domingo, 11 de junho de 2023

São Barnabé


    São Barnabé foi dos primeiros cristãos a vender seus bens para doá-los à nascente Igreja, então formada pela comunidade de Apóstolos, de discípulos e de seguidores em Jerusalém, logo após o Pentecostes: "A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas entre eles tudo era comum. Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos que possuíam terras e casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Repartia-se, então, a cada um deles conforme a necessidade. Assim José, a quem os Apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer Filho da Consolação, levita natural de Chipre, possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o valor dele, e depositou aos pés dos Apóstolos." At 4,32.34-37
    Autêntico judeu, porque levita como acima se lê, é provável que ele tenha sido um dos 72 discípulos enviados por Jesus, tempos após ter instituído os Doze Apóstolos e pela segunda vez anunciado Sua Paixão: "Depois disso, ainda designou o Senhor setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de Si, por todas cidades e lugares aonde Ele tinha de ir. Disse-lhes: 'Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para Sua messe. Ide! Eis que vos envio como cordeiros entre lobos.'" Lc 10,1-3
    De fato, a intimidade da qual ele usufruía entre os Apóstolos corrobora essa tese. São Lucas chega mesmo a chamá-lo de Apóstolo, e colocava-o à frente de São Paulo na missão em Licaônia, enquanto os maiores dons deste ainda não haviam aflorado: "Mas os Apóstolos Barnabé e Paulo, ao perceberem isso, rasgaram suas vestes e saltaram no meio da multidão." At 14,14
    Mas pouco mais tarde esse título seria restrito àqueles pessoalmente enviados por Jesus, ou seja, aos Doze, mas que inclui São Paulo, a quem Ele também apareceu e enviou, e ainda São Matias, que O acompanhou desde o Batismo até Sua Ressurreição, por Ele foi enviado entre os 72 e terminou escolhido para o lugar de Judas Iscariotes. O próprio São Paulo vai defender a restrição do uso do termo, ao questionar os fiéis: "São todos Apóstolos?" 1 Cor 12,29a
    Ele vai referir-se ao grupo deles como algo definido, além de ressaltar sua elevada deferência: "Porque eu sou o menor dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus." 1 Cor 15,9
    Segundo a Sagrada Tradição, São Barnabé já conhecia São Paulo desde quando eram alunos de Gamaliel em Jerusalém, antes mesmo do início da vida pública de Jesus. Ao ser preso na Cidade Santa, e antes de ser levado a Roma, o Último Apóstolo vai alegar: "'Irmãos e pais, ouvi o que vos tenho a dizer em minha defesa.' Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, escutaram-no com a maior atenção. Continuou ele: 'Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda observância da Lei de nossos pais, entusiasta partidário da causa de Deus como todos vós também o sois no dia de hoje.'" At 22,1-3
    Isso explica porque é ele quem vai apresentar à comunidade dos Apóstolos o até então temido Saulo de Tarso, um caçador de cristãos, quando este pela voltou primeira vez a Jerusalém após sua conversão: "Chegando a Jerusalém, tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se tivesse tornado discípulo. Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, que lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o Nome de Jesus." At 9,26-27
    Após São Pedro ter batizado os primeiros não-judeus em Cesareia Marítima, São Barnabé foi o especial enviado a Antioquia da Síria, terceira maior cidade do Império Romano, onde seus conterrâneos cipriotas haviam chegado e também pregaram aos não-judeus com grande sucesso: "A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém. Então enviaram Barnabé a Antioquia. Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a Graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, pois era um homem de bem, cheio do Espírito Santo e de . Assim uma grande multidão uniu-se ao Senhor." At 11,22-24


    É ele que vai perceber que Antioquia seria um fértil campo para São Paulo, dados os conhecimentos linguísticos destes, obra que iria torná-lo o 'Apóstolos dos Gentios', isto é, dos não-judeus. E nessa cidade os fiéis já não seriam mais divididos entre judeus ou não-judeus, conforme suas origens, mas tratados como cristãos: "Em seguida partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos." At 11,25-26
    Também é daí que vai sair a primeira coleta de doação, de uma cidade para outra, o que comprova o reconhecimento de todos cristãos para com a comunidade de Jerusalém como primeira sede da Igreja. Especial emissário, São Barnabé seguia sendo mencionado antes de São Paulo, o que atesta sua posição de liderança, ainda por essa ocasião, diante do futuro renomado Apóstolo: "Os discípulos resolveram, cada um conforme suas posses, enviar socorro aos irmãos da Judeia. Assim fizeram-no e enviaram-no aos Anciãos, por intermédio de Barnabé e Saulo." At 11,29-30
    Mas tão bem sucedidos foram eles em Antioquia, que para lá retornaram levando São Marcos, aquele viria a ser o autor do segundo Evangelho. E também aqui ele é citado precedendo São Paulo: "Tendo Barnabé e Saulo concluído sua missão, voltaram de Jerusalém (a Antioquia), consigo levando João, que tem por sobrenome Marcos." At 12,25
    Ora, nosso Santo chega a ser especialmente requisitado pelo próprio Santo Paráclito para uma nova missão, e outra vez à frente do Último Apóstolo: "Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: 'Separai-Me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado.' Chegados a Salamina, pregavam a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Com eles tinham João, para auxiliá-los." At 13,2.5
    Só a partir de então é que São Paulo começa a assumir o uso da Palavra, e vai ganhar destaque, pois os dois começam a desistir da conversão dos judeus, e assim, sem os idiomas e pelo decisivo tino de São Paulo, significativamente cai a liderança de São Barnabé. Eles pronunciaram-se numa sinagoga em Antioquia da Pisídia: "Então Paulo e Barnabé resolutamente disseram-lhes: 'Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a Palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e julgai-vos indignos da Vida Eterna, eis que nos voltamos para os não judeus.'" At 13,46


