domingo, 12 de novembro de 2023

A Comunhão dos Santos


    A Comunhão Eucarística, isto é, o Sacramento do Pão e do Vinho, verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo, simboliza, além de nossa perfeita união com Deus, nossa vida em plena união com nossos irmãos em Cristo. Assim formamos a Igreja, que vive três estágios: a Igreja itinerante, nós na Terra; a Igreja santificante, os mortos no Purgatório; e a Igreja glorificante, aqueles que já contemplam a face de Deus, junto a Seus anjos.
    Pois foi pela Igreja que Jesus Se ofereceu em Sacrifício, para que pudéssemos comungar das coisas de Deus: santidade, eternidade e divindade. São Paulo escreveu aos efésios: "Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível." Ef 5,25-27
    E é isso que a Igreja é: a Comunhão dos Santos. E Santos são os verdadeiros fiéis, todos eles, não apenas os canonizados, isto é, aqueles que com certeza a Igreja pode afirmar que já estão nos Céus. Jesus disse de Sua Paixão e de Sua Missão: "E quando Eu for levantado da terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
     E expressamente falou dessa Comunhão, dizendo de Sua Ressurreição: "Naquele dia, conhecereis que estou em Meu Pai, vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    Como representação da própria Unidade entre os cristãos, a Igreja sempre respirou a Comunhão. Com os Apóstolos, enquanto ainda era um pequeno grupo, todos reuniam-se num mesmo lugar para comungar dos Sacramentos, pois àquele tempo eram celebrados conjuntamente o Arrependimento, o Batismo, a Unção dos Enfermos e a Ação de Graças através da Comunhão Eucarística: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações." At 2,42
    Por isso, tão frequentemente São Paulo exorta à Comunhão da , pois não há como nos tornarmos Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo, sem que vivamos essa Unidade: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,11
    Os carismas, portanto, são dádivas para que sirvamos à comunidade de fé, como ele escreveu aos coríntios: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito." 1 Cor 12,7
    E a finalidade última de nossas vocações é o fortalecimento da Igreja, que, depois da Hóstia Consagrada, é a segunda representação do Corpo Místico de Cristo: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Ele argumenta: "Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,12-13
    E na Carta aos Colossenses, falando do Cristo, ele denuncia: "Ele é a Cabeça do Corpo, da Igreja. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu materialista espírito, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo o Corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus." Cl 1,18;2,18b-19
    Assim, na Pessoa de Jesus e pela ação do Santo Paráclito é edificada a Igreja, conforme vemos nesse extrato da Carta aos Efésios: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um Templo Santo no Senhor. É n'Ele que também vós entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,19-22
    Porque através do Sacramento do Batismo se inicia nossa nova vida espiritual, caminho a ser percorrido até o Dia da Ressurreição. O Último Apóstolo diz aos filipenses: "Nós, porém, somos cidadãos dos Céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante a Seu Corpo Glorioso, em virtude do poder que tem de a Si sujeitar toda criatura." Fl 3,20-21
    Quanto à caridade, ou seja, a comunhão espiritual, o ser Igreja é a expressão maior do 'Amai-vos uns aos outros'. Ele adverte os romanos dessa unidade que formamos em Cristo: "Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor." Rm 14,7-8
    Com absoluta pertinência, São Paulo via-nos como partes uns dos outros: "... para que não haja dissensões no Corpo, e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros. Se um membro sofre, com ele padecem todos membros; e se um membro é tratado com carinho, por ele congratulam-se todos outros. Ora, vós sois o Corpo de Cristo, e cada um, de sua parte, é um de seus membros." 1 Cor 12,25-27
    E assim, desde os primeiros anos, até as propriedades eram partilhadas entre os fiéis. Era a comunhão de bens, que mais tarde foi adotada pelas leis que regulam o Matrimônio: "A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo era comum entre eles." At 4,32
    Os Apóstolos viviam, portanto, em profunda comunhão espiritual entre si, e davam exemplo, como registrou São Paulo na Carta aos Gálatas: "Reconhecendo a Graça que me foi dada, Tiago, Pedro e João, considerados as colunas da Igreja, deram-nos a mão, a mim e a Barnabé, como sinal de nossa recíproca comunhão. Assim ficou confirmado que nós iríamos aos pagãos, e eles, aos judeus." Gl 2,9
