quarta-feira, 19 de julho de 2023

A Castidade


    Deus deu ao ser humano a capacidade de amar verdadeiramente, e isso significa agir com gratuidade, generosidade e pureza de intenções. Esse amor vem da perfeita Comunhão com Ele, a qual São Paulo garantiu aos coríntios: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Essa Comunhão permite-nos dispor dos dons de Espírito Santo para colaborar na construção do Reino dos Céus, como este Apóstolos escreve aos romanos: "... pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14
    E a castidade é um dos sinais desse amor maior, reflexo da temperança, que é um dos frutos do Divino Espírito como ele afirmou na Carta aos Gálatas: "... o fruto do Espírito é caridade, alegria, Paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança." Gl 5,22-23
    O Catecismo da Igreja Católica ensina: "A virtude da castidade é comandada pela virtude cardeal da temperança, que tem em vista impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana." CIC § 2341
    Nos tempos atuais, quando ondas de massificação cultural e a crise da representatividade política praticamente anulam o valor do indivíduo, é corriqueiro constatar mais e mais pessoas adotando egoísticos e rebeldes modos de autoafirmação, muitas vezes usando até de perversão e escândalos tão somente para chamar a atenção ou impor-se. E a vida sexual, eleita como ópio da animalidade para disfunções, na verdade, emocionais, apresenta-se como principal tentativa de escape ou artifício de agressão. O resultado, entretanto, são pessoas violando brutalmente sua própria intimidade, sua sanidade mental, suas relações sociais e, o que é ainda mais caro, sua espiritualidade. Também diz o Catecismo: "A sexualidade afeta todos aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e alma. Diz particularmente respeito à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de mais geral maneira, à aptidão a criar vínculos de Comunhão com os outros." CIC § 2332
    Como poderíamos, então, estar em paz com nossa própria natureza sem estar em Comunhão com Deus, Nosso Criador? Jesus oportunamente fez-nos lembrar nossa condição de filhos de Deus: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai celeste é perfeito." Mt 5,48
    Referindo-Se à Sua Encarnação e à Crucificação, Ele estabeleceu um novo parâmetro para o amor que devemos viver: o amor com que Ele nos amou: "Eu dou-vos um novo Mandamento: amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, assim também deveis amar-vos uns aos outros." Jo 13,34
    E por Seu evidente apreço pela castidade, Deus não Se permitiu violar a virgindade de Maria nem mesmo ao gerar Seu Filho. De fato, se Ele a preservou antes do parto, por que não a preservaria durante e depois dele? Não teria poder para tanto? Dizia a profecia de Isaías: "Por isso, o próprio Senhor dá-vos-á um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e chamá-Lo-á Deus Conosco." Is 7,14


