível fé em Deus por uma cega fé na ciência. Esta sim, saberia de todas coisas, ou pelo menos garantiria o que anuncia. Não obstante, o mais comum é que se veja a ciência refazer suas teorias ou reconhecer sua absoluta ignorância sobre uma enormidade de assuntos. Poderia ela, por si mesma, indicar o sentido da existência humana? Suas descobertas e aplicações estão isentas de avaliações morais? A ciência é sempre neutra em seus posicionamentos? Não pode estar a serviço de ideologias ou de disparatados devaneios, como tão frequentemente se vê? O que foi a 'sociologia' do comunismo, senão um genocida ateísmo? O que foi o 'Darwinismo Social' senão racismo científico?
    A propósito: a que chegou a moderníssima Física Quântica? Diante da antimatéria não sabe mais nem mesmo o que é a matéria?
    Mais: seria a razão a única capacidade humana para apreensão da Verdade? Seria ela instrumento absolutamente isento de impressões, paixões e até mesmo crenças? Saberíamos mesmo o que é o instinto, a intuição, os sonhos, a telepatia, as premonições? Não nos valemos deles?
    Ou ainda: não seria a Teologia, enquanto conhecimento teórico, uma ciência tão rigorosa em seus critérios quanto a própria e alardeada Filosofia, da qual amplamente usa?

    'Assuntos ainda desconhecidos não precisam ser explicados pela fé.'
    O Catolicismo não explica tudo. Muito pelo contrário, convida a aceitar e confiantemente conviver com os mistérios e, em muitas circunstâncias, com os insondáveis desígnios de Deus. Não obstante, é fato, somos sim igualmente convidados a reconhecer as sobrenaturais revelações que Deus quer comunicar-nos, mas que visam tão somente nossa Salvação, nossa emancipação espiritual, ou seja, que vençamos o pecado. Os benefícios da conversão são notórios! Como não aceitar as revelações, portanto, se são confirmadas por uma "nuvem de testemunhas (Hb 12,1)" e por várias manifestações de Deus através de inequívocos sinais?
    Nossas cognitivas limitações, salutarmente admitidas, não são obstáculos para a fé que nos conduz à Glória de Deus, a qual sem dúvida excede em muito toda e qualquer expectativa humana. Desde a Criação, passando pela grandiosa manifestação de Seu Filho Jesus, Redentor da humanidade, e atualmente pela guia do Espírito Santo, patentes sinais de Deus encaminham-nos com segurança, mesmo que às vezes entre trevas, rumo à Sua divina natureza, que historicamente só é experimentada pelo ser humano por concessões de Sua Graça.

    'Religião impõe dogmas, não aceita questionamentos.'
    Os ensinamentos do Catolicismo são realmente perenes, como Deus é eterno, mas ninguém é obrigado a aceitá-los. Eis aí o livre arbítrio, um de seus fundamentos! A Igreja, entretanto, através de seu Magistério, quer sim muito bem explicar as razões de sua fé (1 Pd 3,15), e convida a todos para conhecê-las. É sua missão anunciá-las, e ela aceita de boa vontade ser questionada. Contudo, é claro, espera que seus argumentos sejam acompanhados com as devidas disposição e honestidade intelectual.
    Sem delongas, os Dogmas são conclusões, portanto feitos plenamente racionais, que contaram com os luminosos auxílios e com a condução do Espírito de Deus, o Qual zelosamente vela pela Igreja. Uma vez que se conhece os fundamentos que os sustentam, conclui-se que é bem compreensível e mesmo louvável que essas Verdades de fé sejam cultuadas e proclamadas.

    'Fiéis preferem reconfortantes e fáceis respostas, para a morte e para a falta de sentido da existência.'
    Seriam as respostas da religião realmente as mais fáceis e críveis? É fácil resignar-se diante das agruras da vida, de tantas injustiças e de organizações sociais sempre em ebulição? A obediência e a paciência para com os misteriosos desígnios de Deus são assim tão palatáveis à irriquieta e relutante alma humana? Pode a consciência humana ser massivamente tão obtusa a ponto de abraçar, de modo 'passivo e infantil', tantas 'fábulas'? Seria a percepção do 'mundo espiritual' um contagioso e coletivo devaneio a despeito da singularidade de todas experiências pessoais? Seria a morte realmente o fim da vida? Seria a existência, de fato, vazia de significados e sem razão de ser? Em absoluto, não é isso que sugere o amor, maior dos atributos da pessoa humana.
    Jesus, que Se entregou à morte para afirmar e comprovar a Vida Plena, também aponta algo diferente. E não foram poucos os que, através d'Ele ou de Sua Graça, chegaram a conclusões completamente opostas à ideia de uma meramente biológica vida. O Reino de Deus é, na verdade, prodigioso em indizíveis dons e Graças, que elevam a condição humana à sua real dignidade.

    'Fiéis são pouco questionadores, e contentam-se com explicações sobrenaturais.'
    É possível aferir quem tem a mais acurada percepção da realidade e dos valores que realmente importam? Será que a direta observação das coisas, feita pelos mais humildes, não lhes permite posicionar-se com Sabedoria? Seriam eles realmente conformados e pouco questionadores? As ambições, materiais e intelectuais, seriam o verdadeiro e mais construtivo impulso ao desenvolvimento humano? O conhecimento técnico, por si só, pode promover completa emancipação e realização à pessoa?
    Um amadurecido posicionamento diante da vida é muito mais abrangente e profundo que simplesmente estabelecer relações materiais e cognitivas com o mundo em volta. Depende muito mais da qualidade dessas relações quanto a reflexos afetivos, morais e espirituais. A mística é uma inalienável função da alma e precisa ser plenamente exercida para que a vida terrena alcance seu verdadeiro significado.