     Ora, ele combatia as dissensões dentro da Igreja: "Fiel é Deus, por Quem fostes chamados à comunhão de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor. Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento." 1 Cor 1,9-10
    Ele tinha bem claro que esse é o projeto do Pai: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência desde sempre formara, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de em Cristo reunir todas coisas: as que estão nos Céus e as que estão na terra." Ef 1,9-10
    E particularmente pedia pela fiel e total observância da Palavra de Deus para dirimir diferenças, como escreve aos colossenses: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que possais mutuamente instruir-vos e exortar-vos com toda Sabedoria." Cl 3,16a
    São João Evangelista também insistia nessa Unidade. Queria os fiéis em comunhão com os Apóstolos, Bispos, Presbíteros e Diáconos: "... o que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,3
    Ele repetia a importância da Comunhão dos Santos, vale dizer, entre todos fiéis: "Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos recíproca comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,7
    São Paulo também defendia essa impreterível união através da Igreja, como diz a São Timóteo"... busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a Paz, em companhia daqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22b
    E lembrando a iminência seja do Juízo Particular, seja do Juízo Final, os seguidores de sua tradição impertinentemente não viam perdão para os dissidentes: "Não abandonemos nossa assembleia, como é costume de alguns, mas mutuamente admoestemo-nos, e tanto mais quando vedes aproximar-se o Grande Dia. Depois de termos recebido e conhecido a Verdade, se voluntariamente a abandonarmos, já não haverá sacrifício para expiar este pecado. Só teremos que esperar um tremendo juízo e o ardente fogo, que há de devorar os rebeldes." Hb 10,25-27
    O próprio Apóstolo dos Gentios, em condenação a todo dissenso, pede constante renovação e santidade: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas ideias. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza. Renovai sem cessar o sentimento de vossa alma, e revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,17-19.23-24
    Ele recomenda: "Nós, que somos os fortes, devemos suportar as fraquezas dos que são fracos, e não agir a nosso modo. Cada um de vós procure contentar o próximo, para seu bem e sua edificação." Rm 15,1-2
    De fato, essa é a marca da Igreja, como Jesus afirmou: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    E assim prometeu ser o Elo desta união: "Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de Meu Pai que está nos Céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu no meio deles." Mt 18,19-20
    São Tiago Menor, ao falar dos Sacramentos, recomenda que apenas os Sacerdotes da Igreja sejam invocados para este ministério: "Está alguém enfermo? Chame os Sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em Nome do Senhor." Tg 5,14
    No mesmo sentido, São Paulo veementemente repudia que os membros da Igreja se deixem instruir por pessoas estranhas: "No entanto, quando tendes contendas desse gênero, escolheis para juízes pessoas cuja opinião é tida em nada pela Igreja." 1 Cor 6,4
    Inspirado, ele sabia que esta unidade era obra do Espírito de Deus, cunhando uma frase que o Sacerdote repete no início da Santa Missa: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    E que Cristo, Autor da fé, jamais abandona Sua Igreja, como Ele mesmo garantiu: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo.'" Mt 28,20b
    Assim também o Divino Paráclito: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dar-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    É na comunhão do Espírito Santo, portanto, que intercedemos uns pelos outros. A Igreja glorificante, que já vê Deus face a face, não mais precisa de intercessão. Mas nós, que ainda estamos aqui, e as almas que estão purificando-se no Purgatório precisamos da intercessão uns dos outros e da dos Santos, os canonizados e os que estão nos Céus. Por isso, São Paulo rezava apontando os diferentes estágios da família de Deus: "Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao Qual deve sua existência toda família no Céu e na terra..." Ef 3,14-15
    E recomendava essa atitude como prática de piedade: "Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões, ação de graças, por todas pessoas..." 1 Tm 2,1