A ESCRAVIDÃO DO PECADO

    Tendo esse amor como meta, portanto, e a despeito das dificuldades que nos afligem, resta claro que precisamos compor nossa personalidade com atributos dignos de Deus, entre eles a castidade. Ora, como estar em Comunhão com Ele se somos tomados por perniciosos impulsos e paixões que nos submetem e escravizam? A compulsão carnal, é patente, animaliza e entristece o ser humano. A castidade, porém, é liberdade, e Jesus veio exatamente para libertar-nos do pecado: "... Respondeu Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Portanto, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.'" Jo 8,34.36
    São Paulo, no mesmo sentido, convida-nos a passar da escravidão à caridade espiritual, que se expressa quando oferecemos nossa alma purificada aos que estão à volta, sem as máculas ou deformidades de tão vis pecados: "Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para carnais prazeres. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade..." Gl 5,13
    Ele assim celebrou a Nova Aliança, pela infusão do Espírito de Deus no Pentecostes: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito. Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal. Os que vivem segundo o Espírito, apreciam as coisas que são do Espírito. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a Vida e a Paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à Lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,2-9
    Claro, na atualidade tal libertação não é fácil. Basta reparar na devassidão e em seus reflexos disseminados pela vigente cultura para ter ideia do poder de dominação dos mais vulgares instintos. E apesar de animalescamente ridículos, e como sinal do estabelecimento da depravação, ainda há quem os chame de 'amor'. Quantos bilhões movem a indústria, o comércio e a propaganda do sexo? Quantas vidas destruídas? A prostituição não está ligada à pobreza, seja ela material ou espiritual? Mas, como São Paulo aponta, a falta de religiosidade ou a corrupção da fé não é exatamente uma novidade, assim como não o são seus abomináveis frutos: "Porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus nem Lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos e obscureceu-se-lhes o insensato coração. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou-os aos desejos de seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. Trocaram a Verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém! Por isso, Deus entregou-os a vergonhosas paixões: suas mulheres mudaram as naturais relações em relações contra a natureza. Do mesmo modo os homens, deixando o natural uso da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a devida paga a seu desvario. Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Ele entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento. São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem." Rm 1,21-32
    E é certo, ademais, que muito se agravou o quadro das heresias que acobertam esta devassidão, e assim sobram falsos mestres. Aliás, como o próprio São Paulo profetizou: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da Verdade, e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4
    Sem dúvida, a castidade exige conhecimento de si, oração, devoção, obediência aos Mandamentos, prática das virtudes morais. É o que ele recomenda aos gálatas: "Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne." Gl 5,16
    Pois foi para vencer as fraquezas da carne, entre outras más inclinações, que Jesus nos enviou o Espírito da promessa, que nos reveste com 'a força do alto': "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto." Lc 24,49
    É com os socorros do Divino Paráclito, pois, que se alcança o domínio de si, o autocontrole, através do dom da temperança. E é pela castidade que nos é dado efetivamente viver o Reino de Deus já aqui neste mundo. Jesus ensinou: "Na Ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos. Mas serão como os anjos de Deus no Céu." Mt 22,30
    Ele atestou esta moção e a chegada do Reino de Deus: "Mas se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então para vós chegou o Reino de Deus." Mt 12,28
    Guiado pelo Santo Paráclito, essa era Sua condição enquanto o Primogênito de Deus, como Ele mesmo declarou em Seu 'discurso inaugural', ao iniciar Sua vida pública: "O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu. E enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, e publicar o ano da Graça do Senhor." Lc 4,18-19
    São Paulo diz como esta unção age em nós: "Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos. Aliás, sabemos que todas coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo Seus desígnios. Aqueles que Ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre uma multidão de irmãos." Rm 8,26.28-29
    Com efeito, a castidade, assim como a Vida Eterna, é uma conquista da , resultado da ação do Espírito de Deus e do esforço pessoal. E é isso que o Apóstolo dos Gentios recomenda a São Timóteo: "Combate o bom combate da fé. Conquista a Vida Eterna, para a qual foste chamado..." 1 Tm 6,2
    Antes de tudo, porém, ela é uma frontal resistência aos pecados sociais. Jesus atestou a ânsia por libertação dos Apóstolos e uma violenta força contrária, imposta pelo mundo: "Se fôsseis do mundo, o mundo amá-vos-ia como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo escolhi-vos, por isso o mundo odeia-vos." Jo 15,19
    E enquanto resultado de contínuo trabalho, a castidade e os demais frutos do Espírito de Deus exigem vigilância, como Ele exortou os mais próximos Apóstolos, horas antes de ser crucificado: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mt 26,41
    Pois como dom, portanto uma emblemática expressão de caridade, só pela religiosidade e pela negação de si mesmo ela pode ser preservada. São Paulo diz: "A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante, nem escandalosa. Não busca seus próprios interesses..." 1 Cor 13,4-5
    E nestes termos, em especial, ela representa a mais pura amizade a Deus. São Tiago Menor avisava: "Todo aquele que quer ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus." Tg 4,4b
    Bem como representa uma inegável e moral virtude, pelo que se deduz das advertências de São Paulo: "Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós..." Ef 5,3
    Enfim, referindo-se à promiscuidade e sua exploração, este Santo magistralmente leciona: "Esta é a vontade de Deus: vossa santificação; que eviteis a impureza. Que cada um de vós saiba possuir santa e honestamente seu corpo, sem se deixar levar por desregradas paixões, como os pagãos que não conhecem a Deus. E que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já vos temos dito e asseverado. Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu Seu Espírito Santo." 1 Ts 4,3-8
    Ele exortava os coríntios: "Ou não sabeis que vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o Qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus em vosso corpo." 1 Cor 6,19-20