    'As religiões levam as pessoas ao conformismo, para serem manipuladas por aqueles que detêm o poder.'
    Dizer que a religião mantém o povo submisso faz parecer que o ideal é que o mundo viva de revoluções e insurgências, ou simplesmente na mais pura anarquia. Dispõem-se assim os povos dos mais desenvolvidos países? Não existiria também entre eles hierarquia, exercício de poder, bem como manobras políticas e até corrupção? O que é estruturação e organização social? A liberdade sem responsabilidade, a insubmissão e a rebeldia são valores em si absolutos? Vivem melhor os que frequentemente se contrapõem aos poderes ou a qualquer suposta tentativa de manipulação popular? E de que vale o poder?
    Seria mesmo real a teoria da conspiração, esse grupo de controladores que trabalha incessante e exclusivamente para manipular e para a manutenção da dominação? Que graça existiria, para eles, em viver num mundo assim? E qual poder vale mais? O econômico, o político, o militar, o da informação ou o moral? Uma conspiração assim conseguiria realmente manter-se sempre oculta e bem sucedida? Eles mesmos não se manipulam, não se desentendem nem se rebelam entre si? Existiria alguma organização humana capaz de tão perfeito e indefectível funcionamento? Que dizer então dos Santos que se submeteram às autoridades clericais e pregaram a obediência aos desígnios de Deus? Não se teriam realizado pessoalmente, mesmo sob esta hierarquia, e ainda arrastado multidões para seus supostos desenganos? Qual seria o processo mais construtivo e seguro? Agir pelo poder ou pelo amor?

    'Países desenvolvidos e democráticos são éticos e justos, e não precisam da fé.'
    Quando os preceitos da consciência moral não são renegados, o ateísmo em si não é um terrível mal. O humanismo, ademais, embora clara e maliciosamente manipulado por certos autores e correntes de opinião, também foi gerado no seio da Igreja. Aliás, ele foi a própria semente do protestantismo, do iluminismo e até do comunismo. Ora, a concreta prática dos ensinamentos de Cristo no dia-a-dia, fundada em espírito de caridade e partilha, não é o objetivo da fé? No entanto, o puro e simples ativismo, por mais humano que seja, jamais substituirá a contemplação e a mais profunda percepção da realidade. O ser humano carece da transcendência para conhecer a efetiva amplitude de sua natureza, e a espiritualidade, como resposta a evidentes realidades, é absolutamente imprescindível. Eis aí o verdadeiro valor da literatura, da poesia, da música, do teatro, em suma da arte e das ciências em geral.
    E aí vai uma ponderação histórica: não são exatamente os países mais afastados dos valores religiosos os que mais sofrem com os males do materialismo, do hedonismo e da banalização do amor e da vida, como o alcoolismo, as drogas, a prostituição, a desestruturação da família e o suicídio? De que valem os benefícios materiais e a justiça social se a vida não tem sentido? Poderia encerrar-se o ser humano apenas numa dimensão econômica e política? A abominável desgraça que se revelou pela implementação do socialismo mostrou que não!

    'Países mais religiosos são pobres, corruptos e atrasados.'
    Não há duvida de que quanto mais sofrido, mais o ser humano busca a consolação de Deus. Isso é inerente à alma humana, é seu último e principal recurso. O povo pobre cultua mais a religião, é verdade, e os elementos culturais estão de fato diretamente relacionados com o desenvolvimento humano. Mas isso não permite dizer que a religiosidade é o fator determinante do subdesenvolvimento de certos países. A maioria dos países ricos traz a religião como base de seus mais fortes traços culturais e sociais.
    Ou seja, se é verdade que os pobres buscam a fé, não é verdade que as práticas religiosas empobrecem. Pelo contrário, até fazem prosperar. Renomados sociólogos e historiadores apoiam esta tese. Como negar benefícios como o fim da escravidão, a implementação do direito, o desenvolvimento técnico e cultural, e assim a organização social que o Catolicismo proporcionou à Europa? Os fatores que realmente determinam a pobreza são vários, e alguns deles até podem vir de disfunções da religião, mas evidentemente não têm nela sua única nem principal razão de ser. A grande Verdade é que os povos mais felizes e bem realizados são sim religiosos.

    'Há muitas religiões, e todas pretendem ser a única verdadeira!'
    Ora, é óbvio que as revelações tenham força para renovar a noção da realidade. Mas, graças ao dom da razão, Deus concedeu-nos, entre as verdadeiras revelações e os enganos, a capacidade de analisá-los conforme o histórico de Suas manifestações. Vale dizer, Deus não Se contradiz.
    Assim, as religiões podem e devem ser intelectual e diligentemente examinadas para que saibamos onde se encontram os verdadeiros e mais significativos sinais de Deus. Sem dúvida, Ele quer comunicar-Se com todos Seus filhos, mas também é notório que Sua participação na História da humanidade não começou recentemente. Por isso, buscando o fio condutor da coerência de Suas mensagens, inevitavelmente precisamos olhar para o passado e, antes de entregar-nos a mirabolantes exercícios de imaginação, devemos estudar o que de fato temos em mão, o que nos foi legado e transmitido. E, bem comparadas as revelações, é simplesmente impossível encontrar mais verossímil e grandiosa manifestação que a passagem de Jesus entre nós.

    "Vosso Filho permaneça entre nós!"