    Aliás, com frequência ele referia-se à Igreja itinerante como os 'Santos', termo hoje restrito ao Papa e aos canonizados: "Com toda sorte de preces e súplicas, orai constantemente no Espírito. Prestai vigilante atenção neste ponto, intercedendo por todos santos." Ef 6,18
    Sabia que grandes Graças são alcançadas pelas intercessões: "... com a ajuda de vossas preces em nossa intenção. Assim, a Graça que alcançarmos pela intercessão de tantas pessoas será, para essas pessoas, motivo de ação de graças a nosso respeito." 2 Cor 1,11
    Por fim, fica a bela e reconfortante lembrança da oração de Jesus, pedindo ao Pai que a Igreja esteja sempre onde Ele estiver. É lá, junto a Ele, que estão os Santos canonizados, mas também os não canonizados, cuja história só Deus e pessoas mais próximas conheceram, assim como aqueles que já foram purificados no Purgatório. Eles 'não cessam de interceder por nós': "Pai, aqueles que Tu Me deste, quero que eles estejam Comigo, onde Eu estiver, para que contemplem a Glória que Me deste, pois Me amaste antes da criação do mundo." Jo 17,24
    São João, mais longevo dos Apóstolos, viveu o bastante para confirmar o sucesso dessa oração de Jesus. Em suas visões, ele registrou o cântico dos quatro Seres e dos vinte e quatro Anciãos no livro do Apocalipse: "Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado, e com Teu Sangue adquiriste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para Nosso Deus um Reino de Sacerdotes. E eles reinarão sobre a terra." Ap 5,9-10
    Ou seja, os Santos já estão reinando, como Jesus prometeu: "Então ao vencedor, ao que praticar Minhas obras até o fim, dá-lhe-ei poder sobre as pagãs nações. Ele regê-las-á com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila, assim como Eu mesmo recebi o poder de Meu Pai." Ap 2,26-28a
    De fato, foi exatamente isso que São João Evangelista atestou, explicando também a condição dos que ainda estão no Purgatório: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e todos aqueles que não tinham adorado a Fera ou sua imagem, que não tinham recebido seu sinal na fronte nem nas mãos. Eles viveram uma Nova Vida e com Cristo reinaram por mil anos. Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos." Ap 20,4-5a
    Citando a Comunhão da Santíssima Trindade, Jesus mesmo explicou como acontecia a intercessão feita pelos Santos da Igreja. Nossos pedidos são feitos ao Pai, em Seu Nome, e pelo próprio Pai são atendidos: "Naquele dia pedireis em Meu Nome, e já não digo que rogarei ao Pai por vós. Pois o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e crestes que saí de Deus." Jo 16,26-27
    E como Aquele que veio reunir até as ovelhas perdidas, não se pode duvidar do sucesso de Sua Missão: "Eu sou o Bom Pastor. Conheço Minhas ovelhas e Minhas ovelhas conhecem a Mim, como Meu Pai Me conhece e Eu conheço o Pai. Dou Minha Vida por Minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Também preciso conduzi-las. Ouvirão Minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,14-16
    Porque desde Sua passagem entre nós, para que se realize esta comunhão espiritual, Ele derramou Sua Glória sobre a Igreja: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23


    O Catecismo da Igreja ensina:
    "Na Comunhão dos Santos, 'entre os fiéis já admitidos na posse da celeste pátria, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, certamente existe um laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos bens (São Paulo VI, Indulgentiarum Doctrina).' Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade dos outros, para muito além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à Comunhão dos Santos permite ao contrito pecador ser purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
    Esses bens espirituais da Comunhão dos Santos também são chamados o tesouro da Igreja, 'que não é uma soma de bens, comparáveis às materiais riquezas acumuladas no decorrer dos séculos, mas é o infinito e inesgotável valor que junto a Deus têm as expiações e os méritos de Cristo, Nosso Senhor, oferecidos para que toda humanidade seja libertada do pecado e chegue à Comunhão com o Pai. É em Cristo, Nosso Redentor, que em abundância se encontram as satisfações e os méritos de Sua Redenção.' (Cf. Hb 9,11-28;7,23-25)" CIC § 1475-1476

    "A todos saciai com Vossa Glória!"