NATUREZA HUMANA E PERVERSÃO

    Durante o crescimento, é fato, o corpo humano passa por fases marcadas pela imperfeição e, às vezes, pelo pecado. Mas à falta de ambientes sadios e para romper de vez com a imaturidade e com a irresponsabilidade, o Último Apóstolo recomendava a São Timóteo algo extremamente simples: afastar-se, fugir: "Foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a Paz, com aqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22
    Também ensinou aos coríntios: "Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os membros de Cristo e fá-lo-eis membros de uma prostituta? De modo algum! Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra seu próprio corpo." 1 Cor 6,15.18
    São Pedro, da mesma forma, tem uma palavra, e muito inspirada, para a juventude: "Semelhantemente, vós outros que sois mais jovens, sede submissos aos Anciãos. Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua Graça aos humildes (Pr 3,34). Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no oportuno tempo. Confiai-lhe todas vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o Demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. O Deus de toda Graça, que vos chamou em Cristo à Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,5-10
    Pois nossos adolescentes e jovens têm direito a uma educação depurada de malícia e de maus exemplos, como Jesus reclamava: "Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!" Mt 18,7
    As crianças, especialmente, devem ser preservadas da despudorada libido, assim como da enorme e bestial indústria da pornografia. Em tom de grave ameaça, Jesus adverte: "Mas todo aquele que fizer cair em pecado a um destes pequeninos que creem em Mim, melhor seria que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e lançassem-no ao mar!" Mc 9,42
    E alerta que os Anjos da Guarda das crianças estão constantemente diante de Deus: "Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque Eu vos digo que seus anjos contemplam sem cessar a face de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 18,10
    Da mesma forma, segundo São Pedro, as mulheres devem ser exemplos de recolhimento para os maridos, o que certamente repercute para filhos e todos em volta. O natural pudor feminino, assim como a ternura, fortemente expressos na maternidade, devem ser cultuados como marcantes sinais dos dons de Deus: "Vós, também, ó mulheres, sede submissas a vossos maridos. Se alguns não obedecem à Palavra, serão conquistados, mesmo sem a Palavra da pregação, pelo simples procedimento de suas mulheres, ao observarem vossa casta e reservada vida. Não seja vosso adorno o que aparece externamente: trançados cabelos, ornamentos de ouro, elegantes vestidos. Mas tende aquele interior e oculto ornato do coração, a incorruptível pureza de um espírito suave e pacífico, o que é tão precioso aos olhos de Deus." 1 Pd 3,2-4
    São Paulo dizia algo parecido: "Porque o marido que não tem a fé é santificado por sua mulher; assim como a mulher que não tem a fé é santificada pelo marido que recebeu a fé. Do contrário, vossos filhos seriam impuros, quando na realidade são santos." 1 Cor 7,14
    Pois o que se vê são mulheres grotescamente desfiguradas pela cultura de promiscuidade, subjugadas ao vazio e à vulgaridade tipicamente masculina dos tempos atuais, tal qual nosso Santo vaticinava a São Timóteo: "Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um difícil período. Os homens tornar-se-ão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas negando-lhe a autoridade. Dessa gente, afasta-te! Deles fazem parte aqueles que jeitosamente se insinuam pelas casas e enfeitiçam mulherzinhas carregadas de pecados, atormentadas por toda espécie de paixões, sempre a aprender sem nunca chegar ao conhecimento da Verdade." 2 Tm 3,1-7
    Por isso, ele exortava os colossenses, em respeito à Graça de participar do Corpo Místico de Cristo: "Mortificai, pois, vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Triunfe em vossos corações a Paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único Corpo. E sede agradecidos." Cl 3,5-6.15
    Há, portanto, apenas três modos de viver a castidade: na virgindade, no Matrimônio ou no celibato. A virgindade é uma condição física e espiritual, que não há como ser mantida numa mente cheia de fantasias. Só uma vida de oração e comunhão espiritual pode preservar esse estado. Em geral, ela só se perpetua através de consagração religiosa. Não sendo essa a vocação, a Palavra de Deus recomenda expressamente o Matrimônio, e que assim se viva a castidade conjugal. Diz São Paulo: "... se não podem guardar a continência, casem-se." 1 Cor 7,9
    A importância da virgindade é demonstrada no livro do Apocalipse, pois as os virgens são vistos como Santos no Céu: "Estes são aqueles que não se contaminaram com mulheres, pois são virgens. São eles que acompanham o Cordeiro por onde quer que Ele vá. Foram resgatados dentre os homens, como primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Em sua boca não se achou mentira, pois são irrepreensíveis." Ap 14,4-5
    Nos primeiros anos da Igreja, quando o celibato ainda não era exigido dos Sacerdotes, São Paulo falava do são Matrimônio como essencial requisito à conduta de um bispo: "... deve saber bem governar sua casa, educar seus filhos na obediência e na castidade." 1 Tm 3,4
    Ora, como Jesus fez recordar, marido e mulher são uma só carne, e o Apóstolo dos Gentios argumentava: "A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence a seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor de seu corpo: ele pertence à sua esposa." 1 Cor 7,4