    Depois que São Paulo curou um aleijado em Listra, e por isso instalou-se uma grande agitação entre os gregos, São Lucas vai chamá-los de Apóstolos, como vimos, e ainda uma vez colocando-o à frente de São Paulo, mas agora por força da percepção da própria população: "Chamavam a Barnabé Zeus e a Paulo Hermes, porque era este quem dirigia a Palavra. Mas os Apóstolos Barnabé e Paulo, ao perceberem isso, rasgaram suas vestes e saltaram no meio da multidão." At 14,12.14
    Ao retornarem a Antioquia da Síria, entretanto, surgiu uma polêmica entre os convertidos: os judeus queriam obrigar os não-judeus a adotar circuncisão. E os dois companheiros são enviados ao Primeiro Concílio de Jerusalém, fato que também comprova, desde sempre, a centralização da autoridade da Igreja para resolver questões da Sã Doutrina: "Originou-se, então, grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar desta questão com os Apóstolos e os Anciãos em Jerusalém." At 15,2
    Após a decisão desse Concílio, pelo voto dado por São Pedro e acolhido por São Tiago Menor, que desobrigava os cristãos de tal costume judeu, os próprios São Barnabé e São Paulo são os nomeados para comunicar a resposta à comunidade de Antioquia. E pela última vez, dado a sensibilidade do assunto e a quantidade de judeus nesta cidade, nosso Santo será nomeado à frente do Grande Apóstolo: "Assim nós reunimo-nos e decidimos escolher delegados e enviá-los a vós, com nossos amados Barnabé e Paulo..." At 15,25
    E finda essa missão, ao planejarem revisitar as comunidades onde pregaram, após uma grande discussão eles tomaram diferentes caminhos pela primeira vez. É nessa ocasião em que o primeiro nomeado Apóstolo, sem ainda o ser, retorna à sua terra natal na condição de seguidor de Jesus e pregador do Evangelho: "Barnabé também queria levar consigo João, que tinha por sobrenome Marcos. Paulo, porém, achava que não devia ser admitido quem deles se tinha separado em Panfília, e não os havia acompanhado no Ministério. Houve tal discussão que se separaram um do outro, e Barnabé, consigo levando Marcos, navegou para Chipre." At 15,37-39
    Essa intriga, porém, não perdurou. Mais tarde, São Paulo vai reconhecer a suma importância do Evangelista para o ofício da Palavra, como escreveu a São Timóteo: "Contigo traze-me Marcos, pois ele é-me muito útil para o Ministério." 2 Tm, 4,11
    E ao ser preso pela primeira vez, São Paulo recebe em Roma a visita de São Marcos e deixa o registro que o identifica como primo de São Barnabé: "Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé, a respeito do qual já recebestes instruções. Se este for ter convosco, acolhei-o bem." Cl 4,10
    São Paulo tanto admirava a São Barnabé que estranhou quando em Antioquia ele veio a 'dissimular' junto a São Pedro, que estaria induzindo os pagãos convertidos a tomar refeições ao modo dos judeus. Mas o Príncipe dos Apóstolos apenas evitava precipitar-se nessa questão, gerando outra e desnecessária polêmica como foi a da circuncisão. Visando manter-se em Comunhão com uns e outros, na ausência dos judeus de Jerusalém, de fato, ele tomava refeições com os não-judeus. O jovem São Paulo, porém, impulsivamente agia. Ele, sim, queria obrigar os judeus a aceitar de imediato os modos dos não-judeus, e por isso disse da atitude de São Pedro: "Os demais judeus convertidos seguiram-lhe a equívoca atitude, de maneira que mesmo Barnabé foi levado por eles a essa dissimulação." Gl 2,13
    Por não ter alimentado intriga com São Paulo, nem entre ele com São Marcos ou com São Pedro, e por tê-lo conduzido aos Apóstolos após sua conversão, São Barnabé é considerado o padroeiro dos pacificadores. No Sermão da Montanha, Jesus havia dito: "Felizes aqueles que promovem a Paz, porque serão chamados filhos de Deus." Mt 5,9
    A Sagrada Tradição diz que, por força de seu glorioso Ministério, ele morreu por apedrejamento no ano de 61, em Salamina, na atual República Turca de Chipre do Norte, sua terra natal, onde foi sepultado. Aí, no monastério que leva seu nome, são veneradas, além de sua sepultura num mausoléu, suas relíquias.


    São Barnabé, rogai por nós!