    O celibatário também vive a continência. É uma grande benção de Deus, a fina flor da devoção e do Sacerdócio, mas, infelizmente, o próprio Jesus já havia previsto a dificuldade e a incompreensão do mundo para com essa condição sexual: "Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda." Mt 19,12
    Deus até já havia prometido, através do Profeta Isaías, especial acolhimento aos estrangeiros eunucos no judaísmo, onde não era praticado: "Porque eis o que diz o Senhor: 'Aos eunucos que observarem Meus sábados, que escolherem o que Me é agradável e afeiçoarem-se à Minha Aliança, Eu darei na Minha Casa e dentro de Minhas muralhas um monumento e um nome de mais valor que filhos e filhas. Dá-lhes-ei um nome que jamais perecerá." Is 56,4-5
    Pois eles haviam sido repudiados nas assembleias pela lei mosaica: "O homem, cujos testículos foram esmagados ou cortado o viril membro, não será admitido na assembléia do Senhor." Dt 23:1
    Essa promessa foi mantida no Novo Testamento, e por moção do próprio Espírito Santo, quando um deles foi o segundo não judeu a ser batizado: "Ora, um etíope, eunuco, ministro da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos seus tesouros, tinha ido a Jerusalém para adorar. Voltava sentado em seu carro, lendo o Profeta Isaías. O Espírito disse a Filipe: 'Aproxima-te para bem perto deste carro.' Então Filipe começou a falar, e, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus. Continuando o caminho, encontraram água. Disse então o eunuco: 'Eis aí a água. Que impede que eu seja batizado?' Filipe respondeu: 'Se crês de todo coração, podes sê-lo.' 'Eu creio', disse ele, 'que Jesus Cristo é o Filho de Deus.'" At 8,27b-28.35-37
    Assim, o atual desrespeito por parte de religiosos quanto a essa condição é mero desconhecimento dos dons do Espírito Santo, como São Paulo havia alertado: "A respeito dos dons espirituais, irmãos, não quero que vivais na ignorância." 1 Cor 12,1
    E explica a falta que faz o Santo Paráclito: "... o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que devem ponderar-se." 1 Cor 2,14
    Ora, ele mesmo era celibatário: "Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa." 1 Cor 7,8.32b-33
    E quando Jesus afirmou a indissolubilidade do Matrimônio, os Apóstolos, considerando a importância de servir a Deus pelo veemente exemplo que tinham diante de si na Pessoa de Jesus, logo concluíram: "Seus discípulos disseram-Lhe: 'Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!'" Mt 19,10
    A castidade, pois, é a própria pureza de Cristo oferecida ao ser humano. São João Evangelista, celibatário por toda vida, vai categoricamente afirmar: "Todo aquele que n'Ele espera, purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 Jo 3,3
    Assim, contra a perversão de quaisquer dessas três condições, São Tiago Menor corrige: "... purificai vossos corações, ó homens de dupla atitude." Tg 4,8
    Ele acusa os reflexos de uma mundana vida: "Donde vêm as lutas e as contendas entre vós? Não vêm elas de vossas paixões, que combatem em vossos membros? Cobiçais, e não recebeis. Sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que desejais. Litigais e fazeis guerra. Não obtendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes vossas paixões." Tg 4,1-3
    E ataca: "Adúlteros, não sabeis que o amor do mundo é abominado por Deus?" Tg 4,4a
    Os seguidores da tradição de São Paulo também advertem: "Vós todos considerai o Matrimônio com respeito e conservai imaculado o leito conjugal, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros." Hb 13,4
    Já o Arcanjo São Rafael, em diálogo com Tobias, revelou nesta má conduta os poderes do inimigo: "O anjo respondeu-lhe: 'Ouve-me, e eu mostrá-te-ei sobre quem o demônio tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e entregam-se à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm entendimento. Sobre estes o demônio tem poder.'" Tb 6,16-1
    São Paulo, por outro lado, faz recordar nossa necessária crucificação: "Pois aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e os sensuais prazeres. Se vivemos pelo Espírito, também andemos de acordo com o Espírito." Gl 5,24-25
    Devemos, então, viver essa constante mortificação, todos dias como Jesus ensina: "Se alguém quer vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua Cruz e siga-Me." Lc 9,23
    Pois em nossa opção, de tomar a cruz ou não, estará a diferença está entre a morte e a Vida, como São Paulo prega: "De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer. Mas se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis..." Rm 8,13
    São Pedro também ensina: "Assim, pois, como Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento: quem padeceu na carne rompeu com o pecado, a fim de que, no tempo que lhe resta para o corpo, já não viva segundo as humanas paixões, mas segundo a vontade de Deus." 1 Pd 4,1-2
    E essas consequências não nos são assim tão estranhas, como vemos na reação do procurador da Judeia enquanto julgava o Último Apóstolo: "Mas como Paulo lhe falasse sobre a justiça, a castidade e o Futuro Juízo, Félix, todo atemorizado, disse-lhe: 'Por ora, podes retirar-te. Na primeira ocasião, chamá-te-ei.'" At 24,25
    Em oposição, por fim, aos que se deixam afeiçoar ao mundano comportamento, nosso Santo exorta à verdadeira conversão, à renovação espiritual: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
    E é do Levítico a frase que Jesus resgatou para chamar-nos à santidade, pois o próprio Pai determinou: "Vós santificar-vos-eis e sereis Santos, porque Eu sou Santo." Lv 11,44

    "Santificai-nos pelo dom de Vosso Espírito!"